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16 de julho de 1990,
Sábado à noite.

Samuel

Durante todo o percurso, fomos em completo silêncio. Sérgio me olhava preocupado pelo retrovisor do carro e eu só tinha olhos para a garota encolhida perto da janela. Os meninos ainda tentaram fazer algumas piadas para descontrair, mas a verdade é que todo mundo estava cansado demais.

Percebo que o carro começa a diminuir sua velocidade e vejo que já estamos na casa de Lyla. Abro a porta do automóvel e ajudo-a a descer.

- Eu vou deixar o Bento na casa dele, viu? Fica bem lindinha! - Sérgio sorri e olha para mim - Daqui a pouco estarei em casa! - aceno positivamente.

Ele arrasta o carro, deixando-nos parados em frente a casa que estava com as luzes desligadas.

- Acho que meus pais não voltaram ainda, eles saíram! Agora não tenho como entrar em casa! - Faz uma careta engraçada.

- Bom, vamos pra minha, então. Você dá um tempo lá e depois eu te trago de volta!

Ela olha para mim e vejo seu semblante mudar para um mais preocupado.

- Certo. É bom que eu resolvo esses seus machucados! - aponta para meu rosto e mãos.

Seguimos em direção à minha casa em silêncio. O barulho das cigarras e do balanço das árvores se fazia presente naquela noite de luar tão estrelada. Por incrível que pareça, a sensação que pairava no ar era de tranquilidade, não desconforto. Alcanço a chave em meu bolso assim que percebo a silhueta da minha morada com as luzes apagadas. Abro a porta da casa e dou espaço para que ela entre.

- Bem-vinda à minha humilde residência. - Faço um gesto dramático, tentando esconder as dores das feridas, arrancando uma risada sua.

- Será que vamos acordar seus pais? Olha, a última coisa que eu quero é incomodar e...

- Shhh! Não tá incomodando nada, vem! - puxo-a.

Ela ri, e seguimos para a sala, onde nos acomodamos no sofá.

- Sua casa é linda. - observa ao redor.

- Obrigado! É simples, mas é o meu refúgio. - Sorrio.

Ela percebe meu desconforto e insiste em cuidar das feridas.

- Onde tá a caixinha de remédios?

- Na cozinha, em cima da geladeira!

Nos direcionamos ao cômodo e ela vai em direção ao eletrodoméstico. Numa tentativa falha de alcançar o objeto, a mesma começa a dar pulinhos e tentar localizar a caixinha no alto. Observo a cena segurando ao máximo o riso, mas a graça acaba quando sou fuzilado pelo olhar mortal da morena.

- Ao invés de ficar querendo rir, porque não me ajuda aqui? - arqueia as sobrancelhas.

Com um certo receio, alcanço de imediato, entregando em suas mãos.

- Poxa, valeu por cuidar de mim Ly! - Agradeço, olhando nos olhos dela.

- Não foi nada. Eu só não gosto de ver as pessoas machucadas. - Ela responde com um sorriso gentil.

Sentamo-nos no sofá da sala e ela começa seu trabalho com os curativos.

- Aí!!!... - gemo de dor.

- Calma rapaz, deixe de onda! - diz risonha.

- Queria ver se fosse você no meu lugar!

- Eu não faria esse drama todo!

Olho para ela perplexo, totalmente chocado com sua ousadia de me dizer isso.

Flor de Mandacaru | 𝗠𝗔𝗠𝗢𝗡𝗔𝗦 𝗔𝗦𝗦𝗔𝗦𝗦𝗜𝗡𝗔𝗦Onde histórias criam vida. Descubra agora