A Impiedosa que saiu da Caixa de Pandora (Jemma)

Capítulo 11 - Quietamente imóvel em uma Mentira

Com o tanto de dias que fiquei sem ir ao galpão, ela com certeza já devia ter morrido. Fome, sede, e é claro, a falta de apoio no seu pescoço é o que mais doí. Mas eu não estava me dirigindo até lá, minha atual preocupação era as provas que eu teria que programar para os próximos meses, e o último assunto que eu insistia para a coordenadora do curso que seria inútil. Mas ela insistia para mim que fazia parte da grade de assuntos.

— Como último assunto antes da prova, levantem a mão quem conhece a história mitológica de Pandora — Cinco, oito de trinta e três alunos que estavam na sala sabiam, apenas oito.

Eu disse que era inútil.

— Tá... você inicia.

— Pandora era uma mulher que...

—Não —Corto a fala do rapaz que tinha levantando a mão primeiro, agora são sete.

— Pelo amor de deus... um titã chamado Prometeu era um defensor da humanidade —Começo contando todo o mito e vejo algumas cabeças se inclinando para frente.

— É, ele gostava da gente e decidiu dar um pouco do fogo dos deuses... que dizer, ele na verdade roubou o fogo de Zeus, e é claro que Zeus ficou irado, e depois blá blá blá — Eu estava enrolando o máximo aquela história, já estava me irritando novamente ter que contar o mesmo mito todo ano.

— Zeus criou Pandora, uma mulher com uma beleza imensa, e enviou ela para a Terra com uma caixa, e Zeus disse para ela nunca abrir, mas como todo ser humano normal, a curiosidade foi maior e ela abriu... e o resto vocês já sabem.

— Mas doutora... e a caixa?

— Essa vai ser a última questão da prova, então estudem, não vou facilitar nessa... até segunda — Falo com raiva e libero a turma pois em tempo de prova não tem mais nada para fazer além de colocar assuntos inúteis.

Com todos saindo da sala, aproveito para apagar o quadro que estava cheio de frases desconexas do professor anterior. Percebo que eu apagava com força no quadro, alguma coisa estava me incomodando, me estressando, me fazendo ficar perdida nos meus pensamentos e algo me dizia que era com aquela detetive, admito que as vezes eu penso nela.

— Nossa, eu achava que você era mais paciente com seus alunos.

Falando no diabo, ele aparece.

— A quanto tempo você tá aí? — Falo ainda de costas para ela.

— A sua aula inteira, na verdade os quinze minutos que você falou né.

— O que você quer? — Jenna caminhou e ficou parada ao meu lado, encostada no quadro.

— Eu... queria falar com você sobre uma coisa importante.

— É sobre o caso?

— É... é, sim, claro, a gente teve um avanço no caso.

— E?

— Eu... não posso te contar aqui, pode ir na delegacia e aproveitar com mais ajuda — Eu não tinha visto Jenna desse jeito, e eu sei que nos conhecemos com poucos meses. Mas ela tá gagueando, ela, a detetive.

— Você veio até aqui para me convidar a ajudar vocês, de novo?

Tinha parado de apagar o quadro, agora estava olhando para ela. Seus olhos castanhos escondiam algum segredo. Eu sei, eu sinto.

— A gente precisa conversar, é importante — Ela disse desfazendo nossos olhares e indo em direção a porta.

— Eu tenho compromisso hoje a noite.