Carolina

Relógio.

Dia 18

Eu uso meu relógio quebrado.

Sim, você leu direito.

Eu. Uso. Meu. Relógio. Quebrado.

Eu o coloco no pulso todos os dias e ajo como se ele ainda funcionasse. Mas não funciona, de jeito nenhum.

Já tentei de tudo, levei-o num relojoeiro, dei batidinhas, tentei concerta-lo até por conta própria.

Só então descobri que ele não quer ser concertado.

As vezes penso em comprar outro sabe, um outro relógio que funcione, pra variar, que me mostre as horas ou que até tenha outras funções como atender ligações e coisa e tal.

Mas a questão é que esse é confortável, eu o tenho a tanto tempo, é difícil desapegar de algo importante e valioso.

É difícil se desfazer de memórias que temos juntos, porquê como eu disse, o tenho a tanto tempo que não me vejo mais sem usar este mesmo relógio.

As vezes me questiono se é só medo de não me sentir eu mesma sem ele, ou de me sentir perdida sem saber as horas, sabe como é, é meu relógio.

É com ele que sei que ás 13 e quinze tenho de almoçar.

Que preciso passear com meu cachorro também às treze e 15.

E que às 13:15 é a hora exata para um chá.

Não, eu não estou ficando maluca. Só me acostumei com ele. Mesmo que os ponteiros estejam folgados, algumas letras já tenham caído e se olhar bem, tem um trinco faltando.

Mas para mim está em perfeito estado, este relógio me trás lembranças e me passa segurança.

Talvez eu só esteja buscando desculpas para reviver minhas boas memórias com ele, de quando funcionava.

Talvez eu o use por que me lembre das coisas boas do passado mas não percebo que ele tenha parado de funcionar por conta própria mesmo. Que não serve mais pra mim no presente.

Talvez eu realmente precise de outro relógio, um que vá me servir. Um que não me deixará na mão. E ai construirei novas memórias com ele, terei um novo relógio que queira funcionar comigo.

É, talvez eu realmente compre outro relógio.

- Isto não é sobre relógios quebrados.

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