Motel Epitome em El Paso, Texas – 20:02 hrs
Havia alguma coisa diferente, ele sentia em seu coração. O olhar sereno, vazio, baixo, implorando para gritar aos ventos. Os lábios pouco se esforçaram para dizer alguma coisa, as mãos não tiveram atitude; Malcom estava diferente naquela noite. Depois do primeiro encontro com sucesso que tiveram – e também da primeira vez –, se reencontraram em outras e outras oportunidades, ansiando pela presença um do outro. Aos poucos, o rapaz externava as suas emoções para o oriental, contava-lhe segredos de família, intrigas que penetravam as paredes de sua casa. Yan conseguia compreender cada uma daquelas lutas e daquela dor; ali conheceu uma pessoa mais profunda, uma pessoa diferente do seu eu brincalhão e descolado. E, por isso, era tão fácil identificar quando ele não estava bem.
— O que aconteceu...?
A troca de beijos cessou. Yan deslizou o zíper do casaco para cima, cobriu ainda mais o seu corpo e concentrou sua atenção nos gestos e nas palavras do amado que, a princípio, não parecia disposto a falar. O moreno insistiu, mas tentou outra abordagem.
— Detesto te ver assim. Brigou com o seu pai de novo?
Sim... "de novo". Já havia contado a Yan sobre seus problemas familiares e não era a primeira vez que se desentendia com o pai, todavia, essa havia sido a pior até então.
— Podia ser pior... eu podia ser expulso, sei lá. Tem pai que faz pior.
Aquela conversa fez o moreno brilhar os olhinhos na sua direção.
— Espera aí.... Você contou a ele?
Malcom aquiesceu em silêncio. Yan levou uma das mãos à boca.
— Não acredito...
— Foi. Sabe, eu reclamo por nada às vezes. Ele não me encheu de porrada, mas, em compensação, a mãe não vai gostar de ver a parede do corredor toda fodida.
Yan suspirou.
— Ele vai aceitar aos poucos... Se ele não te bateu, nem te expulsou, as chances de ele aceitar são maiores.
Malcom não parecia muito esperançoso. Seu olhar se encontrava no vazio daquela sala, ocos de vivaz expectativa. Aquele foi o primeiro sinal; Yan estava preocupado. Massageou o seu peito com carinho enquanto pensava em palavras melhores para reanimá-lo.
— Ei... eu preparei uma coisinha pra você.
Sussurrou. Sua mão desceu até o zíper do casaco, conseguiu atrair o olhar levemente curioso do amado; seus dedos puxaram para baixo, revelando um lindo cropped preto que destacava o seu abdome trabalhado. As sobrancelhas do rapaz lentamente se moveram, era a primeira vez que via o oriental usar aquele tipo de peça.
— Uau, você é...
Yan sorriu
— Gostoso?
Ele riu em resposta.
— Sim...
Murmurou. Os dedos foram até os seus gomos, deslizaram lentamente em sua pele, provocando alguns arrepios agradáveis na região. Yan propositalmente soltou um gemido baixo.
— Quer brincar comigo, Mal...?
Yan adorava chamá-lo assim; dava-lhe um aspecto selvagem que mesmo Malcom não esperava de si próprio; trazia-lhe uma certa coragem. Todavia, o rapaz não estava para joguinhos de sexo. Malcom queria mais. Ele queria desfrutar daquele amor, queria ter certeza de que o que sentia não era mero desejo sexual pelo qual, ao seu ver, não merecia o esforço de ser conquistado. Malcom queria se sentir amado, e isso era algo que Yan, no seu interior, também ensejava. Por mais brincadeiras sexuais que tivessem feito durante esse tempo, nenhuma delas havia trazido a segurança que ele buscava de fato; aquele momento havia chegado.
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Todas as Coisas Voltam
RomanceMiguel é um menino criado em um lar fragilizado que sonha em conhecer seu verdadeiro pai. Yan Lee é um garoto de programa solitário que busca o amor verdadeiro nos olhos dos clientes com quem se relaciona. Ambos almejam mudar suas vidas amargas de u...