Capítulo 4

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JAKE ria histericamente, ele adorava rir da minha desgraça, mesmo que eu não achasse aquilo nada engraçado. Franzi o cenho enquanto olhava para Jake com um olhar repreendedor, esperando que ele captasse a mensagem e parasse de rir, mas ele não parou, na verdade acho que a minha expressão só fez ele rir ainda mais. Sunghoon por sua vez, se manteve mais neutro e calado, como sempre, mas o olhar dele tinha um toque de julgamento, e sim, talvez seguir uma garota até uma loja de música sem nunca ter falado com ela é bem estranho, mas eu estava me sentindo bem julgado.

—O que tá rolando?— Hyemin perguntou enquanto entrava na sala.

—Você não vai acreditar no que esse cara fez.— Jake disse enquanto ainda ria.

—Eu espero de coração que isso não esteja relacionado ao meu irmão.— A Lee se sentou ao lado de Sunghoon em uma cadeira, fazendo com que o garoto arrumasse sua postura. —Tem?

—Indiretamente.— Respondi, ainda levemente envergonhado.

—Ai meu Deus.— Ela disse pausadamente. —Você realmente perseguiu Bokyung?

Eu não disse nada, apenas fiz que sim com a cabeça.

—E o que ela fez?

—Primeiro eu a impedi de ser atropelada, ela se curvou pra mim e correu até uma loja de discos.— Comecei a contar, ficando envergonhado de novo ao lembrar do ocorrido. —E eu segui ela até lá.

—Ah não.

—Eu tentei falar com ela, mas ela fugiu gritando.

Jake voltou a rir como se a minha desgraça fosse a coisa mais engraçada do mundo, Sunghoon colocou a mão na boca, reprimindo uma risada.

—Não é engraçado.— Murmurei, me encostando na minha cadeira.

—É bem engraçado na verdade.— Sunghoon disse.

Bufei, Hyemin suspirou revirando os olhos.

—Vocês homens não pensam, né?

—Não me inclua nisso.— O Park deu de ombros.

—Foi culpa do seu irmão, ele que me falou pra seguir ela.— Contestei.

—Foi culpa sua por seguir os conselhos dele.

—Foi culpa sua por me pedir pra falar com ele.

—Eu pedi pra falar com ele, não quer dizer que eu te pedi pra fazer o que ele diz.— A Lee argumentou.

A esse ponto eu me lembrei: Hyemin sempre estava certa, e mais uma vez, ela estava certa e eu não tinha como contestar o argumento dela. Me impressionei como uma pessoa tão imprudente e outra que estava sempre certa foram criados pelas mesmas pessoas, as vezes eu me esquecia que Heeseung e Hyemin eram irmãos.

—O que vai fazer agora?— Sunghoon indagou, me tirando de meus pensamentos.

—Como assim?

—Com Yoon Bokyung, o que você vai fazer?

—Ele deve estar com muita vergonha pra falar com ela.— Jake riu.

—Não eu...— Mordi meu lábio inferior nervosamente. —Eu vou tentar falar com ela.

(...)

Saí da sala mexendo no cabelo enquanto suspirava, eu queria tentar falar com Bokyung mas tinha medo que ela fugisse de novo, os outros até decidiram cancelar o ensaio da banda para que eu pudesse tentar me explicar para ela. Eu sabia que ela estava no jardim, já que nós últimos dias observei que ela nunca almoçava, o que chegou a me deixar bem preocupado também, cheguei na porta para o jardim e fiquei observando ela, sem saber o que fazer, eu não queria assustar ela de novo, ao mesmo tempo que não queria ficar sem falar com ela.

Vi que Bokyung estava prestes a se levantar então rapidamente me escondi atrás da parede para que ela não me visse, mas então escutei os passos dela se aproximando de onde eu estava, meu corpo congelou, eu a vi saindo do jardim enquanto olhava para suas mãos. Me surpreendi ao ver as mãos dela com alguns machucados, rapidamente caminhei até ela e parei em sua frente, olhando para suas mãos.

—Você tá bem?

Os olhos dela se arregalaram novamente e eu coloquei minha mão em sua boca, evitando que ela gritasse igual a última vez.

—Se acalma, eu não tô te perseguindo.— Eu disse, eu praticamente estava, mas não era por mal. —Eu vou te ajudar, tá bom?

Lentamente tirei minha mão de sua boca, esperando que ela dissesse algo, mas ela apenas se manteve em silêncio. Eu olhei para suas mãos de novo e examinei as feridas, usando o pouco de conhecimento que eu ganhei sendo babá da minha sobrinha e então olhei para os olhos dela de novo, eram tão castanhos e brilhantes que me faziam querer me perder naquele olhar para sempre.

—Vai precisar colocar um curativo, se não pode infeccionar.— Avisei enquanto ela apenas se manteve em silêncio. —Eu vou na enfermaria buscar alguns curativos.

Me virei e comecei a caminhar, ela foi logo atrás de mim, me seguindo em passos rápidos. Olhei em sua direção ela continuava a me encarar com os olhos arregalados, quase um olhar penetrante, as bochechas dela estavam levemente rosadas e notei ela apertando os dedos contra a barra da saia do uniforme então parei de andar e me virei na direção dela.

—Ei, isso pode piorar seu machucado.— Apontei para as mãos dela, ela rapidamente soltou a barra de sua saia e cruzou os braços. —Você precisa tomar mais cuidado.

Bokyung olhava para o chão nervosamente, não pude conter o meu sorriso, ela era tão adorável que eu não conseguia mais parar de sorrir quando via ela. Após cerca de um minuto e meio de caminhada, nós chegamos a enfermaria e eu abri a porta, mas notei que a enfermeira não estava lá, então apenas comecei a procurar pelos curativos, eu olhava para Bokyung de vez em quando e notei que ela estava de pé e se escorava na parede com as duas mãos juntas enquanto olhava para mim, desviando o olhar toda vez que eu me virava. Eu soltei uma risadinha para o quão adorável ela era.

—Você pode se sentar ali.— Apontei para uma cadeira.

Bokyung apenas fez que sim com a cabeça e se sentou na cadeira com as duas mãos sobre suas coxas. Eu peguei os curativos e fui até ela, gentilmente colocando-os nos arranhões em suas mãos enquanto ela olhava para mim. Tentei não transparecer, mas meu coração estava disparando, eu nunca tinha estado tão perto dela daquela forma. Eu olhei para ela, os olhos dela estavam grudados nas minhas mãos enquanto eu fazia o curativo dela, então voltei a olhar para baixo para conseguir terminar o meu serviço. Assim que terminei dei um passos para trás e sorri para ela.

—Prontinho.— Sorri e ela começou a se levantar. —Ei, espera.— Segurei o braço dela e ela se sentou. —Eu tenho uma pergunta pra você: por que que toda a vez que eu tento falar com você, você nunca me responde?

Bokyung ficou em silêncio, ela olhou fixamente para mim por alguns segundos, sem dizer ou fazer nada. Após alguns segundos de silêncio (que pareceram horas) ela levantou os dois dedos da mão direita e tocou em sua orelha duas vezes antes de fazer um "X" com os dedos. Não entendi aquele gesto então apenas olhei para ela confuso, ela apontou para o meu telefone que estava no meu bolso e fez um gesto abrindo e fechando a mão, então entendi que ela queria usá-lo para algo. Eu desbloqueei o telefone e entreguei para ela, que rapidamente digitou algo e entregou o telefone para mim.

Estava aberto no bloco de notas e só tinha uma frase escrita, uma frase que me fez finalmente entender todo o motivo pelo qual ela nunca me respondia. A única coisa escrita naquele bloco de notas não era nada mais nada menos do que: "eu sou surda".

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