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13 de julho de 1990, Bahia, Porto Seguro.

Lydia

O sol já despontava no horizonte quando as luzes da janela e a suave brisa do mar invadiram meu quarto, despertando uma mistura de animação e dúvida. Espreguicei-me na cama e bocejando preguiçosamente fiz o seguinte questionamento:

Já é de manhã?

De repente, a porta se abriu estrondosamente revelando meu irmão, cuja presença me fez revirar os olhos e praguejar mentalmente. Enquanto eu buscava o eterno conforto do meu acolchoado, ele pulava loucamente na cama, fazendo-a tremer.

- Lydia, anda logo! A mãe pediu para te chamar, se não você vai se atrasar para a viagem! - alertou Victor, interrompendo meu desejo por tranquilidade.

- Hãn?...Oxe?... - franzo as sobrancelhas - que horas são?

- São 6:30h e nós vamos sair 7:00h - sua resposta me fez dar um pulo da cama, surpreendida.

- PORRA... é,quer dizer... diga para a mãe que já vou me arrumar! - balbuciei, pegando minhas roupas e sorrindo sem graça.

- Tá, só não demora, Lyla! - saiu correndo.

Corro para o banheiro e assim que abro o registro sinto os pingos d'água quentes tocarem minha pele suavemente, como se estivessem num extremo cuidado com meu corpo. Começo a cantarolar "Palco" de Gilberto Gil, perdendo-me em pensamentos.

Desligo o chuveiro e começo a me enxugar, pensando em como vai ser a nossa vida de agora em diante. Meu pai recebeu uma proposta de emprego bastante generosa em São Paulo, então vamos nos mudar para Guarulhos. Vou morrer de saudade da minha terrinha, mas infelizmente é necessário.

Enfim, ando em direção ao meu guarda roupa e começo a ver as opções de vestimenta. Escolho uma regata branca, calça jeans clara rasgada e um cinto preto. Nós pés, optei por um All Star preto de cano longo - que comprei da última vez que fui em São Paulo - combinando com minha bolsa de lado bege.

Recolho as minhas malas e começo a juntar as caixas que estavam com meus pertences. Logo vou em direção ao canto do quarto, observando meu fiel e esbelto instrumento.

É um belo acordeon...

Confesso que tenho uma tara muito grande por instrumentos. Desde pequena, a música é extremamente presente em minha vida. Meus pais sempre estimularam essa vontade em mim, tanto que aprendi a tocar vários instrumentos, mas sou extremamente apaixonada pela minha sanfona.

Desço rapidamente com minhas coisas, ouvindo os gritos de minha mãe ecoarem pela casa. Quando chego no andar de baixo, encontro toda a minha família reunida. Meu pai, minha mãe e Victor já estavam colocando as coisas fora de casa.

- Bom dia, mainha! Bom dia, painho!

- Bom dia, minha fia! Adiante logo aí, a gente já vai sair daqui a pouco! - diz minha mãe, um pouco irritada.

- Calma, Rosa! A menina acabou de acordar, tá digerindo as coisas ainda! - diz meu pai risonho.

- É mãe, pera aí! Eu vim atrás de comida, tô morrendo de fome! - nesse momento, minha barriga ronca e dou um sorriso sem graça.

- Se colocar um boi na tua frente, é capaz de tu engolir ele inteiro! Toma, - pega uma vasilha na sacola e me dá - eu fiz uma marmita com cuscuz aqui, já sei como é a cria que eu tenho em casa!

Dou um abraço nela e começo a devorar aquela bendita refeição. Não tem nada melhor que um cuscuz para começar o dia.

Com a ajuda do pirralho que eu chamo de irmão, coloco todas os meus pertences no porta malas e começo a fazer cócegas nele.

Flor de Mandacaru | 𝗠𝗔𝗠𝗢𝗡𝗔𝗦 𝗔𝗦𝗦𝗔𝗦𝗦𝗜𝗡𝗔𝗦Onde histórias criam vida. Descubra agora