Doze

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— Nada de pânico — recomendou a Sara depois de trinta minutos de bate papo. — Vai ficar tudo bem, você vai ver. — Kylie não conseguiu dizer aquilo com grande entusiasmo, mas pelo menos tentou: para isso serviam os amigos. Entretanto, bem no fundo, pressentia que, se Sara estivesse realmente grávida, e tudo indicava que estava, nada ia ficar muito bem.

— Obrigada, Kylie — disse Sara. — Não sei como vou me virar durante todo o verão sem você.

— Tente sobreviver — incentivou Kylie. — É o que eu vou fazer também.

Kylie tinha ficado durante toda a conversa escondida atrás do escritório, sentada no chão, encostada a uma árvore, enquanto procurava acalmar Sara.

A mãe de Sara havia cancelado o almoço fora e tinha insistido para que a filha passasse o dia inteiro com ela, visitando o museu de arte e fazendo compras. O Museu de Belas-Artes, em Houston, era maravilhoso e Sara realmente gostava de arte. Quanto às compras, quem não gosta? Mas não em companhia da mãe quando há uma suspeita de gravidez!

— Não consigo acreditar ainda que isso está acontecendo — prosseguiu Sara.

Ainda nem tinha feito o teste de gravidez. Estava assustada demais.

Não que Kylie já não tivesse problemas suficientes; mas falar sobre os de Sara a ajudava a esquecer um pouco os seus. Além disso, concentrar-se nos problemas de Sara era o que elas mais faziam. Quando a amiga estava chateada, e mesmo quando não estava, sua tendência era só se preocupar consigo mesma. Mas Kylie nunca seimportou. Preferia ouvir os problemas dos outros a contar sobre os seus.

Para Kylie, aquela até que era uma vantagem: por enquanto, não poderia mesmo falar sobre o que estava acontecendo com ela. Pelo menos, não com uma pessoa normal.

— Bom, agora preciso desligar — avisou Sara.

Os últimos raios de sol lançavam um brilho dourado sobre a paisagem verde à sua volta. Perto do crepúsculo, a temperatura já não era mais tão sufocante.

— Me ligue quando fizer o teste — pediu Kylie.

— Vou ligar. E, de novo, muito obrigada.

Kylie fechou o aparelho e os olhos. Reclinando a cabeça contra o tronco da árvore, reviveu a esperança de que Holiday talvez estivesse errada quanto a ela ser sobrenatural. Lembrou-se também dos dois sujeitos de terno preto dizendo que o acampamento poderia ser fechado caso "aquilo" não parasse — fosse "aquilo" o que fosse. Mas, se as duas esperanças se materializassem, a vida de Kylie passaria a ser quase tolerável.

Pelo menos, um pouco tolerável. Os problemas com os pais, a avó e Trey pareciam até menores agora. Impressionante como as perspectivas de uma pessoa podem mudar quando ela descobre que não é humana. A voz de Holiday ecoou em sua mente:

 A verdade... A verdade é que não sabemos o que você é. Pode ser uma fada ou uma descendente dos deuses. Pode ter dons...

Kylie se lembrava de ter interrompido a líder do acampamento e agora gostaria muito de não ter feito isso. Embora ainda não tivesse desistido de, ser normal, o que mais poderia ser?

Tentando evitar que o nervosismo provocasse contrações em seu estômago,esforçou-se para não pensar, apenas ouvir. Uma brisa de fim de tarde agitava as folhas da árvore, os grilos começavam a ensaiar o concerto noturno, um filhote de pássaro chamava pela mãe. Kylie recordou as caminhadas que fazia com o pai.

Deveria ligar para ele agora?

Não, mais tarde. Talvez então soubesse como perguntar por que ele não tinha ido buscá-la na delegacia, quando ela telefonou. Por enquanto, ficaria sentada ali, absorvendo a natureza e quase relaxando. Fechou os olhos e a tensão foi aos poucos diminuindo.

Nascida à Meia-Noite - (Saga Acampamento Shadow Falls, #1) Onde histórias criam vida. Descubra agora