CAPÍTULO 05

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Acabei dormindo no meio da leitura mas acordo com um cheiro delicioso de comida, abro meus olhos para encontrar Atticus arrumando a mesa, dois pratos cheios de comida e pelo jeito está uma delicia pois o cheiro está maravilhoso. Me sento e ele olha para mim depois de arrumar a jarra de suco e os copo.

- Coma - ele manda se sentando e não me demoro em obedecer.

- Obrigada - ele me olha estranho quando agradeço e eu sorrio começando a comer, o silêncio começa a me incomodar então me me importo em quebrá-lo - O que aconteceu com você mais cedo? Sua voz e olhos estavam estranhos.

- É uma maldição - fala de boca cheia e faço careta.

- Porque?

- Porque o que, garota?

- Porque você tem uma maldição?

- Matei alguém.

- Você ganhou uma maldição por matar alguém e ainda assim continua matando?

- É.

- Porque?

- Preciso alimentar ele.

- Ele quem?

- PORRA - ele bate a mão na mesa me olhando irritado - Você é chata pra porra hein.

- É que eu não tenho com quem falar - encolho meus ombros e fico quieta, termino de comer e vou direto para o banheiro, tranco a porta me sentindo estranha.

Ele não precisava ter gritado comigo, só estava curiosa.

Um bolo se forma na minha garganta e fico quieta no meu canto, respiro fundo tentando espantar a vontade de chorar e decido que quero tomar banho, então tiro minha  blusa e deixo num canto pois é ela que vou vestir, me livro da cueca e entro debaixo do chuveiro e é quando as lagrimas vem.

" - O que significa isso? - papai joga meu boletim na minha cara e me encolho - Eu te dou de tudo e a única coisa que tem que fazer é tirar notas boas e nem isso você faz, só sabe comer e dormir, além de gastar meu dinheiro.

- Eu tenho dificuldade para aprender matemática pai - falo chorosa e ele ri com deboche.

- Dificuldade para aprender? Eu te pago os melhores professores e a melhor escola, como pode ter dificuldade para aprender.

- É só... difícil para mim.

- DIFÍCIL PARA VOCÊ - ele grita e bate na mesa se levanta para ficar de frente para mim - Eu me mato de trabalhar, para fazer as suas vontades e você vem me dizer que é difícil para você.

- Sinto muito - abaixo minha cabeça sentindo as lágrimas cairem - Eu vou me esforçar mais.

- Você vive dizendo isso, mas onde está esse esforço todo que eu não vejo? - fico em silêncio enqanto as lágrimas caem sem controle - Olhe para mim - eu o faço, encontrando seu olhar irritado - Você é uma inútil, igualzinha sua mãe.

- Papai eu juro que me esforço é só... - minha fala é cortada por um tapa seu.

- Cala a boca, sua voz me irrita - ele volta a se sentar, e sinto o olhar de Igor e seus pais em mim, os pais dele são meus professores e ele... ele é um idiota, como todo mundo."

Com dor no peito eu me sento no chão debaixo do chuveiro, chorando baixinho, eu tento tomar o controle dos meus sentimentos. Sinto como se meu peito fosse explodir, uma dor que me sufoca e para piorar minha cabeça está cheia de coisas ruins, abraço minhas pernas e não sei por quanto tempo fico assim mas minha pele se enrruga então me levanto e termino meu banho, me sinto menos angustiada agora mas o sentimento ruim continua.

Coloco a blusa outra vez e não ligo para meu corpo todo molhado ou para a falta de roupa íntima, só saio do banheiro e caminho para a cama sem olhar para ele que está na poltrona mas eu sinto seu olhar queimar em mim. Sem fazer barulho eu me deito na cama e me escondo debaixo da coberta sentindo dor de cabeça, não demoro a pegar no sono.

Acordo sentindo um peso em cima de mim, Atticus está me abraçando com força pela cintura e ele tem uma perna em cima de mim, tento me soltar do seu aperto mas é uma tentativa falha, solto um grunhido frustrado e me viro para trás mordendo seu ombro, pois o folgado esta quase deitado em cima de mim, ele se encolhe e aperta o braço em minha volta.

- Me solta - me sacudo tentando me livrar dele mas é o mesmo que nada - Oque deu em você? Me larga - seu aperto aumenta e fico sem ar e agoniada pela privação dos meus movimentos - Atticus - choramingo seu nome e ele levanta a cabeça me olhando, olhos completamente escuros.

- Repete - sua voz grave me pede e volto a choramigar tentando me soltar.

- Me larga.

- Repete meu nome - ele não parece fazer nenhum esforço para me manter parada.

- Antes você disse para mim parar de falar e agora quer que eu fale, idiota.

- Fala logo.

- Não - viro meu rosto para não olhar em seu rosto e ele leva a mão até minha bochecha onde aperta seus dedos e me força a olhá-lo.

- Fala logo garota.

- Não falo - minha fala sai estranha por causa do aperto e ele ri me soltando, não sei se fico mais surpresa por ele rir ou por ele estar agindo tão estranho agora, então fecho meus olhos e o ignoro.

- Bessie - instantaneamente abro meus olhos, sinto vontade de chorar por ouvir alguém falando meu nome, faz tanto tempo que não ouço, era sempre senhorita Santana para lá e senhorita Santana para cá mas nunca Bessie.

- Atticus - ele sorri de lado e eu suspiro, ele e tão lindo - Atticus você pode me soltar agora? - prontamente ele faz isso e suspiro aliviada - Obrigada.

Me sento na cama e ele me fica me olhando com aqueles olhos totalmente negros, levanto minha mão e toco em seu rosto, ele fecha os olhos e é minha vez de sorrir mas logo meu sorriso se desmancha e tiro minha mão de seu rosto, tomo um pouco de distância dele que abre os olhos que agora ja estão normais outra vez. Ele me olha em silêncio e eu me encolho desviando meu olhar do seu.

- Desculpe - olho para ele surpresa.

Ninguém nunca me pediu desculpas por nada. Quando eu tinha sete anos e meu pai não apareceu na minha festa, ao invés de pedir desculpas, ele me deu uma casa da barbie. Quando minha mãe me esqueceu no shopping porque estava ocupada demais conversando com suas amigas, ela não me pediu desculpas, só me mandou calar a boca e parar de choramingar, eu estava assustada e com medo e ela só ignorou meus sentimentos. Quando peguei minha melhor amiga transando com meu namorado, nenhum dos dois me pediram desculpas, só disseram que eu era estranha e chata.

Ninguém nunca se importa o bastante com meus sentimentos para pedir desculpas, por isso eu gostei tanto de ouvi-lo dizer isso para mim.

- Eu não vou mais gritar com você, eu prometo - ele parece bem sério com isso e meu queixo treme enquanto meus olhos lacrimejam e balanço minha cabeça sorrindo de leve - Eu tomei o seu leite, pode me dar mais?

- Oque?

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