Desaparecimentos

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A fraca luz da alvorada entrou pela cortina semiaberta do quarto de Lorene. Soltando um suspiro, ela espreguiçou-se antes de abrir os olhos. Não acredito que já amanheceu, pensou ela. Pegou o celular ao lado da cama e viu que era mesmo hora de se levantar. Lorene sentou-se na cama. Bocejou enquanto procurava por suas sandálias. Os pés tateando o chão de madeira até sentir os calçados. Já de pé, Lorene começou a pensar nas coisas que tinha para fazer naquele dia. Não dava para se esquecer, afinal ela era a responsável pela investigação de estranhos desaparecimentos pela cidade.

Sentiu-se aliviada porque o silêncio na casa indicava que os meninos ainda não tinham despertado. Disposta a curtir os minutos que tinha de sagrado silêncio, ela não ousou sequer ir ao quarto deles. Ela sabia que Oliver e James dormiam profundamente no quarto ao lado.

Lorene caminhou até o espelho no banheiro, o reflexo cansado de seu rosto contrastando com a determinação que queimava em seus olhos castanhos. Deu mais um suspiro, esfregando a sonolência dos olhos enquanto refletia sobre o desafio que a aguardava na delegacia. Por ironia do destino ou simples coincidência, aquela investigação caiu em seu colo. Ela já sabia muito bem do que se tratava, mas, aos olhos da Lei, nada do que ela sabia fazia sentido. Por isso Lorene decidiu permanecer investigando tudo da forma mais racional possível, deixando toda a questão que ela não conseguiria lidar nas mãos de seu filho mais velho, James Hudson.

Enquanto vestia o uniforme de detetive, sua mente vagou para um lugar distante.

Eu quero fériaaaaaaassssss!

Ela quase podia ouvir a si mesma gritando por um descanso. Não queria viajar, queria apenas fazer as coisas que mais gostava. Lorene tinha interesses além do trabalho, como a música clássica e os livros de mistério que colecionava em uma estante repleta de títulos empoeirados, muitos deles nunca lidos. Era uma forma de escapar da dura realidade de sua profissão. Contudo ela tinha sido engolida por seu exaustivo trabalho.

Enquanto Lorene ajustava o distintivo em seu uniforme, seu olhar se desviou para a pequena mesa ao lado do espelho. Ali, em um discreto porta-retratos com uma moldura prateada, estava uma foto que capturava um momento de felicidade antes da tragédia que mudaria suas vidas para sempre. A imagem em sua frente mostrava James, o filho mais velho, sorrindo ao lado de Oliver, cujos olhos ainda viam a beleza das cores e que irradiava uma alegria contagiante. Ao centro, Lorene, com uma expressão de carinho e força que evidenciava sua determinação como mãe e detetive abraçada a Lionel Hudson, sua coluna, sua força, seu sustento.

Mas ele não está mais aqui...

Para não ser tomada pelos pensamentos dolorosos, saiu imediatamente, terminando de se arrumar em outro local. Ela não podia perder tempo lamentando o passado, afinal havia outras famílias angustiadas como a dela e ela tinha a oportunidade de impedir que mais pessoas sofressem com um destino doloroso o qual ela e seus filhos experimentaram.

Foi difícil manter a concentração. Por isso Lorene murmurou as palavras de um mantra para si mesma, reafirmando o seu compromisso.

– Cada resposta que eu encontro é um passo em direção à paz para alguém – sussurrou para si mesma e sua voz repetia-se em loop em sua cabeça.

Ao ajustar o último botão de seu casaco, Lorene respirou fundo, consciente de que o dia que se desdobrava diante dela traria desafios, mas ela estava pronta. Os filhos logo se acordariam e James só tinha que preparar o café da manhã para ele e para o irmão, em seguida, ir com ele até o ônibus escolar.

Quando a porta de entrada da casa se abriu, a luz da manhã invadiu a casa. O céu tinha tons suaves de rosa e laranja e poucas nuvens. Ela caminhou em direção ao carro estacionado na rua.

Sob o Mesmo CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora