Quatro

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Estacionei o carro próximo as escadas que davam de encontro ao haras. Me repreendi mais uma vez por ter calçados sapatos italianos sendo que eu pisaria na terra. Mas o que não se faz pra manter a elegância?

- Bom dia senhorita Portilla - a voz me assustou, quase derrubei as caixas que me sacrifiquei pra equilibrar sobre os braços.

- Ah oi - era Alfonso - Bom dia, você é pontual - sorri, me referindo ao horário que marcamos na noite anterior.

- Me dê aqui - pegou as caixas das minhas mãos - Costumo cumprir com a minha palavra - sorriu - Já estou pronto pra trabalhar. Na verdade, os Uckermann's me deram ordens de atender a todos os seus desejos.

Confesso que ouvir aquilo me despertou pensamentos pecaminosos instantaneamente. Balancei a cabeça, enquanto agradecia a Deus por não termos capacidade de ouvir o pensamento alheio.

- Me perdoe se estamos abusando de você - brinquei - Você poderia levar essas caixas pra mim?

- Já estou levando - brincou- Posso fazer uma pergunta?

- Pode, é claro! - respondi enquanto acionava o alarme do carro.

- Por que uma mulher tão chique como você, escolheu um lugar como esse pra fazer um lançamento de jóias? - perguntou enquanto caminhávamos.

- Achei a ideia inovadora, então dei uma chance a minha gerente de marketing - dei de ombros.

- Entendi - ele sussurrou, quase inaudível. E então, por onde começamos? - depositou as caixas sobre uma mesa qualquer.

- A empresa que contratei já chegou? - perguntei enquanto passava os olhos pelo local.

- Sim, eles estão no campo.

- Ótimo, vamos até lá então! - apanhei minha caneta e uma prancheta, pra garantir que tudo estaria organizado.

Haviam inúmeras pessoas trabalhando ali. Senti orgulho de mim mesma por estar conseguindo administrar os negócios e ser profissional. Todo meu esforço físico e mental estava valendo a pena, e se esvaia a cada etapa concluída daquele evento. Vez ou outra precisava palpitar em algo, mas a empresa havia entendido bem meu conceito e estavam alcançado o resultado que eu almejava.

- Olha, não imaginei que esse lugar pudesse ficar tão diferente assim - Alfonso se aproximou, colocando as mãos na cintura.

- Diferente como? - franzi o cenho.

- Digno de receber uma mulher tão linda como você.

Fiquei alguns segundos perplexa por não esperar o elogio de Alfonso. Ele era caipira, rústico e, a primeira vista, nem um pouco adepto a gentilezas.

- Obrigado! - agradeci sem graça.

- Me perdoe pelo abuso, mas foi automático - disse sem jeito, dando-se conta do estado envergonhado no qual eu me encontrava - Pra falar a verdade - respirou fundo, como se estivesse buscando coragem - A única comparação que eu posso fazer com a infinita beleza das jóias da sua família, é você.

Mais um tempo calada e totalmente corada.

- Vou ver como estão as coisas - as palavras custaram pra sair da minha boca.

O encarregado da empresa que eu havia contratado veio até mim e disse que o trabalho estava concluído. Eu o agradeci e nos despedimos. Agora era só aguardar o horário e as clientes chegarem. Já estava visivelmente ansiosa.






Subi até a casa dos Uckermann a fim de tomar um suco ou algo do tipo, no caminho me deparei com Alexandre na varanda enquanto me olhava fixamente. Um calafrio percorreu minha espinha, trazendo a mesma sensação do dia anterior. Paralisei nos degraus até tentar me livrar daquele tormento, que agora dominava meus pensamentos.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora