Conflito

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– James, eu te odeio!

A voz de Oliver ecoou pelo corredor logo depois de uma batida de porta. James apenas ignorou, afinal era a terceira vez que ele gritava aquilo depois que saiu do banheiro. Antes, ele tinha feito isso outras tantas vezes que ele perdera a conta.

Quando Oliver ia ao banheiro, minutos antes, James o empurrou com telecinese e, se aproveitando que o irmão menor não enxerga, correu em sua frente para escovar os dentes. O menino foi para o banheiro da mãe depois disso. Agora, já na cozinha preparando a comida, James olha para Oliver descendo as escadas. O menino é irritantemente igual ao pai. Os mesmos olhos grandes, o queixo pontudo e o cabelo preto liso. Isso só fazia James se lembrar da pessoa mais importante que já existiu para ele: Lionel Hudson.

Que o Oliver tirou de mim.

Os passos rápidos e descalços do menino pelo piso de madeira deixaram James ainda mais zangado. Ele sabia que Lorene não gostava quando Oliver corria pela casa. Já tinha se machucado várias vezes fazendo isso. O garoto de dez anos surgiu colocando primeiro a mão direita no sofá, tateando a mobília até a cozinha. Ele conhecia muito bem a casa e não precisava fazer aquilo, contudo andava muito rápido e estava muito nervoso.

– Você sabe que a mamãe não gosta quando você corre pela casa – disse James terminando de assar as torradas.

– E você sabe que ela não gosta quando você usa seus poderes comigo! – esbravejou o garoto.

James deu um sorriso de canto de boca ao se lembrar do menino deslizando pelo piso no corredor. Ele virou-se para continuar a preparar a comida enquanto o irmão sentava-se à mesa. James tinha vinte e um anos. Poderia já estar morando sozinho, tendo sua própria vida, mas resolveu ajudar sua mãe, que trabalhava bastante fora de casa. Para evitar que ela tivesse despesas maiores, quis permanecer ao seu lado. Porém, sempre que tinha que cuidar do irmão, se arrependia amargamente da decisão tomada.

O telefone tocou e James já sabia quem era. Oliver levantou a cabeça rapidamente, como se também soubesse. Lorene havia saído assim que o sol despontou no céu. Nem ela nem James haviam dormido bem àquela noite, afinal, Chicago havia sido sacudida por um forte tremor de terra, algo que não era nada comum. Não havia relatos recentes daquele tipo de fenômeno na região, o que levava a crer que a causa do incidente da noite passada não era natural.

– Oi mãe – atendeu James.

– Eu quero falar com ela! – disse Oliver, emburrado.

– Cala a boca, moleque! Pode falar, mãe.

– O que aconteceu, James? – perguntou Lorene, com a sutileza de sempre, mas, ao mesmo tempo, preocupada com as constantes brigas entre os filhos.

– Não foi nada. Pode falar – James segurou o celular entre o rosto e o pescoço. Os fones de ouvido estavam no seu quarto no andar de cima e não queria colocar no viva-voz para Oliver não gritar histericamente.

– Mãe, o James usou os malditos poderes dele em mim de novo! – Oliver gritou histericamente.

Irritado, James olhou para o irmão e esbravejou:

– Eu já mandei você calar a boca!

– James, meu filho – a voz do outro lado era calma e doce, contrastando com o clima de guerra dentro da casa. – Parece que a criança aí é você. Ele só tem dez anos. Seja paciente com o Ollie.

James suspirou. Coçou a barbicha e olhou para o irmão que, de braços cruzados, segurava o choro.

– Tá. Agora me fala sobre o local do terremoto. Algo que possa compartilhar?

Sob o Mesmo CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora