Perseguição

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De volta em casa, Scott fechou a porta atrás de si e respirou fundo. Espremeu os olhos, tentando não chorar. Porém uma lágrima caiu de seu olho direito enquanto fechava o punho tentando controlar a crise de ansiedade. Caminhou pela sala, largando a chave sobre a mesa de centro. Sua respiração estava descontrolada. À esquerda, as escadas o convidavam para refugiar-se em seu quarto mais uma vez. Era o único lugar no mundo onde ele se sentia bem. E foi naquela direção que seguiu.

Não se lembrava de muita coisa a partir dali, apenas que estava deitado sobre a cama, com o travesseiro cobrindo seu rosto e abafando os gemidos de seu choro. Temia que alguém chegasse em casa e pudesse ouvir.

Quem?

O pai frio e distante que fazia dele apenas um troféu para exibir aos amigos, mostrando o quão inteligente e estudioso ele era? Aquele que fingia ser um exímio pai de família, dedicado e responsável, que provia tudo e cuidava da casa? Esse homem que se fazia de bom para todo mundo na verdade traía a esposa com a vizinha da casa no fim da rua.

Ou sabe apareceria a mãe narcisista e controladora, que mentia e se fazia de vítima enquanto também traía o marido com o amigo de infância dele?

Aquelas duas pessoas não estavam por pertp. E quando chegassem, sequer se interessariam em saber como foi seu dia ou como ele estava se sentindo. Scott se perguntava em quantos dias seus pais descobririam que ele não estava mais em casa se fugisse. Eles sentiriam sua falta? Ou se sentiriam aliviados e, enfim, livres para se separarem e viverem suas próprias vidas?

A única pessoa que ele confiava e que lhe dava segurança era Danielle, sua namorada.

Ex-namorada.

Afinal, Scott tinha visto ela beijando Bob, melhor amigo dele.

Um instante de silêncio se fez. Seu choro parou e a respiração pesada foi se atenuando, dando lugar a uma assustadora calmaria. Ele abriu os olhos e se esforçou para levantar-se. Não sabia por quanto tempo tinha ficado ali chorando, se minutos ou horas. Não importava. Logo quando ele tinha descoberto algo sensacional, que estava louco para mostrar a Bob.

De repente, dias atrás, ele descobriu que, estranhamente, podia criar clones de seu próprio corpo, dividindo a consciência com quantos pudesse fazer. Aquilo foi maluquice demais. Ele tinha conseguindo fazer mais sete iguais a ele antes de ficar exausto e parar. Porém as mentes de todos estavam ligadas, como se fossem uma só. Apesar de achar que era loucura demais, sentia que tudo era muito legal. Enfim algo interessante com o que ele poderia se animar. Quando ligou para Bob contando que tinha algo para contar, decidiu ir até a casa de Danielle para mostrar a ela também, enquanto o amigo lhe dissera que estava resolvendo algumas coisas e que chegaria em casa no fim da tarde e, aí, eles poderiam se encontrar.

Só nem Scott nem ninguém imaginaria que Danielle estaria aos beijos com Bob ao lado da casa dela, no parque dera o primeiro beijo com Scott. Lógico que ele perdeu o controle. Foi até onde os dois estavam, acertou alguns socos em Bob logo que ele abriu a boca para tentar se justificar e gritou para Danielle que não queria vê-la nunca mais.

E voltou para casa.

Ding dong.

Hora errada para alguém tocar a campainha. Se ficasse em silêncio, iriam embora. Era sempre assim.

Ding dong.

Quem estava na porta não tinha muita paciência de esperar. Ele odiava gente assim. Sentado na cama, esperava que a pessoa lá embaixo desistisse.

Toc, toc, toc.

– Será que não posso ter paz?

Ele pensou em tirar os sapatos e calçar as sandálias antes de descer, mas as batidas na porta ficavam cada vez mais fortes. Ele apressou-se, temendo ser algo urgente, talvez algum vizinho precisando de ajuda.

Ele desceu as escadas e foi até a sala. Abrindo a porta, Scott deparou-se com uma jovem de cabelos negros e lisos, perfeitamente linda, com um sorriso que o hipnotizou.

Estou sonhando? De onde ela veio?

– Oi. Você é o Scott, certo?

– S-sim – gaguejou ele. Ela é real?

Suas dúvidas foram sanadas quando ela deu dois passos para dentro de casa, parando seu rosto a poucos centímetros do rosto dele. Imóvel, Scott imaginou que era algum tipo de brincadeira. Ela levantou a mão direita. Ele esperou que a mão repousasse em seu rosto, mas, na verdade, foi até sua garganta e o apertou.

– Você tem duas escolhas – disse ela pressionando a mão com ainda mais força em seu pescoço e empurrando-o para dentro, fechando a porta em seguida. – Vir conosco por bem ou por mal.

Scott foi jogado o chão, caindo ao lado do sofá. Rastejou para trás enquanto tentava recuperar o fôlego.

– Quem é você? – quis saber ele.

A garota abaixou-se e, sorrindo, abriu a palma da mão direita, de onde surgiu uma esfera brilhante.

– Sua aliada ou sua inimiga. A escolha é sua.

Scott agiu rapidamente, chutando a barriga da oponente com a perna esquerda. Contudo o golpe não foi tão forte como ele imaginava, já que ela apenas tombou para trás, mas não caiu. Ele levantou-se e tentou correr. Antes disso, viu a pequena esfera que estava na mão da garota rolando ao lado de seus pés. Ele parou, curioso, tentando ver do que se tratava. Aquilo explodiu, jogando seu corpo ao lado da escada. Ele não teve tempo de pensar em mais nada, pois perdeu o contato visual com a sala de estar. A cópia que ele criara tinha desaparecido.

Droga!

Levantando-se da cama, ele abriu a janela do quarto enquanto ouvia os passos apressados subindo as escadas.

– Não pode fugir de nós – dizia a voz feminina que vinha de fora do quarto.

Scott se duplicou outra vez, colocando sua cópia na escada para lutar com ela enquanto pensava em uma maneira de escapar. Viu que não tinha outra opção a não ser sair pelo telhado, então ele pôs o primeiro pé para fora da janela, escorregando seu sapato. Quando virou para trás, encontrou a invasora na porta. Ela já tinha cuidado da outra cópia e ele nem tinha percebido. Era tarde para voltar atrás. Então ele decidiu se jogar para fora, escorregando de forma desajeitada pelo telhado e rolando até cair sobre os arbustos no jardim na frente de casa. Não se importou com os arranhões ou com a dor nas costas. Levantou-se mancando e encontrou um rapaz de corpo robusto e corte militar correndo em sua direção.

Para seu desespero, quando tentou fazer mais cópias de si, seus poderes não funcionavam mais. Não sabia o porquê aquilo acontecera justamente naquela hora, mas não era tempo para parar e pensar sobre isso. Ele correu pela rua, sentindo dores por todo o corpo enquanto era perseguido pelo rapaz que se aproximava rapidamente, correndo de maneira frenética. Seria questão de tempo até ele alcançá-lo. Não havia ninguém na rua para pedir socorro. Imaginou que parar na casa de algum vizinho, batendo na porta seria tolice. Ninguém abriria. Estariam tão assustados quanto ele. Foi quando um carro sedan preto cruzou a rua e parou bem em sua frente, forçando-o a se jogar sobre o capô para não se machucar gravemente. Rolando pelo outro lado, viu quando a porta do motorista se abriu e outra pessoa saiu. Não conseguia reconhecê-lo, mas era um homem jovem, branco e careca. Ele chegou perto de Scott, abaixou-se e disse:

– Melhor não tentar fugir. A Corporação sempre vai te encontrar.

Sob o Mesmo CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora