A chuva logo começou a cair. Uma chuva calma, porém forte o suficiente para deixar córregos no meio fio em direção aos bueiros da rua. A árvores do lado de fora balançavam e mais folhas se desprendiam com o vento.Mamãe me ligou no exato momento em que eu riscava uma seta com todos esses tópicos e escrevia Asaloom, como o grande denominador comum de todos esses pontos.
— Como vai, mãe?
— Estou bem. Comecei yoga na semana passada.
— Ah, legal.
Eu não estava com muito ânimo.
— Mas te liguei para saber sobre o rapaz que foi encontrado morto* aí.
Era tudo que eu precisava: da minha mãe pilhada com aquilo. Pior seria se ela soubesse que eu fui uma das últimas pessoas a vê-lo com vida. Omitiria isso dela?
Claro que sim!
— Como soube?
— Internet, meu bem. Mudei minha localização no celular para Sundale. Assim o Google me filtra todas as notícias da sua região na tela inicial do site. Se chama algoritmo.
Eu ri.
— Quando ficou tão tecnológica e eu não soube?
— A partir do momento em que minha filha decidiu morar a trezentos quilômetros de distância de mim.
— Certo. Mas não se preocupe, está tudo bem.
— Não sei. Tenho maus* pressentimentos.
— Não surta, mãe.
Na verdade, mamãe disse "maus* pressentimentos" bem no momento em que eu circulava o nome de Asaloom com a caneta. Estalei a língua impaciente e deixei a caneta sobre o papel. Se juntassem as paranóias da mamãe com as minhas, eu com certeza precisaria de umas gotas de Rivotril para dormir.
— Eu tô falando sério, Mahana. Cidades pequenas como a que você está, tendem fortemente a ter serial Killer a solta.
— Uhum... o estripador* de Sundale. Claro, Mãe — Disse rindo.
— Mahana, não brinque com isso. Dá para tomar cuidado, pelo amor de Deus?
— Mas eu estou tomando.
O que era uma bela de uma mentira. Mas falar a verdade para minha mãe às vezes era a pior coisa a se fazer.
— Coração de mãe não erra. Eu liguei porque senti que você estava precisando.
— Ah, que amor!
— É sério, filha, eu sinto sua falta. Mas sei que está aí pela sua carreira.
— Em breve eu vou te visitar.
— Alguma data?
— Hum, eu acho que terei férias daqui a quatro meses.
— QUATRO MESES?????
— Tô brincando! Acho que haverá um feriado prolongado mês que vem. Vou aproveitar para ir ver você.
— Ufa. Eu já ia surtar.
Para variar, pensei.
— Bom, estou indo para minha aula de zumba. Qualquer coisa, lembre que eu existo, Mahana.
— Pode deixar.
— Pode deixar — ela me imitava com certa irritação — Se eu não ligo você não falaria comigo.
— Ok, eu vou ligar mais vezes.
— Ótimo. Fica com Deus ou sei lá no que você acredita.
— Amém.
A chuva havia dado uma diminuída. O tempo parecia ótimo para fazer um bolo de laranja e eu aproveitaria as que sobraram da última vez que fiz um.
Já conseguia preparar aquela massa de olhos fechados. Em vinte minutos a colocava para assar no forno a cento e oitenta graus.
A campainha tocou enquanto lavava o copo do liquidificador. Sequei as mãos no pano de prato para atender a porta.
— Oi, professora!
Violet sorria para mim, com um ânimo totalmente restaurado. A pele corada e os lábios levemente hidratados com algum tipo de gloss. Ela estava com uma vasilha em mãos.
Lá no jardim, parado com um guarda-chuva, avistei Asaloom. Roupa preta como sempre. Mas desta vez usava um sobretudo também. Preto, claro.

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Asaloom
Roman d'amourMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...