Carolina

Ondas salgadas.

Dia 22

Quando eu te deixar, vou levar papel em branco, e espalhar por cada canto um barco de papel.

Vou me rabiscar inteira para marcar tua alma, escrever poemas com teu nome escrito e lhe enviar sem remetente pra adivinhar que fui eu quem escrevi.

E se eu fizesse um barquinho de papel com uma dessas poesias de amor, você me desdobraria para ler ou me jogaria num mar de ondas tuas para esperar que eu me desmanche nesses teus versos salgados?

E então me vi perdida, nas ondas dos teus cabelos, da tua voz, e indo em ondas procurei esse tal amor que fugiu de mim.

Sozinha, me vi perdida, tentando me salvar em um barco feito de versos que se desmancham n'agua. Sozinha, desmancho aqueles versos dedicados, tão salgados feito água de mar.

Esse mar que me afogo tão profundamente, mar que confiei não me afogar e agora me desmancho feito papel em água salgada. Feito tua boca.

Não sinto mais tua falta
Não lembro da sua risada amarga
Nem do enrolado do teu cabelo,
Não sinto teu cheiro no meu travesseiro a noite
Nem o gosto de café nos lábios teus.
Não odeio mais suas piadas sem graça,
Nem me importo se sua roupa está amassada.
Nem lembro mais se te conheci numa terça ou domingo,
Se era dia ímpar ou par.
E eu nem sinto mais tua falta.
Não sinto.
Nem lembro de você.
Nem da cor exata dos teus olhos castanhos,
Aquilo que faz com o nariz ou
a tua poesia favorita.
Não lembro de nada, e prefiro assim. Prefiro me fazer de boba
e acreditar que meu ser dança com o teu em todos os univeros.
Então preparo meu barco
cheio de palavras não ditas
e sigo pelas ondas do mar aberto,
pra ver se encontro outras ondas
que queiram ler minh'alma.

Estou perdida num mar, de ondas tuas, e não sei mais o que faço pra deixar de me afogar.

E agora me vejo montando um novo barco de versos para fugir desse mar de ondas salgadas.

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