Família

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 Uma semana já havia se passado e Mariana refletia sobre sua descrença com os resultados dos produtos da Mitchs. O primeiro a surpreendê-la foi o paciente Carlos Martins, um idoso desconfiado como qualquer um, que relatou de forma jovial como os comprimidos efervescentes de vitamina B que tomou foram os melhores de toda a sua vida. Ele e os outros poucos pacientes relataram de forma quase devota os efeitos dos produtos. A jovem nutricionista se questionou a precedência dos produtos, pesquisou em sites, verificou os componentes, investigou a empresa que os fabrica, chegou a até mesmo a consultar outros nutricionistas perguntando se já tinham ouvido falar da marca dos produtos. Tudo que obteve foi um grande nada, sem incidentes suspeitos e ingredientes anormais, "sem riscos à vista então...", falava sozinha enquanto encarando a parede do consultório, "Mesmo assim... Se eu disser que isso não é estranho eu seria uma idiota. Aquele lugar, Marcelo, os pacientes parecem doidos quando falam dos produtos! Quer saber? Não! Consigo me virar sem os produt...", quando ia concluir seu monólogo solitário José abriu a porta e entrou na sala com tanta rapidez que a assustou.

— José? O que aconteceu? — perguntou virando a cadeira giratória para a direção dele.

— Mariana! Temos uma paciente nova! Ela vai vir às 15:00! — exclamou ele com olhos animados.

— Finalmente, boas notícias! — "Eu sabia! Não preciso dos produtos daquele vendedor arrogante, só preciso fazer meu trabalho, só isso!", pensou orgulhosa de si.

— É uma senhora chamada Cleusa. Ela é amiga do Carlos Martins. Disse que nunca o viu tão feliz.

— Amiga do Carlos?

— Sim! Aliás, ela perguntou dos produtos que ele usa e disse que quer os mesmos. Não sei onde arrumou, mas acho que seria uma boa ideia vender mais, talvez a gente consiga mais pacientes!

— Claro! Vou ver com o fornecedor... — "Merda! Eu não sou nada aqui? Como que apenas em uma semana um frasco de vitamina B faz um efeito desses?".

— Você está bem? — perguntou preocupado frente a expressão fria de Mariana.

— Estou! Vamos torcer para que consigamos mais.

 Ele saiu a deixando a sós com o óbvio sucesso que os produtos Mitchs poderiam a dar. "Talvez isso seja um golpe, posso chegar lá e ter que pagar muito caro. Duvido que outro lugar queira fazer negócios com alguém que está quebrada como eu...", Mariana refletia até que foi interrompida pelo toque escandaloso de mensagem de seu celular. Rebeca, sua irmã mais nova, a mandou um texto a chamando para ir a uma famosa padaria da cidade, a Dádiva Açucarada, um passeio que concordou de bom grado para sair de seu quase falido consultório.

 Quando Mariana chegou sua irmã já estava lá a sua espera, Rebeca, tão bela como sua irmã, vestia uma saia verde claro, uma camiseta preta e salto alto verde escuro. Elas já eram frequentes no lugar, seus pais a levavam lá desde que eram crianças, tendo inclusive um "cantinho favorito", uma mesa mais afastada onde podiam ver todo o restaurante e seus diferentes clientes indo e vindo.

— Sempre desfilando né? Vem cá, fala a verdade, você imagina um tapete vermelho quando entra nos lugares? — falou Rebeca com alegria enquanto se levantava da cadeira de madeira.

— Essa é você irmãzinha, o que eu imagino é uma passarela com diversos paparazzis! — Mariana respondeu, feliz em ver sua irmã de bom humor e as duas se abraçaram.

— Estava com saudades! Faz tempo que você não aceita meus convites. Espero que não se importe, já pedi o nosso croissant de ricota com espinafre.

— Sempre pedindo o do bom e do melhor, muito bem! Bom, não aceitei os outros convites porque minha vida está um pouco bagunçada Beca, só isso.

— Poucos pacientes ou pacientes rebeldes? — Ela falou, colocando os cotovelos na mesa e a admirando com adorável interesse.

Sucesso Caótico(Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora