11 - Como um Casal

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Lorenzo Mazza

A boca de Jullian passa por meu pescoço e meus olhos se fecham de forma automática, se deleitando com o momento. Seu toque em mim é como uma pluma passando por minha pele, a deixando totalmente arrepiada. Estar com ele me traz uma sensação prazerosa, algo que eu nunca havia experimentado em minha vida. Mas de repente essa sensação se torna estranha e sua boca diferente. Não há mais a sensação de conforto, muito menos de prazer. E quando abro meus olhos a bile sobe por minha garganta quando vejo quem está me beijando. Não é mais Jullian... é o meu pior pesadelo. E imediatamente me afasto como se estivesse levando um choque. Seus olhos sem vida se fixam em mim e um sorriso nojento se abre em seu rosto demoníaco.

É como estar no inferno novamente. Todo meu corpo formiga e tenho nojo de mim mesmo, pois suas mãos e sua boca estavam em mim. É como ter contato com a pior praga do mundo e tenho vontade de arrancar minha pele fora, pois me sinto contaminado pela podridão.

— Está feliz, filho? — Sua pergunta vem acompanhada de um sorriso de dentes perfeitos.

E por mais que ele seja um homem bonito em aparência, isso não esconde a pessoa podre que ele foi em vida.

— Não me chame assim! — grito e ouço sua risada ecoar na escuridão ao redor.

Sempre foi assim... ele achava graça em meu sofrimento.

— Só não espere muito, eu fui a única pessoa que te amou de verdade. — Ele diz e começa a se aproximar de mim, o que me faz dar passos apressados para trás.

— Você nunca amou ninguém — falo com a voz tremula, querendo de alguma forma escapar desse pesadelo. É como voltar a ser uma criança indefesa.

— Ah, Lorenzo... você sabe que nunca se esquecerá de mim, querido.

Sua fala ecoa em minha cabeça e se repete como um disco arranhado. Eu me sinto sufocado e com medo. Isso é mesmo um pesadelo ou ele realmente voltou?

A resposta para minha pergunta vem quando meus olhos se abrem e encontro a fraca luz do nascer do sol entrando por minha janela aberta. Pisco meus olhos algumas vezes, tentando espantar o sono e também as imagens em minha cabeça. Eu já deveria prever que isso iria acontecer. É só eu estar razoavelmente bem que aquele demônio aparece em meus sonhos para me assombrar e me lembrar que sempre fará parte do lado sombrio da minha existência.

Solto um suspiro e passo as mãos por meu rosto, sentindo a aspereza das cicatrizes. Fecho meus olhos por um breve momento e me concentro nas lembranças de ontem. Jullian sorrindo, nós dois se beijando, a chance que resolvemos dar ao sentimento que surgiu. Me lembro de seu olhar doce para mim, mesmo sem uma máscara e luvas para cobrir minhas imperfeições. Me lembro de como ele fez meu coração se acelerar com palavras e toques. Me concentro no sentimento mais puro e feliz que já senti em toda a minha vida.

Após alguns minutos me encontro melhor e com pensamentos menos destrutivos em relação a mim mesmo. Tomo um banho gelado para despertar e antes que eu possa seguir até o lado onde fica meus ternos no closet, uma ideia muito melhor se passa por minha cabeça.

[...]

— Que tal um encontro? — pergunto quando saio do quarto e encontro Jullian prestes a descer as escadas.

Seus passos são cessados e ele se vira para mim, abrindo um sorriso genuíno que faz meu coração bater mais forte em meu peito. Quando foi que me tornei tão idiota por um homem?

— Eu nunca fui a um. — É o que Jullian responde, me fazendo sorrir.

— Bem... eu também não. Mas tudo tem uma primeira vez — falo e vejo ele assentir diante meu comentário.

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