Passado

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Chicago, Illinois. Dias atuais.

Ao abrir os olhos, Richard sentiu uma forte dor de cabeça. Tentou levantar-se com dificuldades, tirando as pernas de dentro da água. O cheiro não estava nada bom. Abaixo de seu rosto formou-se uma pequena poça do sangue que escorrera de seu nariz enquanto estava desmaiado. Richard cambaleou de um lado para o outro tentando manter o equilíbrio nas pernas quando ficou de pé. Não via mais Eddie nem Alan, muito menos os soldados que os perseguiam. Seus passos cansados o conduziram pelo caminho de volta de onde tinha vindo anteriormente. Tudo parecia relativamente igual, mas, ao mesmo tempo, estranhamente diferente. Encontrou as escadas que antes tinha descido com Eddie e Alan para entrar no esgoto. Essas escadas levavam para uma tampa que dava num beco. Ele subiu com dificuldade, sentindo o cansaço abatê-lo. Assim que Richard chegou à superfície, ouviu um barulho que tinha se tornado raro para si: o barulho do motor de um carro. Depois de quase um ano escondido numa fazenda e a quarentena por causa da pandemia, a rotina movimentada da cidade grande deixou de ser uma realidade para ele.

Num esforço maior do que o normal, Richard apoiou-se para sair pela boca do bueiro. Estava esgotado fisicamente e mentalmente. Mesmo com William ampliando seus poderes, ele gastou muita energia para fazer a viagem no tempo. Ele nunca tinha feito daquela forma. Voltar dois anos no tempo foi algo além do que ele jamais imaginou. Se o Elijah souber do que eu fiz...

Ele nunca pensou que sentiria tanta saudade daquela atmosfera agitada da cidade de Chicago. Quase foi atropelado ao atravessar a rua, pois não viu o sinal de pedestres fechar. A picape que buzinou a dois metros dele o alertou.

– Sai da frente, seu palhaço!

Ele correu para a outra calçada. Permitiu-se rir por um instante. Contemplou tudo ao seu redor e se deparou com uma cidade viva outra vez, pessoas andando de um lado para outro, veículos parados em um pequeno congestionamento, um ciclista passando pela ciclofaixa. Distraído com a paisagem urbana, não viu uma mulher mexendo no celular em sua frente e esbarrou nela. Ao vê-lo, sujo e fedendo, ela afastou-se e continuou seu caminho.

A cidade estava normal, como ele vira durante toda a sua vida. Aquele ritmo acelerado era parte de sua vida. Até que a Corporação acabou com tudo.

Andando pela avenida que passa por baixo do prédio da bolsa de valores de Chicago, Richard olha para as paredes e para o teto cinzento pensando se teria chegado na época certa. Era um fato que ele tinha viajado no tempo. Aquela era a Chicago de seu passado. Porém ele não tinha certeza do quanto tinha voltado. Ele tinha se concentrado na data, como costumava fazer nos treinamentos na fazenda de Elijah, contudo estava inseguro devido a quantidade de dias que ele teve que viajar. Para ter certeza, atravessou para o outro lado da avenida, onde havia uma mulher de meia idade caminhando na direção contrária. Era a única pessoa a pé por perto. Espero que ela não se assuste.

– Oi, desculpe incomodá-la – dizia ele se aproximando. A mulher tomou um susto, mas não se afastou.

– Pois não – ela falou.

– Sei que é uma pergunta maluca, mas... qual é a data de hoje?

Franzindo a testa, a mulher não pode deixar de estranhar.

– 11 de junho – respondeu educadamente.

– Obrigado. E o ano?

Ela saiu de perto sem dizer mais nada. Deve achar que eu sou maluco. Eu acharia, pensou Richard. Aquela pergunta sempre funcionou em filmes com viagem no tempo. Na realidade de Richard, porém, as coisas não saíram como esperado.

Apesar de não estar seguro, ele sentia que estava na época correta. Como ele não era bom com datas, sua única dúvida foi se 11 de junho era antes ou depois de ter conhecido Gary e os outros. A data antecedia o ataque à Corporação. Era tudo o que ele sabia de certeza. Esse ataque aconteceria logo depois do aniversário de Patrick, em 7 de julho.

Sob o Mesmo CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora