Catorze

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Kylie recuou um passo na direção da porta de seu quarto. E outro ruído a deteve. Apurou os ouvidos, lembrando-se dos sons selvagens que cortavam a noite há algumas horas. Esse, porém, não era o rugido de nenhuma fera. Com a respiração suspensa, esforçou-se para identificar o som. Ouviu novamente uma espécie de miado indistinto. Um som débil, suave.

Um movimento na vidraça chamou sua atenção. Olhou em volta. O medo invadiu seu peito, mas desapareceu tão logo ela avistou um gatinho amarelo no parapeito da janela. Assustado com o gesto súbito da garota, o bichinho saltou para o chão. "Não vá embora", murmurou ela, sem entender a princípio a preocupação repentina com o pequeno animal. Por fim, compreendeu. E se Lucas ou um dos lobisomens aparecesse?

Kylie correu para a porta e a abriu. Ajoelhou-se na soleira e chamou o gato.

— Vem cá, garoto. Vou cuidar de você — disse ela. Uma agitação de folhas respondeu às suas palavras. — Pode confiar em mim — segundos depois, uma pequena bola de pêlos bamboleante foi se aproximando.

— Que gracinha — sussurrou ela e, com a ponta do dedo, acariciou delicadamente o queixo branco do bichinho que, ronronando, esfregou-se na perna nua de Kylie. Ela o pegou nos braços, examinou bem seus olhos dourados, apertou-o contra o peito e entrou.

O gato, miando alto, tentou escapar, como se não quisesse ficar preso lá

dentro, mas Kylie o abraçou bem forte.

— Não, senhor — advertiu. — Há monstros lá fora. Aqui você está seguro.

O animal ficou mais calmo enquanto ela corria os dedos gentilmente por trás da orelha dele.

— Está com fome? — esfregou o nariz no alto da cabeça do gato e o aconchegou mais ao peito.

Foi até a geladeira e a abriu para ver se havia algo para ela comer e dar ao pobre gatinho. Ouviu, então, o ranger de uma porta às costas. Virou-se e viu Miranda sair do quarto, vestida com um camisetão amarelo e a calça de um pijama com estampa de carinhas sorridentes. Seu cabelo tricolor estava um tanto desarrumado e Kylie notou que, sem maquiagem, ela parecia bem mais jovem.

— Oi — disse Kylie.

— Pensei ter ouvido... — Miranda parou e arregalou os olhos. — O que é isto?

— Um gatinho. Ele... Ou ela, não é muito fofo? — levantou-o para ver qual era o sexo do animal. O gato ficou todo agitado, tentando até mesmo arranhá-la, mas Kylie o segurou com firmeza.

— É menino. Ele estava espiando pela janela — aconchegou-o de novo ao peito e virou-se para a geladeira. — Acho que está com fome.

— Ah, não! — a exclamação de aborrecimento fez Kylie se virar para Miranda.

— O que foi? — perguntou, confusa. — Você é alérgica a gatos?

— O mesmo truquezinho de sempre, hein? — disse Miranda, mas Kylie não achou que sua colega estivesse falando com ela.

Miranda apontou um dedo rosado para o gato, girando-o ritmicamente.

— Rosas são vermelhas, com elas faço um buquê; mostre-me quem é ou vou lançar um feitiço em você.— Pode parar. Vou voltar à forma normal. — as palavras vinham do gato!

Kylie ficou gelada. Palavras. Mas que inferno! Estaria sonhando? Gatos não...

Falam. Olhou para Miranda, ainda sem decidir se jogava o gato no chão, mas prestes a fazer isso.

— Como eu ia imaginar?

Miranda olhou para Kylie e esboçou um sorriso; mas conteve-se e virou-se de novo para o gatinho.

Nascida à Meia-Noite - (Saga Acampamento Shadow Falls, #1) Onde histórias criam vida. Descubra agora