Capítulo 37

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Alekssandra

Estou em frente ao restaurante que minha mãe escolheu para que pudéssemos almoçar. A expectativa pesa sobre mim, um misto de nervosismo e medo do que está por vir. Não é apenas um encontro qualquer; é uma tentativa de reatar laços desgastados por anos de mágoa, mas no fundo sinto que a perdoei e só precisamos ter um conversa, mas eu estou na defensiva

Ao entrar, entrego meu nome ao recepcionista. Ele sorri e me indica a mesa onde minha mãe me aguarda. Vejo seu cabelo castanho, familiar, e a tensão em meu peito aumenta. Como ela pode estar tão tranquila depois de tudo que aconteceu? Será que ela vai repetir todas coisas horríveis que falou para mim??

-Mãe! - chamei, tentando manter a voz firme.

Ela se vira, seus olhos se iluminam ao me ver, mas logo a expressão se transforma em algo mais complexo.

-Alekssandra, pensei que você não viria - diz ela, com um sorriso forçado.

-Desculpe o atraso - respondo, a hesitação em minha voz não passa despercebida.

Eu me atrasei porque não consegui dormir bem. As noites têm sido difíceis; os pensamentos sobre nosso passado e a relação conturbada entre nós não me deixavam em paz. Alem disso tenho tido um mal estar há semanas e hoje por pouco o Allan não me levava ao hospital, porém eu disse a ele que tudo ficaria bem e ele relaxou um pouquinho.

-Está tudo bem? - ela pergunta, uma sombra de preocupação atravessando seu rosto.

Eu não consigo encarar sua pergunta. Por um lado, tenho tantas coisas para dizer, mas, por outro, sinto que palavras podem ferir ainda mais. E a verdade é que, no fundo, eu ainda a culpo pela forma como me tratou ao longo dos anos.

-Estou bem, e a senhora? - tento mudar de assunto.

-Estou... tentando. É difícil - ela responde, seu olhar distante.

O garçom traz os menus, e por um momento, o silêncio se torna ensurdecedor. Eu olho pela janela, observando o movimento da cidade, e percebo que, mesmo com toda a confusão dentro de mim, a vida tem sorrido para mim.  Ter o Allan e o meu pai é bom, é verdade que desde que a minha história veio a tona tem sido como pisar em ovos.

-Eu sou a última pessoa que você deve querer ver, depois daquele dia- ela diz, quebrando o silêncio.

Aquelas palavras caem sobre mim como uma pedra. Não sou só uma lembrança do seu fracasso como esposa, sou sua filha. Um produto de uma relação extraconjugal que transformou nossa vida em um labirinto de segredos e desilusões.

-Você realmente acha isso? - pergunto, o tom desafiador escapando. - Eu sou a consequência do erro do meu pai. Mas eu sou su filha, e acho que não é por não termos o mesmo sangue que isso muda.

Ela parece afetada por minha resposta. Os olhos dela se enchem de lágrimas, e eu sinto como se algo tivesse mudado.

-Alekssandra, não é tão simples. Eu lutei com isso todos os dias. Eu não sabia como lidar com a situação. Você sempre foi uma lembrança do que eu perdi - ela diz, a voz tremendo.

Sinto a raiva crescendo dentro de mim. Como ela pode me culpar por algo que não fiz?

-Eu só queria uma mãe,  que me aceitasse, mesmo sabendo a verdade! - exclamo, minha voz subindo. - Mas você me tratou como se eu fosse a responsável pela sua infelicidade, e talvez você não teria perdido se tivesse agido de forma diferente.

Ela se encolhe, como se minhas palavras a atingissem. E por um momento, vejo a fragilidade dela, mas isso não diminui minha dor.

-Eu me arrependo, eu realmente me arrependo - diz ela, a sinceridade começando a romper a barreira entre nós. - Eu deixei que meu rancor afetasse nossa relação. Eu estava tão concentrada na dor que seu pai me causou que não vi o quanto você precisava de mim.

-E eu precisei de você em momentos que não esteve lá. Cada vez que você me olhava com desprezo, eu sentia que era um peso que não merecia carregar - respondo, a voz trêmula, mas firme.

O garçom retorna com nossos pedidos, mas não tocamos nos pratos. As palavras continuam a fluir, como se estivéssemos em um mar de emoções, um turbilhão de sentimentos que precisa ser resolvido.

-Como você pode esperar que eu simplesmente esquecesse tudo? - pergunta, buscando talvez saber o meu posicionamento.

Ela olha para mim, a luta interna evidente em seu rosto.

-Eu não acho que em uma circunstância dessas a senhora pudesse esquecer. Apenas poderia ter me tratadodiferentedo que me tratou, até porque não tive culpade nada. O que a senhora passou não devia ter sido colocado sobre mim- respondo, a voz baixa, mas intensa.

- Eu sei, mas deixe eu me explicar. E desde ja eu peço perdão filha.

Eu me sinto dividida. Parte de mim deseja ouvir suas explicações, outra parte grita para que eu me proteja. Mas uma coisa é certa: a conversa que nunca tivemos finalmente estava acontecendo, talvez ela não tenha noção do quanto eu esperei para ela chamar-me de filha de um jeito tão doce como fez agora.

-Eu quero entender - digo, minha voz suavizando. - Quero saber como você realmente se sente. Eu mereço isso.

As lágrimas rolam pelo rosto dela, e eu percebo que estamos, de fato, começando a nos abrir. Há um espaço, ainda pequeno, mas possível, para o perdão.

-Eu passei anos tentando esconder minha dor, pensando que isso protegeria você. Mas, no fundo, eu só estava fugindo e te magoando pela forma indiferente queeua tratava. Muitas vezes agi como se seus irmãos fossem os únicos, o que não era certo
E o facto de você me lembrar a sua mão biológica me fazia mal também. Sei que isso não é justicativa, mas o facto do casamento do seu pai e eu ter sido por contrato sempre pesou em mim.-ela diz, um peso visível sendo retirado de seus ombros.

-Como assim por contrato? - pergunto

- Nossos pais fizeram um acordo que firmou o nosso casamento, converse com ele e entenderás

Aquelas palavras ressoam dentro de mim. O que poderia ter sido uma batalha, agora parecia uma conversa honesta, um primeiro passo em direção à cura.

-Eu só queria ter sido vista, mãe. Não como um erro, mas como sua filha - eu murmuro, a vulnerabilidade tomando conta de mim.

Ela estende a mão sobre a mesa, um gesto tímido de reconciliação. Eu hesito, mas, após um instante, entrelaço meus dedos aos dela. É um pequeno gesto, mas carrega um significado imenso.

-Vamos tentar de novo, sei que a sua mãe biológica está por perto, mas eu me sentiria feliz em poder recomeçare me redimir com você. - ela diz, o olhar determinado.

E, naquele momento, entre pratos e lembranças, nós duas começamos a reconstruir o que foi quebrado. O caminho à frente seria longo e repleto de desafios, mas, pela primeira vez, sentia que não estávamos sozinhas nessa jornada.

O garçom nos interrompe novamente, mas agora a atmosfera é diferente. A tensão se dissipou, dando lugar a uma leve esperança. À medida que comemos, falamos sobre o presente, sonhando com um futuro onde o passado não nos define. E assim, naquele restaurante, uma nova história começa a ser escrita entre nós.

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Olá,gente linda🥺❤️
Depois de tanto tempo aqui estou eu de volta. É tanta coisa que fico sem tempo para escrever, contudo espero que estejam gostando do livro

Por favor votem muito🥺❤️

Beijinhos da autora 😘❤️😍

Minha para CuidarOnde histórias criam vida. Descubra agora