XXVII. UM CONVITE PARA JANTAR

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A minha conversa com Asaloom Youssef havia sido um emaranhado de incógnitas. Se por um lado não fora o desastre que eu imaginei que seria, por outro me deixou com inúmeras dúvidas. Mas conforme fui ruminando o assunto e refletindo sobre os diálogos que tivemos — com os principais pontos — eu entrei em uma certa paranoia.

Ele insinuou que poderia matar* você, Mahana. Matar*. M-A-T-A-R.

Então eu passei os dias seguintes temerosa, achando que algo ruim* fosse acontecer. Um atentado, alguém invadindo a minha casa enquanto eu dormia ou sequestros e outras paranóias sem sentidos. Até pesadelos tive (pesadelos mesmo, e não sonhos lúcidos).

O meu celular tilintou em cima da mesa da cozinha, um som agudo, típico de iPhone. Eu fechei a tampa da máquina de lavar antes de ir checar meu celular. A tela ainda estava acesa quando deslizei o dedo para ver aba de notificações. Um número desconhecido.

10:30 Bem, já se passaram alguns dias desde que a convidei para um jantar e acho que se esqueceu da sexta-feira.:(

Eu sentia as minhas bochechas arderem de vergonha. Steven me chamara para sair e eu não lembrei. Nem para dizer que não iria ou dar uma desculpa. Desde a tarde que o vi no memorial maçom que não nos falávamos.

10:30 Mil perdões, Steven, vacilei feio*. Sei nem onde enfiar* a minha cara rs.

10:31 Relaxa, acontece. E eu estou superdisposto a gastar o que resta do meu orgulho com uma garota como você. Acredite! S2

10:31 Nossa, assim fico lisonjeada, Steven.

10: 31 Pois pode ficar. E se quer que eu eleve a sua moral mais ainda:eu não faço isso com qualquer uma, ok?

10:32 Isso o que, Steven?

10:32 Mandar mensagem depois de ser completamente esquecido. No geral eu ignoro e coloco a conversa nos arquivos do Whats. É algo bem maduro, eu sei hahahahahaha.

10:32 Ok, acho que a minha moral triplicou mesmo rs.

10: 33 Estou aqui para isso, para fazê-la entender que é muito especial.Uma garota especial.

10: 33 Ah, para. Deve dizer isso a todas.

10: 33 Pode ser que sim. Mas dizer essas coisas depois de ter o meu orgulho ferido ao ser esquecido? Hum, bem, acho que só com você mesmo.

10: 34 kkkkkkk... Touché, você venceu, Steven hahahah *_*

10: 34 Vencer eu irei quando você aceitar sair comigo.

10: 35 Hoje é sexta, talvez seja um bom dia.

10: 35 Tá brincando? É perfeito, garota!

10: 35 Certo, só me mandar o nome do restaurante que te encontro lá.

10: 35 Ah, deixa eu buscar você, vai!!! Além de ser gentil, eu vou garantir que você não desistirá do nosso encontro.

10: 36 Hum... Tá bem, passa aqui. Qual horário?

10: 36 Às 19h em ponto estarei aí. Na verdade, às 18:30 já estarei a postos, vai que você sai escondida pelos fundos para me dar um cano? Eu não vou deixar acontecer duas vezes hahahahahahha.

Steven sempre estava de bom humor.

10: 39 Não se preocupe, desta vez eu vou cumprir o nosso combinado.

10: 40 Certo. Às 19 h.

10: 43 Fechado. Agora preciso ir dar uma arrumada no chalé que está uma bagunça. Quando começar a me arrumar eu te aviso.

10:45 Feito. Até. Bjs.

As roupas na máquina terminaram de bater. Quando abri a máquina para retirá-las e estender no varal, ouvi o som de um impacto contra a janela da sala. A primeira coisa que imaginei foi alguma criança brincando de atirar pedras contra o meu chalé.

Mas não era isso, havia algo bem mais provável: corvos.

Um deles havia batido com tanta força contra a janela que notei respingos de sangue* no vidro, tamanha a força do impacto.

Eu saí do chalé e vi o animal morto* caído de asas abertas no assoalho da varanda. Ele parecia agonizar envolto por uma poça nojenta* de sangue* que eu tive de limpar. Definitivamente os corvos eram uma praga em Sundale.E eu os odiava* mais que tudo, ainda mais depois que tive que cavar uma pequena cova nos fundos do chalé para enterrar o pássaro morto*.

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