Viajante

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Chicago, Illinois. Dois anos no futuro.

O esgoto da cidade era frio e úmido. Ratos passeavam em sua tranquilidade quando tiveram sua quietude encerrada e passaram a fugir apressadamente ao ouvir passos ecoando pelos túneis. Pés pisando sobre as poças de água numa corrida desesperada rumo a algum lugar. Eddie e Richard passaram por mais um setor e não viam a hora de sair dali, pois o mau cheiro estava se tornando cada vez mais forte. Eles não estavam sozinhos, mas os homens que os perseguiam não sabiam disso. Richard olhou rapidamente para os pés, para os sapatos cheios de água suja, assim como a barra da calça. Os ratos eram afugentados pelos passos agoniados dos dois que corriam dentro do labirinto de túneis do esgoto, de onde só conseguiam ver bichos peçonhentos, água podre e canos e mais canos de tubulação. Vestidos de preto, os perseguidores corriam portando armas de fogo. Há muito tempo eles trocaram as armas com tranquilizantes. O grupo havia se dividido e agora todos se espalharam para encontrar os alvos com mais facilidade.

Tiros de metralhadora foram disparados na direção dos fugitivos. Depois do estampido, puderam ouvir alguma coisa sendo atingida. Alguém soltou um gemido de dor antes que o disparo chegasse a atingir Eddie que parou de correr na hora. Richard não teve outra opção a não ser fazer o mesmo. A imagem de uma pessoa antes invisível apareceu tombando no chão. Desesperado, Eddie gritou de raiva, expelindo todo seu sentimento de raiva em um ataque, desarmando o inimigo que os tinha alcançado.

– Veja o que você fez! – gritou Eddie com a mão esquerda erguida. O soldado foi paralisado. Seus óculos molhados pelos respingos da água do esgoto não o impediram de ver o pavor na face de seu oponente.

À medida em que ele fechava a mão, a garganta do soldado também parecia se fechar fazendo com que ele perdesse a respiração de forma agoniante. O ar fugia de seus pulmões como água que vaza por um cano. Os olhos do soldado se arregalaram e ele pôs as duas mãos na garganta como se pudesse ajudar a abrir uma passagem para o ar.

– Eddie, pare! – Richard tentou deter o colega, segurando seu braço direito.

– Me larga! Ele vai pagar pelo que fez! – replicou Eddie, alterado, soltando-se. Os olhos se enchiam de lágrimas num misto de tristeza e raiva.

– Você não pode fazer isso. Você não é assim!

– Não era – Eddie encarava o soldado com extrema frieza. Por um momento, Richard notou um olhar diferente no companheiro de batalha. – Eles me fizeram mudar. Essa guerra me fez mudar!

– Só que você não é um assassino não, cara! Nunca foi!

Richard gritou as palavras que fizeram Eddie parar e refletir, abaixando a cabeça por um momento, ainda segurando o soldado, enquanto se perdia em seus pensamentos. Lembrou-se de que, até poucos meses antes, não era capaz de matar um inseto, porém, agora, enforcava um homem até a morte. Inimigo ou não, era uma pessoa. A possibilidade de perder o seu melhor amigo afetou-o drasticamente, a ponto de se transformar em alguém que não desejava ser.

Em um gesto de compaixão, Eddie soltou o soldado que, desesperado, correu na direção contrária, se esquecendo até da arma que ficou largada no chão. Os gemidos de pavor, como de uma presa fugindo de seu predador, ficavam cada vez mais distantes enquanto Eddie contemplava Alan caído no chão, imóvel. Richard se encontrava atrás dele, apenas esperando que o amigo dissesse algo.

– Ele tá morrendo – disse Eddie. – Não sei se conseguimos chegar a tempo para salvá-lo. Tá um caos lá fora. Os soldados estão à nossa procura e a batalha deve estar longe de encerrar.

– Eu posso nos teleportar.

– Até onde? Nem sabemos direito para onde ir. Mesmo que levemos ele para fora, seremos alvos fáceis.

Sob o Mesmo CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora