Epílogo

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Era uma madrugada de outono em Tóquio. Os ventos da noite atiçavam as cortinas brancas, ele tinha um assobio suave, mas força o suficiente para despertar quem dormia com a janela aberta.

- Tá acordado? - Ela perguntou espreguiçando ainda virada para a parede

- Não... - sem nem abrir os olhos, ele respondeu num murmuro rouco e abafado pelo travesseiro.

- Fecha a janela se chover, eu preciso ir ao banheiro.

- Tá bom... - O platinado rolou para o outro lado sem demonstrar sinal de que levantaria.

Saika se sentou na cama e apoiou os pés descalços no piso, usando as mãos como impulso para levantar. Seus passos sonolentos a levaram até o banheiro.

Abriu a torneira e inclinou-se sobre a pia fazendo uma concha com as mãos para pegar água, mas ao colocá-las sobre o rosto, sentiu algo roçar seus antebraços. No susto, se ergueu rapidamente e ao encarar o espelho viu que era nada mais nada menos que seus cabelos enormes que haviam se desprendido de alguma forma.

Porém sua surpresa se transformou em completo pânico quando ela olhou seu reflexo com mais foco. Ela desceu os olhos sobre si mesma e suas mãos tremeram quando tocaram na barriga projetada e arredondada.

- O que... - Ela rapidamente trancou-se no banheiro.

Bateu no próprio rosto, beliscou os braços. Mas aquilo era mais do que real.

- Certo, Satoru... pode parar de brincar agora. - Disse em voz alta - Você me pegou, eu acreditei. Agora chega.

O silêncio foi sua única resposta. Segundos depois ouviu batidas na porta e suspirou com alívio e raiva. Ela com certeza não deixaria isso barato. Puxou a maçaneta com força o suficiente para quebrá-la e berrou.

- Satoru, por que você não...

Seu rosto empalideceu, ela ficou paralisada com os olhos arregalados e boquiaberta

- O que aconteceu, meu amor?

Os olhos azuis a encaravam confusos, e naquele momento um medo como jamais havia sentido a consumiu. Seu coração parecia pular para fora do peito, ela bateu a porta com toda força que tinha.

- Isso é loucura, eu devo estar ficando maluca!

- Não está.

Lá estava ele, diante dela. Lançando sobre ela um olhar sombrio.

- Yuri... - Ela recuou alguns passos, o olhando de cima a baixo. - Não... isso é impossível!

- Saika... - Ele se aproximou

- Não dê nem mais um passo! - Ela cerrou os punhos e abriu a palma da mão em direção a ele. Nada aconteceu, sua magia não funcionou.

Ao perceber que estava indefesa perante a Yuri, seu desespero foi tanto que ela correu em direção a prateleira do banheiro e passou a jogar nele tudo o que via

- Você está morto! Some da minha frente!

- Saika...

- Vá pro inferno! Desapareça!

- Ei, acorda!

Ela abriu os olhos subitamente e levantou da cama num pulo.

- Calminha. Sou eu. - Satoru tocou seu rosto, com o cenho franzido e olhar preocupado. - Aquele pesadelo de novo?

Nesse mundo eu aprendi que se tudo está bem demais, algo está errado. Há alguns dias, passei a ter pesadelos constantes com o meu passado e isso tem tomado os meus pensamentos quase cem por cento do tempo.

A filha do demônio - Gojo Satoru Onde histórias criam vida. Descubra agora