Quinze

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Uma sensação de fria umidade percorreu a testa de Kylie, levando-a a um estado de semiconsciência. Estado que trouxe consigo uma série de perguntas: quem, o quê, quando, por que, onde? O cheiro de mofo do travesseiro respondeu à última.

Acampamento. Ainda no acampamento.

A sobrecarga emocional acumulada nos últimos dias era quase insuportável.

Ela fez um esforço para abrir os olhos e viu Holiday sentada aos pés da cama. O cabelo ruivo da líder caía solto sobre os ombros e um ar de preocupação sombreava seu rosto, escurecendo seus olhos verdes brilhantes.

— Ela está acordada? — a grave voz masculina, bem conhecida, ecoou nos ouvidos de Kylie, despertando outros ecos ao redor de sua cabeça. Olhou à esquerda.

Droga!

Holiday passou de novo o pano úmido em sua testa.

— Ei, está me ouvindo?

Kylie não ouvia nem olhava para a líder do acampamento. Olhava para...

Lucas Parker, matador de gatos nas horas vagas.

E protetor de garotas contra valentões — sussurrou o inconsciente de Kylie.

Mas por que seu consciente insistia em defender Lucas?

O que estava acontecendo?

Lucas se inclinou como se fosse tocá-la. Kylie, num movimento brusco, tirou o

pano da testa.

— O que houve? — e, de repente, se lembrou.

O fantasma. O sangue. Muito sangue. Outra informação perturbadora lhe ocorreu. Ela devia ter morrido. Aquilo era inquietante.

— Você desmaiou — disse Lucas, sua voz poderosa enchendo o cubículo e fazendo-o parecer ainda menor.

Ele precisava repetir o óbvio? E por que estava ali? Não havia nenhuma regra proibindo garotos no alojamento das garotas? Se não havia, Kylie providenciaria para que houvesse uma.

Olhou para Holiday.

— Acontece, às vezes — disse a líder. — Quando os fantasmas se aproximam demais.

— Estou bem, agora — levantou-se, mas o quarto parecia girar em torno de seu próprio eixo. Girava e girava. Lucas segurou-a pelo cotovelo.

Um toque firme, mas que não chegava a machucar. Um toque ardente, que fez seu braço formigar e sua cabeça ficar ainda mais aérea. Mas pelo menos as coisas pararam de rodopiar. Seu primeiro impulso foi sair correndo, mas, com medo de que isso parecesse descontrole, fez um esforço para ficar calma. Sem dúvida, se pudesse contar suas batidas cardíacas como Della, saberia que estava simplesmente aterrorizada.

E, por falar em Della, onde... Olhou para a porta. Della e Miranda estavam lá, uma ao lado da outra, observando-a como se ela fosse a diversão da noite. Que desgraça! Imaginou as duas saindo em disparada de seu esconderijo — pois tinha a vaga lembrança de ter ouvido passos apressados — para encontrá-la estendida no chão. Mas quem a pusera na cama?

Desviou o olhar das colegas de alojamento e concentrou-se em Lucas. Será que tinha sido ele? Será que a tinha pegado no colo? Seu coração começou a bater ainda mais rápido. Percebeu então que ele continuava segurando seu braço.

— Estou bem — murmurou Kylie, tentando se soltar.

Ele a largou, um dedo de cada vez, como se temesse que ela voltasse a cair. E antes que o último dedo se soltasse, Kylie notou que ele a olhava de cima a baixo.

Nascida à Meia-Noite - (Saga Acampamento Shadow Falls, #1) Onde histórias criam vida. Descubra agora