"Eu tinha tudo,
depois a maioria, e agora nada de você...
Me leve de volta para a noite em que nos conhecemos."
- the night we met, lord huron.14 anos atrás...
marie's pov;
Lógico que minha mãe e meu pai me arrastariam novamente para um dos seus jantares de negócios estupidos, e ainda faria eu usar o vestido mais desconfortável que encontrei no meu guarda-roupa.Estou sentada no banco de trás do carro com uma carranca enquanto mamãe e papai discutem sobre algo, para variar.
Após uns 10 minutos, chegamos no lugar onde o jantar aconteceria, é uma casa nova, não me lembro de já ter vindo aqui.
Meu pai estaciona o carro e desliga, minha mãe desce e vai até minha porta para me descer também.
— Desamarra essa cara Marie, esse vestido nem é tão apertado. — Mamãe resmunga me pegando no colo e me colocando no chão.
Papai me lança um olhar amedrontador e eu logo desfaço a carranca, papai é um homem meio bravo... Ele sempre grita comigo e com a minha mãe, mas nunca chegou a usar força física contra a gente.
Mamãe bate na porta da enorme casa, um homem alto com traços japoneses abre e da espaço para entrarmos com uma expressão séria.
O moço acompanha mamãe e o papai até uma sala, talvez um escritório, antes de entrar mamãe se vira para mim e abaixa até ficar na minha altura.
— Fique sentada quietinha, já estaremos de volta. — Ela passa a mão no meu cabelo e eu assinto com a cabeça vendo meus pais entrarem na sala e fecharem a porta.
Me sento em uma poltrona encarando minhas sapatilhas douradas enquanto balanço os pés inquietamente, odeio ficar parada.
Olho para frente e vejo um menininho com roupas pretas e olhos puxados, que parecia ter mais ou menos minha idade, o cabelo preto estava bagunçado e ele estava com um sorrisinho travesso.
— Quer brincar comigo? — Ele pergunta se aproximando de mim.
— Minha mãe disse que eu tenho que ficar sentada aqui. — Respondo e ele olha ao redor.
— Sua mãe está aqui com a gente? — Pergunta ele, nego com cabeça. — Então vamos. — O menino chega mais perto de mim e me da a mão.
Dou um sorriso e seguro em sua mão descendo da poltrona.
Ele me leva correndo até o gramado de sua casa onde há uma árvore gigante.
— Quem chegar primeiro na árvore é o vencedor. — Mal termina de dizer a frase e já saí correndo.
— Ei! — Grito correndo atrás dele, tento segurar meu vestido para não tropeçar nele, uma tira da minha sapatilha solta me fazendo pisar nela com o outro pé, me atrapalho toda e me esborracho no chão.
Escuto o menino rir antes de de virar para trás de me ver chorando, as palmas das minhas mãos estão arranhadas e um dos meus joelhos também, meu vestido está arruinado.
Ele vem até mim e fica de pé na minha frente.
— Tudo bem aí? — Pergunta ele e eu o olho chorando, ele agacha com um sorrisinho e me da sua mão de novo. — Consegue andar? — Assinto com a cabeça e me levanto com dificuldade.
Com cuidado ele me leva até atrás da árvore e a gente se senta, ele pega minhas duas mãos e olha os arranhados.
— Não é tão ruim. — Diz ele. — Sabe, uma vez minha mãe me disse que para a dor passar você precisa se distrair. — Não estava comprando muito a ideia dele não. — Qual seu nome, cachinhos dourados?
— Meu nome é Marie, qual o seu? — Pergunto rindo do apelido que ele me deu.
— Kenji. — Responde ele, o olhar dele pousa em meu cabelo, ele o analisa. — Gosto do seu cabelo. — Dou uma risadinha e o analiso também.
— Eu gosto dos seus olhos, são pequenos, não iguais aos meus que são gigantes. — Digo a Kenji.
— Olhos grandes são legais também. — Ele fala, parece pensar um pouco antes de dizer outra coisa. — O que gosta de fazer? Eu gosto de lutar judô.
— Eu gosto muito de dançar balé. — Respondo. — Judô é coisa de meninos.
— E balé é coisa de meninas. — Ele rebate fazendo nos dois rirmos.
Quando menos percebo, meus machucados pararam de doer, Kenji fez bem em me distrair.
— Você fica fofa quando chora. — Ele diz baixinho, sinto minhas bochechas queimarem.
— Obrigada. — Respondo baixinho também, encarando a grama que estávamos sentados.
O nosso momento é arruinado quando uma gritaria se aproxima de nós, parece a voz da mamãe e do papai.
— Marie?! Vamos embora, apareça logo! — Papai esbraveja e eu rapidamente saio de trás da árvore e Kenji sai atrás, vejo a fúria triplicar no olhar do meu pai quando ele vê a cena.
Ele vem até mim pisando forte e me agarra pelo braço quase me levantando do chão.
Dou uma olhada rápida para trás dele, tem uma mulher um homem - que agora acho que é o pai do Kenji - e minha mãe em prantos.
— O que estava fazendo lá com esse imundo? Deixou ele tocar em você igual a vadia da sua mãe deixou o pai dele tocar nela?! Hein?! — Papai grita, ele está usando tanta força para me segurar que tudo que consigo fazer naquele momento é chorar.
Escuto minha mãe pedir para ele me soltar mas ele manda ela calar a boca.
Olho para Kenji que está assustado, agarrado na perna de sua mãe que também está chorando.
— Ele é meu amigo papai. — Digo entre soluços, não tenho tempo de raciocinar antes de sentir um tapa desferido no meu rosto, mamãe grita.
Eu e meus pais fomos para o carro após mais uma seção de gritos e ofensas, meu pai dirige igual um selvagem até nossa casa.
Chegando lá, ele e mamãe começam a brigar e se empurrar, não consigo entender nada mas quero defender a mamãe.
Sem pensar muito entro no meio, meu pai me encara bufando e praticamente me joga para um canto da sala.
Acho que o papai nunca me deu uma surra tão feia em toda minha vida...
No outro dia acordei e vi mamãe sentada em uma poltrona chorando e papai tinha ido embora de casa.
Anos depois descobri que minha mãe estava tendo um caso com o pai de Kenji, e foi revelado naquela sala de reunião que meus pais estavam.
Nunca mais vi meu pai após isso, mamãe não me deixa pisar perto da família Ono.
Essa noite vai ficar pra sempre gravada na minha memória.
Não pela surra que levei.
Mas sim porque Kenji disse que fico fofa quando eu choro.
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IVRESSE;
FanfictionKENJI; Nunca imaginei que meu objetivo de vida seria acabar com a vida de outra pessoa. Mas quem mexe com fogo eventualmente se queima. E espero que Marie esteja aguardando o que guardei para ela. MARIE; Eu sabia que era um erro desde o começo, mas...