XXIV -- VOU CONFRONTAR ASALOOM

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O tempo que parecia vingar com o sol, mudou de repente, sendo encoberto por nuvens carregadas de um cinza pesado. Após alguns trovões, uma chuva começou a cair com uma intensidade muito aquém da ameaça que as nuvens enegrecidas no céu transmitiam.


Nada de temporal.


Me esforcei o máximo que pude para estudar a aula do dia seguinte. Sempre me pegava distraída pensando nas coisas que aconteceram. Nos sonhos lúcidos, nas aulas de Violet e Asaloom me detestando simplesmente por eu existir. A única coisa capaz de me fazer emergir daquele breu de pensamentos, fora a ligação da mamãe.


— Você vai baixar a cabeça para um homem, filha?


Os trovões e raios intensos do lado de fora me diziam que a chuva pioraria, fiquei com medo de uma queda de energia. Então me mantive sentada no chão da sala do chalé perto de uma tomada, carregando o celular. Ouvia mamãe me dando conselhos sobre como lidar com o meu impasse diante dos assédios* do pai de Violet.


— Não se trata disso. Ele é uma pessoa importante aqui, mãe. Não significa apenas confrontá-lo. Para se ter uma ideia, Sundale toda gostaria que Asaloom Youssef desaparecesse. Mas nem mesmo uma comunidade inteira é capaz de causar uma ameaça. Eu sozinha é algo estúpido* demais.


— Hum, importante — Desdenhava mamãe —. Dane-se, Mahana. Não baixe a cabeça para esse Asaloom... Mas que nome mais estranho.


Eu ri, pensando que mamãe também me dera um nome esquisito. Mas não disse nada e nem ela percebeu a sua própria contradição.


— Não sei o que posso fazer. Estou a um passo de perder o meu emprego.


Mamãe suspirou.


— Olha, filha. Eu adoraria que você fosse demitida e voltasse para SomethingHill. Mas sei também que você lutou muito para ter essa vaga de emprego. Então, entre o meu desejo* e o seu, eu fico com o seu. Não deixe esse homem te prejudicar. Enfrenta ele, ué. A minha Mahana já passou por tanta coisa, não vai ser um cara de nome estranho que irá fazê-la baixar a cabeça, não é?


— E se eu perder o emprego? Eu não sei, de verdade. Eu estava certa de que construiria a minha vida aqui e acabei ganhando como inimigo o cara mais poderoso da cidade.


— Mahana, escuta uma coisa: você é maior que isso. Se perder esse emprego vai encontrar outro. Você é uma profissional excelente. Emprego não vai faltar. Pare de ser medrosa.


Foi a primeira vez que tive uma conversa com a mamãe em que o conselho dela pareceu fazer sentido.


— Vou pensar no que fazer. Depois ligo para senhora, beijos. Te amo.


— Ouça o que te digo, não baixe essa cabeça, ok? Asaloom é nome de cachorro, pelo amor de Deus. Me prometa que não vai ceder a um cara com nome de cachorro.


— Não vou, não vou — Eu ria.


— Assim que se fala. Fica bem. Eu também te amo.


A chuva perdurou por toda a tarde. Após uma última checada nas anotações das aulas, eu terminei de dobrar umas roupas que secavam no varal. O tempo inteiro fiquei ruminando minha conversa com a mamãe. Sobre se deveria fazer algo a respeito ou não.


Ela estava certa. Eu não poderia deixar Asaloom acabar com o sonho que eu tinha. Eu havia lutado muito por aquela vaga de professora em Sundale.


Vou confronta-lo, disse a mim mesma fechando a última gaveta da cômoda ao terminar de dobrar a roupas. Estava em epifania, eufórica e tomada de coragem de fazer algo que poderia custar de vez o meu trabalho. Mas mamãe tinha razão, eu devia agir. como uma mulher forte. Eu diria tudo o que pensava e faria Asaloom me explicar de uma vez por todas qual a razão dele me odiar* ao ponto de colocar meu trabalho em risco.


M: Jessica, tá aí?


J: Oi, tô. Mas logo não estarei. Davi me chamou para sair hoje.


M: Certo! Serei breve. Sabe o endereço do Asaloom Youssef? :)


J: Que??? Tá acontecendo algo que eu não sei? Kkkkk ^^


M: Não, Jess. Se tivesse eu te falaria =]


Eu já tinha uma mentira pronta para contar, pois não prever um surto de curiosidade de Jessica quando eu pedisse o endereço de Asaloom seria burrice demais.


J: Então para que quer o endereço dele?


M: Violet esqueceu o casaco na escola. Vou entregar.


J: Certo. Por sorte eu sei. Vou te mandar.


Um link de GPS apareceu nas mensagens.


M: Obrigada, Jess. Fico te devendo uma!


J: De nada. L.O.L


M: Bom encontro com o Davi.


J: É, espero que seja melhor que o primeiro. Juro que se não for bom, eu vou dar com o pé na bunda* dele.


M: Vai dar certo. Beijos.


J: Beijos, Mah Valeu! S2


Peguei o meu casaco e sai em direção ao meu carro. Iria confrontar Asaloom Yussef.


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