Ruas de El Paso, Texas – 14:15 hrs
Yan e Miguel passaram a sair mais vezes.
O tempo de espera do resultado do exame acabou não sendo um empecilho muito grande na relação imposta deles, pois, quando o adulto não estava fora, eles sempre estavam fazendo alguma coisa. Assistiam a alguns filmes, saiam para caminhar, Miguel brincava nos brinquedos do parque e Yan conhecia algumas pessoas novas, esquecia-se um pouco do tipo de trabalho que fazia. Raramente se sentia humano, aqueles passeios triviais eram o que lhe trazia à memória o fato de que ele era algo além de um objeto de prazer — e Yan gostava de pensar assim.
— Pra onde a gente vai hoje??
— No shopping, quero comprar um livro. Eu não leio sério há um bom tempo. Depois, te levo pra jogar naquelas máquinas.
— Legal! Eu não vou jogar sozinho, né?
— E deixar você passar minha última pontuação? Nem pensar, mocinho.
O garoto riu e aquiesceu. Os dois foram a uma livraria dentro do shopping e Yan comprou o livro que tanto queria. Após isso, seguiram até as máquinas de jogos antiquadas, Miguel foi o primeiro a brincar na máquina. Yan estava o observando, com as mãos nos bolsos, quando um grupo de jovens barulhentos chamou sua atenção do outro lado da praça.
Havia uma cafeteria próxima às máquinas de jogos. Um trio de rapazes estava conversando alto; era um pouco inconveniente, mas nada realmente irritante. Yan os observou disfarçadamente, tinha algo neles além da barulheira desnecessária que havia chamado sua atenção... algo em um deles.
A pele escura, o brilho aveludado, os cabelos cheios e crespos, os olhos cor de chocolate, os lábios carnudos, os ombros largos... Apesar de forte, parecia tão jovem, tão excessivamente atraente. Algo naquele rapaz havia chamado a atenção de Yan, que passou a encará-lo por mais tempo que o normal.
— Vai, sua vez!
O moreno despertou ao ouvir a voz de Miguel.
— Hum...?
— Sua vez! Eu bati sua pontuação, viu?
Yan assentiu e, disperso, deu uma última olhada demasiada para o desconhecido antes de voltar a encarar os botões da máquina. Ele jogou, conseguiu guardar seus devaneios para um momento mais apropriado, todavia isso não deixou de refletir na sua pontuação, que foi baixa para um dia comum.
— O que deu em você? Hoje, você tá mal, hein?
— Foi mal, tampinha.
Ele desviou os olhos para o grupo de amigos novamente; ali, Miguel entendeu tudo. Ele revirou os olhos e deixou um sorriso muito fraco escapar.
— Se me der uma grana, vou pro salão de jogos e te deixo em paz.
Yan o encarou por alguns segundos. Sem desviar os olhos, levou a mão ao bolso e tirou uma nota.
— Só uma hora ou duas. Fique no salão e não saia por nada, nem por ninguém. Eu volto logo.
O garoto assentiu, tomou a nota em mãos e seguiu até o salão. Yan o acompanhou com o olhar até se certificar de que ele estava seguro — há um tempo estava agindo assim inconscientemente —, logo após, voltou sua atenção ao grupinho. Não fazia ideia de como faria para chamar a atenção daquele rapaz, mas sedução era uma palavra que ele conhecia bem.
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Varanda do shopping no terceiro andar – 15:28 hrs
— Se você quiser...
Yan sussurrou. O rapaz que conhecera a pouco tinha os ombros rígidos, as mãos nos bolsos da calça, sabe-se lá se os seus dedos estavam se movendo freneticamente, ele estava claramente nervoso.
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Todas as Coisas Voltam
RomanceMiguel é um menino criado em um lar fragilizado que sonha em conhecer seu verdadeiro pai. Yan Lee é um garoto de programa solitário que busca o amor verdadeiro nos olhos dos clientes com quem se relaciona. Ambos almejam mudar suas vidas amargas de u...