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"Eu olho para você e não vejo nada...
Eu olho para você para ver a verdade,
você vive sua vida, você vai para as sombras..."
- fade into you, mazzy star.

4 anos atrás...

kenji's pov;
Faz dois dias da discussão que tive com Marie no hotel.

Eu sabia que ela chegaria em seu limite algum momento, eu realmente não era cara pra ela.

Não tive mais notícias dela, e também prefiro não ter, Marie é incrível demais para aguentar as merdas que eu faço.

Me preocupa o que sua mãe vai fazer, desde que o pai de Marie foi embora, a mãe dela perdeu totalmente a noção da realidade e desconta todas suas frustrações na filha.

Minha mãe também entraria em colapso se sonhasse que estava me envolvendo com alguma mulher da família Campbell.

Desde que as traições foram reveladas minha mãe dizia que Marie cresceria e ficaria igualzinha sua mãe, e que eu nunca mais deveria chegar perto dela.

Claro que nunca discuti com minha mãe sobre isso, entendo totalmente o lado dela mas discordo que Marie vá se tornar uma versão da senhorita Campbell.

O coração dela é lindo, é maravilhoso saber que sou o único que já conseguiu vê-lo.

Estava tão perdido nos meus pensamentos que demorou para eu escutar uma certa agitação no andar debaixo, murmúrios e mais murmúrios.

Passos pesados sobem as escadas, subitamente a porta do meu quarto se abre quase como uma explosão revelando dois policiais e minha mãe desesperada logo atrás.

— Kenji Ballard Ono você está preso pelo estupro de vulnerável de Marie Campbell, tem o direito de permanecer calado, tudo que disser pode, e vai ser usado contra você no tribunal...

Os próximos minutos - que mais parecem horas - se passam em um borrão seguido de zumbidos.

[...]

Minha mãe se recusou a ir comigo para a delegacia, fui obrigado a ligar para o meu pai para pedir algum tipo de defesa.

— Kenji jamais cometeria uma atrocidade dessas! Já tentaram ir mais a fundo nessa história? — Meu pai bate na mesa do interrogatório, consigo ver a veia de seu pescoço saltando.

— Peço para que o senhor se acalme, senhor Ono, sabemos que é uma situação delicada e...

— Situação delicada uma ova! O meu filho não é estuprador. — Ele diz entre dentes apontando seu dedo no rosto da policial, que está prestes a tirar ele dessa sala e o prender por desacato.

— Pai, chega. — Murmuro, ele me lança um olhar e se senta.

A policial suspira e coça sua testa colocando as mãos sobre a mesa.

— A senhorita Campbell e sua filha compareceram aqui ontem para prestar uma queixa contra o seu filho, a menina estava em prantos dizendo que foi forçada a ter relações a base de ameaças com Kenji. — A mulher me da um olhar rápido de desdém.

Sinto o gosto metálico de sangue na minha boca de tanto morder minha bochecha, parece que isso não é real, não pode ser real.

Marie não faria algo assim... Isso não é perfil dela...

Não falei mais de duas palavras desde que cheguei dentro dessa sala de interrogatório, ainda estou algemado e meus olhos não olham pra nada além do chão.

— Aposto que a mãe louca dela que a fez vir aqui e falar baboseiras, já pensaram em a investigar? Porque tenho certeza que aquela garota sofre maus tratos. — Meu pai esbraveja cruzando os braços.

— Receio que não, senhor Ono... Senhorita Campbell mal disse alguma palavra, diferente de sua filha que deu cada mínimo detalhe que precisávamos para acusar Kenji. — Pela primeira vez levanto meu olhar até a policial, não acreditando no que acabei de escutar.

Olho para meu pai que está coçando a testa, os olhos dele me encontram e só consigo identificar um sentimento: Decepção.

— Pode nos dar licença por um instante, policial Whittaker? — Meu pai questiona, a mulher assente e sai da sala deixando apenas eu e ele.

Um silêncio ensurdecedor se instala na sala antes do meu pai dizer:

— Você fez isso, não fez? — Me pergunta com uma certa hesitação.

— O que? Não! Não forcei ela a fazer nada, nunca. — Rebato.

— Olha, sei que deve ter raiva da mãe dela pelo que nós fizemos com a nossa família... Então me diga, você abusou da Marie como forma de se vingar? — Escutar aquelas palavras horrendas saindo da boca do meu pai eram a gota d'água para mim.

— Escuta aqui, posso ter o mesmo sobrenome e até o mesmo rosto que você, mas não sou podre a ponto de fazer isso. — Digo entre dentes, a boca do meu pai se transforma em uma linha dura.

— Apesar de saber o que pensa do seu próprio pai vou tentar limpar a merda que você fez. — Meu pai empurra a cadeira e sai pisando forte da sala de interrogatório me deixando sozinho lá.

[...]

O julgamento foi uma semana depois, minha mãe não falou comigo desde que ouviu as palavras dos policiais. Muito menos apareceu no fórum.

Eu estava lá, com as mãos algemadas enquanto meu advogado e a advogada de Marie argumentavam sobre a minha inocência ou a falta dela.

Quando chegou o momento de Marie subir na cadeira ao lado do juíz, me perguntei onde estavam todos os detalhes que a policial Whittaker disse que ela tinha dado.

Ela respondia todas as perguntas no automático, "sim", "não", "mais ou menos isso" e por aí vai.

Me atrevi a olhar para a senhorita Campbell, aquela mulher parecia estar segurando um sorriso maldoso para si enquanto encarava Marie.

Na única troca de olhares que eu e Marie tivemos, percebi que os olhos que uma vez já me encantaram a ponto de fazer de tudo para ver eles brilharem, estavam sem vida. Opacos.

A sentença foi dada, 4 anos em um reformatório a 60km de Thousand Oaks.

Não é novidade que meu pai pagou quinze mil dólares para o juíz mudar a sentença certa, não existe mundo em que o suposto crime que cometi não me mandaria para a prisão por mais de dez anos.

Um dia depois que o julgamento tinha sido feito, Marie se mudou para Pittsburgh.

Dali em diante, só pensei em como faria ela pagar pelo que fez.

Aquela ratinha mentirosa ia admitir na minha cara que mentiu sobre tudo. Só assim poderei viver minha vida em paz.

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