13. tudo ficará bem

58 9 18
                                    

   Thomas sentiu seu corpo acordar, e como consequência, a forte dor de cabeça se fez presente, sendo ainda pior no local onde foi atingido. Seus olhos se abriram lentamente, demorando quase dois minutos para conseguir focar em tudo que estava ao seu redor, e foi como se todos os seus sentidos voltassem a funcionar juntos. Velark notou que estava em um porão escuro e sujo, a única luz vinha de uma janela pequena, mas isso não era suficiente para iluminar o ambiente. O cheiro de terra era forte, o chão e as paredes estavam sujas e cobertas por mofo. O lugar era parecido com um cenário de filme de terror.

O rapaz moreno sentia seus pulsos e tornozelos arderem pelas cordas que o amarrava na cadeira que estava sentado. Ele não entendia o que estava acontecendo, como havia ido parar naquele lugar e quem havia o atacado, mas de uma coisa ele tinha certeza: a partir do momento em que pisou em Outer Banks, conseguiu inimigos o bastante para que fizessem algo do tipo. Sua preocupação nem era com si mesmo, ele só queria saber se os seus amigos e a sua irmã estavam bem. Thomas não suportaria ver alguém fazendo mal a Zoe, aquilo ele não iria tolerar.

Minutos mais tarde, uma pessoa começou a sair das sombras e caminhar até onde a visão de Thomas conseguiria reconhecer. E então, uma expressão surpresa tomou conta do rosto do garoto, que esperava qualquer outra pessoa, menos aquela que estava à sua frente. A combinação da surpresa e do choque fizeram Thomas começar a gargalhar, ainda pensando que seus olhos o estavam enganando.

── Pelo jeito não existe nenhum pai decente nesse lugar mesmo ── o garoto foi o primeiro a se pronunciar, negativando várias vezes enquanto olhava para aquele homem diante de si. ── Big John…confesso que estou surpreso, achei que fosse uma boa pessoa, não um homem do tipo que sequestra os amigos do seu filho ── ele continuou, mas o homem barbado e de óculos permanecia sério.

── Eu realmente não queria fazer isso, garoto, mas vocês não me deram escolha. Eu só quero uma coisa de você ── o homem falou minutos depois, começando a caminhar pelo chão sujo do porão. E enquanto o homem falava, Thomas se esforçava para se soltar daquelas cordas. ── O Royal Merchant. Eu sei que você sabe onde está, eu só quero saber o lugar, e aí eu te solto

'então é só isso, o ouro'. Foi o que Thomas pensou. Ele sabia que seu pai e o seu tio eram espertos o bastante para não deixarem o ouro na Califórnia, e Big John era só um, não conseguiria ser mais esperto do que ele e os seus amigos, foi por esse motivo que ele deu uma risada sincera.

── Los Angeles, Califórnia. O endereço eu não sei, sou péssimo decorando essas coisas. Se você der sorte, vai conseguir pegar o ouro antes do Arthur e Ward tirarem ele de lá ── Velark dizia com uma calma admirável.

No entanto, sua calma acabou no momento em que o barulho de tiro fora ouvido e o corpo de Big John caiu bem diante de si. Seus olhos, agora desesperados, rodaram por todo o porão em busca do responsável pelo que acabara de acontecer, e para a sua surpresa -ou nem tanto-, se fez presente seu pai Arthur e seu tio Ward. O garoto sentia seu coração acelerado e sua respiração descompassada, enquanto os dois homens puxaram o corpo morto do pai de John B para o canto do porão.

── Eu te avisei que pessoas se machucariam, Thomas, mas você não acreditou em mim. Você sabia que se acabasse se envolvendo com as pessoas erradas, seria o único a pagar por tudo isso ── Arthur começou a falar e a sua voz grave ecoou pelo lugar onde estavam. ── Quer tanto assim ajudar seus amigos? Acha mesmo que vale a pena? Você faz tanto por eles, mas onde eles estão agora? Você está sozinho, Thomas, sempre esteve. Primeiro foi a vagabunda da sua mãe, e se nem a sua família você consegue manter, por quê achou que seus amigos ficariam?

As palavras duras fizeram lágrimas se acumularem nos olhos do garoto, que tinha seu maxilar travado e os punhos cerrados de raiva. No fundo ele sabia que não era verdade, que seus amigos ajudariam ele se soubessem o que estava acontecendo, mas uma parte dele sabia também que seu pai estava certo. Thomas nunca conseguiu manter ninguém porque ele sempre foge quando está com medo. Foi assim com todos que já tentaram se aproximar.

── Você é tão ingênuo, não consegue enxergar o que está bem diante dos seus olhos ── o homem prosseguiu, parando em frente a cadeira onde Thomas estava e segurando seu queixo com força, puxando o olhar dele para si, enquanto as lágrimas contidas banhavam o rosto do garoto moreno. ── Aqueles que você chama de amigos, só estão te usando para chegarem até o ouro. Ou você acha mesmo que se fosse um garoto qualquer eles ainda iriam te querer no grupo? Não seja tão burro, eu não te criei assim

── Cala a boca! Quer saber de uma coisa, pai? Chegamos aqui faz tão pouco tempo e mesmo assim eles são mais família pra mim do que você já foi um dia! Eu não me importo com o ouro, não me importo com você e nem com o imprestável do seu irmão que paga de bom pai. A única coisa que eu quero é nunca mais precisar ver a sua cara, e se o ouro vai me levar pra longe de você, que seja ── as palavras contidas por anos, saíam finalmente, fazendo o garoto respirar aliviado por dizer tudo o que tinha vontade.

Arthur soltou o rosto do filho com força, olhando para ele com desdém enquanto fechava seus punhos. Thomas sabia o que estava por vir, foi por isso que apenas continuou a falar, sabendo que não mudaria a sua situação se continuasse calado.

── Você estragou a nossa família. Cadê a mamãe? Cadê a Zoe? Elas estão desaparecendo por sua causa! Você foi um marido de merda e é um pai de merda também, então não vem me culpar por estar tentando melhorar a minha vida e cuidar da minha irmã, coisa que você nem se deu o trabalho de fazer ── e assim que a sua boca se fechou, ele sentiu seu rosto ser atingido por um soco e o gosto metálico se fazer presente na sua boca.

── Acha que vai ser feliz se fugir de mim? Acha mesmo que vai ter a vida que sempre sonhou? Pois me deixe te contar uma coisa…se você fugir, cedo ou tarde você vai cair ── Thomas gargalhou com as palavras do pai, enquanto uma linha de sangue escorria pelo canto dos seus lábios.

── Se eu cair, papai… você cai junto comigo, é assim que uma família funciona

Segundos depois de Thomas terminar de falar, seus amigos desceram as escadas do porão. Enquanto os outros tentavam atacar Ward e Arthur, John B correu desesperado para o corpo do seu pai que estava caído no chão, começando a chorar enquanto o balançava e pedia para o homem acordar. Já JJ, que estava com uma arma na mão, mirou no pai de Thomas e disparou, acertando o ombro do homem mais velho. No mesmo instante, o caos se instalou naquele porão, com choro, briga e gritos ecoando alto.

── Porra, eu atirei no seu pai, me desculpa ── Maybank falou quando se abaixou para cortar as cordas que prendiam Thomas na cadeira. Quando estava solto, o moreno alisou os próprios pulsos que estavam vermelhos e doloridos.

── Vamos sair logo daqui! ── Rafe gritou e os outros concordaram. Sarah foi a que conseguiu convencer John B a deixar o corpo do pai e sair.

Os nove correram escadas acima, saindo daquela casa que Thomas ainda não havia identificado. Tudo estava uma bagunça enquanto aquele grupo de amigos corriam, saltando arbustos e muros para tentarem salvar as próprias vidas. E tudo foi se acalmar apenas no momento em que chegaram perto do mar, onde havia um barco que seria o caminho deles para fora de Outer Banks.

Quando todos estavam abordo, Rafe os conduziu para longe. A noite fria era a companheira deles naquela viagem, enquanto o vento parecia trazer à tona uma realidade que eles não queriam aceitar. Eles queriam fugir, mas tudo aconteceu de uma forma tão inesperada, e em uma noite onde tudo deveria ficar bem, as coisas caminharam para o lado contrário.

Thomas estava em um canto sozinho, pensando sobre tudo que ouviu do seu pai e nos acontecimentos que sucederam ao diálogo. Ele já estava se sentindo meio inútil, e depois de tudo que aconteceu, aquele sentimento pareceu crescer ainda mais em seu interior. Perdido em seus pensamentos, fora tirado dos seus devaneios quando JJ se aproximou chamando seu nome.

── Veste isso ou vai acabar congelando ── o loiro disse, jogando uma jaqueta sob os ombros nus de Thomas, que pegou a peça de roupa e a vestiu, agradecendo com um sorriso fechado. ── Finalmente vamos fugir juntos ── JJ voltou no assunto que sempre conversavam.

── Não é bem como eu esperava, mas é o que temos ── Thomas soltou uma risada sem humor algum, enquanto abraçava os próprios braços. O loiro, ao  notar que o outro estava pensativo demais, o puxou para perto e colocou seus braços em volta dele, num abraço acolhedor. ── Vai ficar tudo bem, não vai?

── É, gatinho…vai ficar tudo bem ── e pela primeira vez em muito tempo, Thomas acreditou que tudo ficaria bem.

Island boy || JJ MaybankOnde histórias criam vida. Descubra agora