Asaloom me deu as costas e eu o segui, sem saber muito o que fazer. De um lado estava o meu algoz, que havia acabado de tentar me violentar* e do outro, um homem estranho que estalou os dedos e fez outro humano cair no chão se contorcendo de dor.
— Não, eu não vou com você. — eu disse assustada parando no meio do caminho— Conheço você tanto quanto conheço Carlo.
Asaloom estava de costas, tentando atravessar a rua. Ele olhava de um lado ao outro, certificando-se de que não vinha carro. Ele virou o rosto levemente para a esquerda e disse:
— Sim, tem razão. É um risco. Mas se eu fosse você, confiaria em mim. Aquele cara era um imbecil* sem tamanho. A aura dele era escura feito piche.
Eu olhava para os lados, parecendo não ter escapatória.
— E não há com o que se preocupar, eu chamei um Uber para você.
Ele acenou para um Ford k branco que estacionava logo do outro lado, bem em frente a um dos táxis. Me sentia uma tola*. Eu não precisava ter seguido o conselho do segurança. Poderia ter ficado do lado do pub para chamar o meu Uber. Talvez tivesse evitado o ataque de Carlo.
— Relaxa, Mahana, eu não preciso abusar* de meninas bêbadas! — Completou ele ao perceber a minha hesitação.
As palavras de Asaloom me deixaram constrangida, e eu fiquei sem reação.
Atravessamos a rua em direção ao veículo O motorista baixava o vidro do carro para nos identificar. Asaloom acenou para ele
— Não precisava, Asaloom. O meu Uber estava quase chegando.
Asaloom ouviu o que eu disse. Eu o vi sorrindo com o canto dos lábios, como se dissesse: "Uhum, nós dois sabemos que não havia Uber algum chegando, pois você não é capaz de se manter segura sozinha, Mahana". Era como se eu ouvisse a voz dele dizendo isso.
Mas nenhuma palavra foi dita por ele. Asaloom apenas cumprimentou o motorista com um boa noite e apoiou o antebraço na janela.
— Poderia deixar essa moça em casa? — Ele apontou para mim, que atravessava a rua encolhida na minha jaqueta jeans.
Apesar de eu ter sido atacada, eu me sentia envergonhada, como se a culpa do que Carlo fizera fosse minha. Eu também estava com vergonha de Asaloom.
Eu devia estar corada de vergonha.
— Mas é claro que deixo, senhor. É sua namorada? — O motorista perguntou.
Asaloom olhou para mim e coçou a sobrancelha. Qualquer um perceberia que eu não estava a altura de um cara bonito bem vestido feito ele.
— Não, mas é uma amiga. Espero que a leve em segurança. Estarei acompanhando o trajeto. — ele fez uma pausa e sorriu com o canto dos lábios de novo, totalmente regado a presunção, como se soubesse de algo que eu desconhecia — Acompanhando pelo aplicativo, 'claro. — Completou.
Asaloom abriu a porta e eu entrei. Estava me sentido finalmente segura.
— Boa noite, Mahana. E tente ser mais cuidadosa na próxima vez que sair e ficar bêbada. Sundale não é tão segura quanto parece!
Eu odiava ter que admitir para mim mesma que o pai de Violet tinha razão. Todos os sinas estavam ali. Mamãe me ligou antes de eu sair, o estranho na entrada do pub me aconselhou quanto aos tarados* que eu poderia encontrar no bar. Fora meus pressentimentos, que eu ignorei todos. Asaloom tinha razão, eu deveria ter sido mais cuidadosa.
— Obrigada pela ajuda — Eu me preparava para entrar no carro — Mas me diz uma coisa...
— Seja rápida, o motorista já iniciou a corrida.
— Certo. Como me encontrou aqui? Estava no pub? Como me viu?
— Sundale é pequena. Digamos que eu saí para tomar um ar fresco e vi você em apuros. Olha que sorte a sua! — Sua ironia soava irritante as vezes.
— Entendi — Eu disse ao perceber que Asaloom nunca me daria uma resposta que fosse me satisfazer.
Mas o que eu queria que ele dissesse: Ah, eu estou vigiando você?
Acho que seria a única resposta que me satisfaria, pois era o que eu imaginava.
— Hum, que bom. Agora vá para casa e tranque bem a porta. Boa noite.
Eu encolhi os ombros e o olhei por alguns segundos, me sentindo uma adolescente sem um pingo de maturidade, que havia feito algo de errado e fora pega pelo pai. E agora recebia um conselho e advertência verbal. Asaloom se fazia superior de inúmeras maneiras, e não era apenas pelo dinheiro.
O motorista deu partida e Asaloom ficou parado me vendo partir. Eu o via no reflexo do retrovisor do motorista O homem alto, imponente, de cabelos pretos feito carvão. Misterioso. Com as mãos no bolso.
A sua imagem sumiu depois do segundo cruzamento, quando pegamos à esquerda rumo ao bairro dos chalés.
Fui a viagem toda relembrando do barulho do estalar de dedos, ou de Asaloom aparecendo do nada, feito um vulto. Em que momento que ele passou que nem Carlo havia percebido?. Óbvio que não era essa a explicação para que Carlo caísse se contorcendo em dor, não era o estalar de dedos. Puxei o meu celular e pesquisei coisas sobre hipnose e era uma explicação razoável até. Ou Carlo sentiu tanto medo de Asaloom que teve um mal*-estar qualquer.
A minha mente de bióloga tentava resgatar alguma matéria de fisiologia humana da faculdade que também corroborasse as minhas hipóteses: descarga adrenérgica? Ativação do sistema simpático? Há animais na natureza, por exemplo, que diante de um predador, simplesmente se fingem de mortos* para se safarem. Carlo estaria se fingindo de morto? Talvez não, pelo contrário, ele urrava de dor.
A corrida foi muito rápida ou eu ainda estava embriagada o suficiente par perder senso de tempo. O automóvel já iluminava a caixa de correios do meu chalé enquanto estacionava
— quanto ficou? — Perguntei ao motorista.
— Nada, senhora, já está paga. Paga pelo aplicativo do seu amigo! — Respondeu o motorista clicando na ela do celular para finalizar a corrida — Tenha uma boa noite.
Ótimo, agora eu devia para um cara que não gostava de mim.
Agradeci ao motorista e entrei não chalé querendo me livrar do frio cortante do lado de fora.
Eu ri de mim mesma, quando entrei no chalé, porque dei duas voltas na chave ao trancar a porta. A voz de Asaloom me dizendo para tomar cuidado e manter a porta bem trancada ecoava na minha mente. Era engraçado e ligeiramente trágico. Uma mulher de trinta anos recebendo conselhos de estranhos por estar bêbada na rua. E eu os estava seguindo. Ah, pronto!
Por sorte ainda eram pouco mais de uma e meia da manhã e a minha primeira aula no dia seguinte seria apenas as nove horas. Banho e cama o mais depressa e rezar para não ter ressaca ao acordar. Mas a tarefa difícil mesmo seria pegar no sono. Eu ainda pensava sobre Asaloom aparecendo do nada, feito um vulto preto, ou de Carlo caindo no chão. Não fazia sentido, não mesmo!
Nota da autora: esse ASALOOM cada vez mais misterioso, né? Afff. Hahahah. O que será que ele quer?
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ANOITECER
RomanceMahana, após uma dura separação de seu marido, é selecionadas para ser professora de Biologia já em um colégio na misteriosa cidade de Sundale, ao Sul do país. Logo que chega a cidade, ela escuta falar do poderoso Ásaloom Youssef, um descendente de...