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16 de Julho de 1990,
Sábado, 15:40.

Lydia

Aqui estou, sentada na cama e tentando despertar do longo sono que tive. Reúno toda coragem que eu tenho e vou até o banheiro para jogar uma água no meu rosto, percebendo que acordei extremamente tarde. Voltando para o quarto, percebo que no chão em direção a janela tem uma pedra embrulhada em um papel branco, despertando toda a minha curiosidade.

Apanho o objeto do chão e começo a desenrolar a folha numa ansiedade extrema. Vendo do que se tratava, um sorriso se faz estampado em minha face com um sentimento enorme de familiaridade.

Oi, Lyla! Acabei esquecendo de te dizer o horário do show! Vou passar aí por volta das 18:20 para te buscar, certo?

Obs¹: Passei aí de manhã para falar com sua mãe que você iria comigo (Enquanto a dorminhoca estava no décimo sono)

Obs²: Tenho certeza que você vai adorar o show!

Samuel

Mordo meus lábios escondendo um sorriso e recolho duas balas de maçã que vieram embrulhadas com o bilhete. Em seguida, corro para o armário na intenção de escolher uma roupa bem descolada. Não que eu quisesse impressionar um certo alguém, longe disso. Separo a vestimenta e vou em direção ao banheiro, começando a lavar meus cabelos que estavam mais para um ninho de cobra.

Me arrumo durante 2 longas horas no quarto, penteando cabelo, fazendo maquiagem e pintando as unhas. Depois de tudo isso, visto uma regata vermelha, jaqueta de couro preta, calça boca de sino, cinto preto, bota preta e por último, e não menos importante, meus óculos pretos redondos. Olho-me no espelho enquanto o perfume afrodisíaco que exala do meu corpo invade minhas narinas e eu só consigo pensar em uma coisa:

Eu estou muito gata… 

Sempre tive a autoestima alta e tento não me abalar com algumas crises de insegurança. Não nego que às vezes me pego rotulando algumas partes do meu corpo e taxando como “feio” ou “desarmônico”, mas eu sempre procuro mentalizar palavras de afirmação para acabar com qualquer resquício desse tipo de pensamento, afinal cada um é bonito do seu próprio jeito.

Animada, desço em direção ao andar de baixo e encontro minha mãe na cozinha lavando os pratos.

— Oi mãe! — vou em direção a fruteira e pego uma maçã.

— Oi, meu amor! Como você tá linda, fia! O fio da Dona Nena teve aqui mais cedo e me disse que tinha te convidado para ver um show… — limpa as mãos no pano de prato — Achei ele tão jeitoso, é seu paquerinha? — assim que ouço, me engasgo com um pedaço da fruta.

Após alguns minutos tossindo, sinto minhas bochechas esquentarem e minha maior vontade era de enterrar meu rosto num buraco.

— MÃE!!!!!! — exclamo nervosa — Nós somos só amigos… — digo baixinho.

Tampo meu rosto com as mãos e ouço minha mãe gargalhar.

— Não precisa ficar com vergonha, lyla! Eu já tive sua idade, sei como é… — diz com um sorriso dócil — Mas, se você diz que são só amigos…

— Aonde está o pai? — tento mudar de assunto.

— Foi no supermercado com Vic, comprar algumas coisas que estão faltando… — diz guardando as louças.

— Ok, eu vou esperar os meninos na sala!  — vou em sua direção e lhe dou um beijo na bochecha — Mais tarde estou aqui, viu?

— Certo filha! Eu, seu pai e seu irmão vamos sair nestante também. Mas não se preocupe que vamos voltar cedo, tá bom? Se divirta!

Flor de Mandacaru | 𝗠𝗔𝗠𝗢𝗡𝗔𝗦 𝗔𝗦𝗦𝗔𝗦𝗦𝗜𝗡𝗔𝗦Onde histórias criam vida. Descubra agora