Dez

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— Alô? — murmurou, hesitante. Seu peito se encheu imediatamente com a dor de ter perdido Trey, dor que até vê-lo na festa tinha quase desaparecido. Quase.

— Kylie? — o tom grave da voz de Trey mexeu ainda mais com suas emoções.

Kylie engoliu em seco e o visualizou mentalmente: os olhos verdes encarando a como acontecia quando ficavam juntos.

— Sim?

— É o Trey.

— Eu sei — respondeu Kylie, fechando os olhos. — Por que está me ligando? — Preciso de um motivo?

Como está dormindo com outra garota, precisa, sim.

— Não estamos mais juntos, Trey.

— E talvez isso seja um erro — continuou ele. — Não consigo parar de pensar em você desde que nos vimos na festa.

Kylie podia apostar que ele nem lembrava mais dela depois de ficar a sós com seu novo brinquedinho sexual aquela noite. Para a sorte deles, tinham saído quinze  minutos antes de a polícia chegar. Sendo assim, enquanto Kylie esperava sentada na delegacia, Trey provavelmente se esbaldava com a sua nova namorada.

— Sara me contou que você está num acampamento em Fallen — prosseguiu ele, vendo que Kylie não dizia nada. — E, pelo que ela me disse, sua mãe te colocou aí por causa da festa.

— Pois é — confirmou Kylie, embora soubesse que aquela não era toda a verdade.

Mas toda a verdade ela não podia contar a Trey. Nem sequer parte da verdade. Só agora se dava conta de quantas vezes tinha sido obrigada a mentir para todas as pessoas que conhecia! E nesse momento constatou outra coisa. A mãe não havia mentido ao dizer que tinha sido a Dra. Day quem a convencera a mandar Kylie para o acampamento. Talvez, no final das contas, a mãe não quisesse tanto se livrar da filha como ela tinha pensado. Isso devia fazê-la se sentir melhor, mas a dor no peito só aumentou. Estava com saudade da mãe. Com saudade do pai. Queria ir para casa. O nó se formou na garganta e ela se esforçou a engoli-lo.

— Tem permissão para atender telefonemas? — perguntou Trey. A voz a trouxe de volta ao presente, para longe de seus pensamentos.

Permissão?

Kylie não tinha pensado nisso.

— Acho que sim. Ninguém até agora me proibiu — no entanto, não tinha lido as regras que deviam estar afixadas em sua cabana. E não por culpa sua: ainda não tinha permissão para ir até lá.

Olhou em volta para ver se mais alguém estava ao telefone. Dois conversavam e outros dois digitavam mensagens. Um deles era Jonathon, o cara dos piercings, no momento acompanhado por dois colegas. Ao lado deles, a Garota Gótica, no meio de uma turma de góticos. 



Kylie viu também Lucas Parker. Não ao telefone, mas batendo papo com um grupo de garotas que pareciam seu fã-clube. Ele ria do que uma delas tinha dito. As meninas sorviam suas palavras, extasiadas, quase desfalecendo a seus pés.

Que riam até desmaiar — pensou Kylie. Ele ainda não havia matado seus gatos.

— Estarei num acampamento de futebol, em Fallen, na semana que vem — contou Trey, trazendo-a de volta à conversa. — Talvez pudéssemos... Sei lá, descobrir um jeito de ficar juntos. Conversar. Sinto sua falta, Kylie.

— Pensei que você estivesse namorando aquela garota, Shannon.

— Namorando para valer, não. De qualquer maneira, não estamos mais nos vendo. Não tínhamos muito que conversar.

Nascida à Meia-Noite - (Saga Acampamento Shadow Falls, #1) Onde histórias criam vida. Descubra agora