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Não durmo essa noite. Na verdade, a única coisa que faço com maior afinco e prender minha respiração. Tento controlar a ansiedade, tento respirar calmamente, tento demonstrar que estou em um sono profundo demais e alheio demais a tudo a minha volta.

     Mas não é verdade. Sinto quando a coberta sai de meu corpo e meus machucados são expostos ao frio da noite. Decidi dormir de short, depois de tirar os vidros de meu corpo, mas agora vejo que essa não foi a melhor opção.

      Sinto sua mão em minha coxa, e mordo o lábio tentando não reagir, Não posso reagir. Não sei a quanto tempo isso acontece, mas sei que é com frequência. Ele toca minha cintura e um calafrio doloroso passa por mim. Sinto sua mão descendo em busca de algo que nem mesmo sei; sinto quando sua mão massageia minha bunda dolorida e quase gemo de dor quando ele faz um carinho estranho em minhas costas.

     Estou de bruços na cama, ele não vê meu rosto, e isso de certa forma me conforta, pois as lágrimas caem sem interrupção.

    Sinto quando ele levanta levemente minha blusa e sinto necessidade de gritar por ajuda . Sinto meu corpo tremer levemente mas não esboço som, sequer dou qualquer reação que possa entregar que estou desperto.

      Sinto sua mão contornar os machucados que ele mesmo me causou, e so sei que doi. Tanto que não consigo sequer respirar, então prendo novamente a respiração.

      As vezes me pergunto se existe um Deus lá encima, e se sim, por que estou sofrendo ? Eu realmente mereço isso ?

       Calo meus pensamentos quando finalmente volto a respirar de alívio. Ouço seus passos se afastando de meu corpo e não sei exatamente a quem, mas agradeço tanto que as próximas lágrimas são de alívio.

       Ouço a porta abrir e fechar e choro. Minha boca solta sons que não compreendo e não quero. O som que sai e cortado e parece um ruído, e não me importo. Sei que ele já deve ter saído para trabalhar, talvez tenha mudado de turno, não me importo.

       Meu corpo treme. Ontem depois do que ele me fez, fiz um curativo totalmente improvisado em meus joelhos e tomei um banho de água gelada, tentando controlar os gritos de angústia. Depois disso vesti uma regata preta para não acabar sujando com meu sangue, e não queria acabar sujando uma calça  também, então a melhor opção foi um short.

       Tudo doia, tudo mesmo. Sequer sabia como ainda conseguia ter consciência, poderia dizer que era forte, mas sei que minha única motivação e Gwen. Depois de me vestir, com lágrimas nos olhos e ódio profundo em meu coração, juntei os cacos de vidro no chão, pois sabia que receberia uma punição pior caso ele visse os cacos ali.

    Me pergunto se mereço isso.

    Não consegui dormir. A dor era forte demais para eu sequer pensar na palavra dormir, a qual já desconheço a tempo demais. Ouço a porta abrir novamente e meu corpo congela. Eu congelo, minha respiração para, e me pergunto se ele finalmente não irá se manter nos toques e fará o pior comigo.

    Me pergunto se ele me matara de vez. Se matara a minha alma, se beneficiando com a casca que ela ocupa, como um corpo vazio andando pelo mundo. Me pergunto se finalmente não me enxerga como filho e cometera aquilo que sei que me matara por dentro, aquilo que fará com que minha vida não signifique nada.

     Penso em lutar quando uma mão toca meu ombro de forma tão gentil. Quero tirar sua mão de mim, me debater, gritar, mas não sinto minhas cordas vocais, como se estivessem adormecidas. Sinto dor no corpo todo, e sequer consigo reagir.

    Uma voz doce sussurra em meu ouvido, e meus pulmões finalmente recebem o ar com tanto afinco que agradeço.

    Gwen segura minha mão. Sinto seu peso ao meu lado afundando na cama e sei que ela se deita ali, ao meu lado.

O telefone preto ( Rinney ) +18 Onde histórias criam vida. Descubra agora