Eu dei o primeiro tempo de aula e depois fui para a sala dos professores. Ainda ficava repetindo mentalmente a conversa que eu ouvira entre o pai de Violet e a diretora Cole. O tal Youssef não gostava de mim e mesmo o meu cérebro querendo me fazer acreditar que tinha a ver com o sonho, a parte racional me levava a deduzir que talvez outra coisa tivesse acontecido. Seria possível que Violet talvez tivesse se queixado de algo. Mas o quê?— Nossa, estou exausta!
Uma mulher jovem e relativamente alta entrou na sala dos professores largando a sua pequena mochila no sofá ao lado do micro-ondas.
Apenas sorri cordialmente em resposta a fala dela. Estava debruçada nas minhas anotações tentando me preparar para a próxima aula.
— Você é a nova professora de biologia, né?
— Uhum.
— Eu sou Jessica. Prazer! — Ela estendeu a mão e me cumprimentou.
— Mahana, um prazer te conhecer também.
— Eu dou aula de história. Uma loucura fazer esses adolescentes entenderem a Revolução Francesa.
Jessica falava rápido e gesticulava bastante. Isso a fazia parecer espontânea e levemente engraçada.
— 1789? — Chutei a data da revolução franzindo o cenho.
— Graças a Deus, uma pessoa que sabe o mínimo! Vou te dar uns dois pontos a mais no próximo teste, Mahana!
Eu ri da ironia dela.
— Obrigada, ficarei feliz com os pontos.
— Mas me fala, está gostando de dar aulas aqui?
Jéssica pegou um iogurte na geladeira e caminhou de um lado ao outro a procura de uma colher até encontrar um pote de tampa onde havia talheres dentro.
— Comecei ontem, então não sei dizer ao certo. Creio que vou me acostumar.
Jessica sentou-se à mesa de frente para mim, tirando o lacre do iogurte.
— Se acostumar a esse fim de mundo que é Sundale? — Desdenhou levando uma colherada a boca— Não sei. Estou aqui há dois anos e ainda pareço uma intrusa. Não consigo me acostumar.
— Ah, você também não é daqui?
— Não, não sou. A minha família é do litoral. A praia me faz muitíssima falta! Nessa cidade chove dia sim e outro também — Jéssica revirou os olhos — Sem contar que mesmo no verão tem dias que faz frio. Não faz o menor sentido.
— Pode ser o El Niño.
— Ah, professora de biologia. Eu lembro bem desse fenômeno climático. E sei que o El niño não dura o ano todo e nem mesmo é anual. Não, isso não justifica esse tempo esquisitíssimo em Sundale — Outra colherada satisfatória de iogurte.
Ela tinha razão. Não justificava mesmo. Mas talvez Jessica estivesse exagerando, o que seria algo bem provável para alguém cheio de superlativos feito ela.
— Soube que está dando aulas para a filha do bonitão.
— Violet? Filha do Youssef?
— Uhum. É o pai mais cobiçado da cidade. Ainda não trombou com ele?
Eu automaticamente lembrei do que escutara na sala da diretora pela manhã. Mas não diria nada a Jessica. Havia acabado de conhecê-la.
— O vi de longe ontem quando veio buscar a filha. Realmente é bonito, mas é um pouco...
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ANOITECER
Lãng mạnMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...