Jullian Lopez
Meus olhos percorrem as estantes cheias de livros e me pergunto se é humanamente possível ler todos eles... provavelmente não, mas não custa tentar. É sábado e Bella disse que é oficialmente meu dia de folga, então poderia fazer o que eu quisesse. Até pensei em ficar horas a fio nas redes socias, aproveitando o aparelho de celular que ganhei há alguns dias de Matteo, mas desisti da ideia e achei mais interessante ler um livro. Eu sempre fui apaixonado por livros, mas nunca tinha dinheiro sobrando para comprar um exemplar, afinal é um lazer caro... infelizmente. Então aproveito a oportunidade de estar em uma mansão com sua própria biblioteca.
A escolha feita é o Pequeno Príncipe, uma leitura que sempre tive vontade de realizar. Analiso a capa dura do livro e fico encantado com cada pequeno detalhe. Em passos lentos sigo até o sofá disposto no cômodo e me sento, abrindo as primeiras páginas do livro. Não noto o tempo passar enquanto faço a leitura e escuto uma música de forma baixa em meu celular. Só tomo noção de algo quando ouço batidas suaves na porta de madeira.
Desvio meus olhos do livro e fico surpreso em ver Lorenzo encostado no batente da porta, me olhando. É automático sentir meu coração acelerado em meu peito e o costumeiro frio em minha barriga. Fecho o livro em um gesto que mal percebo e me levanto do sofá.
— Precisa de algo, senhor Mazza? — pergunto, tentando ao máximo deixar meu tom de voz o mais natural possível.
— Que pare de me chamar de senhor. Não sou tão mais velho que você, me chame apenas de Lorenzo. — Ele diz e assinto brevemente.
— Humm... é só isso? — pergunto, curioso e um pouco ansioso.
— Ah, não... — Ele se afasta do batente e termina de entrar na biblioteca, se aproximando de mim em passos lentos. Confesso que minha garganta fica um pouco seca enquanto o observo se aproximar. — Vim te convidar para conhecer a cidade.
Suas palavras me deixam totalmente confuso e preciso piscar algumas vezes para tentar processar suas palavras.
— Perdão?
— Sei que ainda não teve a oportunidade de conhecer Roma da forma correta e vim perguntar se quer minha companhia para visitar alguns lugares. — Ele diz e tenho certeza que minha cabeça pode explodir a qualquer momento. Ok, Lorenzo está me convidando para sair? É isso?
— Achei que estivesse me ignorando — falo sem perceber e noto sua expressão suave mudar. Até penso em me desculpar, mas é a pura verdade.
— Eu realmente estava, mas percebi que é totalmente inútil — Lorenzo responde, me deixando confuso e sem palavras. — E então, aceita minha companhia? Ainda temos algumas horas até o anoitecer.
Fico em silêncio durante alguns segundos, até abrir um breve sorriso e assentir com a cabeça. Deixo o livro marcado na página que parei e saio com ele da biblioteca, pegando apenas um casaco antes de sairmos. Lorenzo faz questão de dirigir e gosto disso, deixa um clima mais íntimo entre nós dois.
Aí, Deus! O que eu estou pensando?
— Tem algum lugar que queira ver primeiro? — Ele questiona alguns minutos depois.
— Coliseu? — respondo, mas sai como uma pergunta.
— Óbvio! — Ele diz com uma breve risada e isso me deixa totalmente extasiado. Meus olhos analisam seu rosto e me sinto estranho em ver como ele fica ainda mais bonito quando sorri, com pequenas rugas se formando no cantinho de seus olhos.
— Você fica lindo sorrindo, Lorenzo — falo após alguns segundos e seu rosto se volta para mim, dessa vez sem expressão. Ele parece me analisar, como buscando alguma mentira em minha fala, mas não há.