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    Sinto a dor tão profunda quando minha alma. Congela meus sentidos, embrulha minhas emoções, consome minha alma. É angustiante, mas ao mesmo tempo saboroso. Não sei dizer que horas são, sequer sei dizer se é dia ou noite. Minha barriga ronca, e minha garganta está seca. Estou exausto, amarrado, meus movimentos limitados o bastante para a única posição de descanso ser minha cabeça baixa, como um desgracado.

      Ouço a porta se abrir, mas não olho na direção, exausto demais até para isso. Não estava mais acostumado a ficar sem comer e beber por tanto tempo. Examinei os passos carinhosos que vinham em minha direção, calmos, mas destemidos. Ela colocou a mão sobre a minha cabeça, pousando ali por um tempo antes de se afastar.

      O quarto estava escuro, sem qualquer tipo de iluminação, mas logo a luz forte contornou uma parte do cômodo, apenas o bastante para um leve deslumbre. Olhei para seus pés, e ela logo colocou sua mão sobre meu queixo me obrigando a encara-lá.

- Parece faminto- ela afirma, dando um leve risinho - três dias sem comer realmente parecem exaustivos. Tome.

     Ela estica seu braço para mim, um copo de água gelada envolvendo seus dedos. Quando ela aproxima de meus lábios, não evito ao tomar o primeiro gole. É refrescante, e por um segundo me deixo ser ingênuo.

- E bom te ver, Katrina. Como vai docinho?

      Minha voz está rouca, mas ela não parece se importar quando senta na cadeira à frente e sorri. Seu sorriso é doce, quase convincente. Minha visão está fosca, então não consigo reparar em nada além de seu rosto. Sua maquiagem forte, destacada, seus cabelos em um rabo de cavalo atraente. Seus olhos verdes me devoram.

- Você vai sair daqui.

    Ela diz, e eu arregalo meus olhos. Uma mentira ? Não sei identificar.

- Ae ?

     Pergunto com deboche. Sua expressão não muda.

- Seu...- Ela vacila pela primeira vez, engolindo em seco enquanto desvia o olhar - Senhor Gomez tem um plano. Você vai trabalhar para ele, até pagar toda a divida.

    Sua voz soa calma, mas ainda sim me dá calafrios.

- E o que exatamente eu ganho com isso ?

   Sua sobrancelha se arqueia, e ela morde o lábio inferior.

- Liberdade.


     Sua voz é verdadeira. A palavra parece tentadora, mas difícil demais para ser verdade.

- E como posso confiar nisso ?

    Ela balança os ombros, inclinando levemente a cabeça para o lado. Minha barriga ronca novamente, e sinto vontade de vomitar.

- Não pode. Sabemos quem são seus amigos, seus companheiros, tanto aqui quanto no México. A família da sua mãe que os acolheu com tanto amor...sabemos de todos. Você quer colocar essa aposta em jogo ? Tudo bem, vou te dizer o que vai acontecer.

   Ela cruza as pernas e os braços, um sorriso sáfico ilumina seus lábios vermelhos.

- Primeiro, vamos matar todos...depois, você será obrigado a pagar pela dívida querendo ou não. Talvez pegamos um ou dois, apenas para te chantagear. No final, talvez eles não aguentem a tortura, e você continuará aqui, trancado, sendo torturado lentamente, mas claramente não morrerá tão cedo...compreende?

      Ela tem o demônio em seus olhos. Meu corpo de arrepia.

- Estou de tanto uma opção de liberdade depois de tudo isso, mas você não tem a opção de fugir. Não tem como fugir dele.

O telefone preto ( Rinney ) +18 Onde histórias criam vida. Descubra agora