Onze

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- Annie - ele me olhou sorrindo, enquanto eu abria os olhos devido a claridade. Minhas costas também doíam um pouco - Enfim você acordou! - brincou - Devem haver umas dez ligações de Christopher e outras dez de Maite no seu celular.

- Tudo bem - suspirei, ajeitando os cabelos antes bagunçados - Falo com eles quando chegar em casa. O que foi? Porque está me olhando assim? - pedi, achando graça.

- Nunca imaginei acordar assim com você, nem nos meus melhores sonhos - riu.

Eu lhe acariciei o rosto, grudando nossos lábios.

- Obrigada por ontem - sorri, tímida, mordendo o lábio inferior - Não poderia ter sido melhor!

- Obrigada a você por confiar em mim - beijou a palma da minha mão.

Seguimos até o carro, Alfonso dirigia com uma mão na minha perna e outra no volante. Eu cantarolava a música que tocava no rádio, e ele elogiava minha voz. Me distrai olhando pra janela, até que resolvi perguntar.

- Como vamos fazer? Digo, se chegarmos juntos vai ficar muito na cara! Por mais que que queira terminar com Christopher não queria que ele pensasse que sou uma traidora, ele é meu melhor amigo! - ele concordou estacionando a caminhonete.

- Você vai dizer que eu te levei pra tomar um ar e sei lá, fomos comer algo, ficamos de bobeira pela cidade - deu de ombros - Ele vai acreditar em qualquer coisa.

- Vou tentar - suspirei, descendo da caminhonete - Me deseje sorte!

- Pode acreditar que vou precisar dela muito mais do que você - disse, tenso, e eu achei curioso mas preferi não interferir.

Entrei em casa com os sapatos nas mãos, subi as escadas devagar tentando fazer o mínimo de barulho possível. Eram oito da manhã, e todos ainda deviam estar dormindo. Eu e Christopher havíamos optado pro ficar em quartos separados, então pra minha sorte, fui até o banheiro, tomei banho, fiz minhas higienes e vesti um pijama leve e um robe.

Sentei na cama lembrando a loucura que havia cometido. Minha mão pausou nos lábios, e um pequeno sorriso brotou. Fechei os olhos lembrando do sabor dos lábios de Alfonso sobre os meus. Eu estava completamente apaixonada por ele e era perturbador o poder que ele estava exercendo sobre mim.

Eu nunca senti nada nem de longe parecido por nenhum dos outros caras com quem já sai. Com Alfonso era estranho, eu sentia que o conhecia a muito tempo. Ele me tratava com uma intimidade enorme, além de seus olhos trazerem um mistério ao qual eu ainda não conseguia desvendar. Talvez com o tempo ele fosse capaz de se abrir e demonstrar o que acontecia de verdade.

Lembrei do cheiro delicioso da pele dele, as mãos firmes e um pouco calejadas passeando pelo meu corpo sem nenhuma cerimônia, os braços fortes rondando a minha cintura, o suor dos nossos corpos de misturando. Só de relembrar já sentia o corpo em chamas.

Então tratei de espantar os pensamentos e calcei os chinelos indo ao quarto de Christopher. Bati duas vezes na porta, mas ele não abriu, como já eram quase dez horas da manhã, decidi forçar é pra minha surpresa estava aberta. O quarto cheirava a álcool, me aproximei da cama a fim de acorda-lo, e lá estava ele é Dulce Maria, completamente nus, cobertos apenas por um fino lençol.

Fiquei alguns minutos em um dilema existencial, sobre acorda-lo e dizer que fiz o mesmo com Alfonso, acabarmos discutindo, ou ir embora e conversarmos em um momento mais oportuno, de cabeça fria. Optei pela segunda opção. Fui até meu quarto outra vez, arrumei as coisas em uma mala, e quando ia descendo afim de ir embora cruzo com Maite na base da escada.

- Que diabos está fazendo? - ela berrou histérica - Tentei ligar para você a noite toda e agora você está aí de malas prontas prestes a ir embora - cruzou os braços estufando o peito, irritada - O que está acontecendo Anahí?

Passei a mão livre pelos cabelos, estressada.

- É uma longa história Mai, vamos deixar pra outra hora, sim?

Ela não se deu por satisfeita e era muita pretenção minha achar que se daria.

- De forma alguma! Onde diabos você se meteu ontem a noite?

- Eu estava com Alfonso - disse.

- E o que estavam fazendo? Posso saber? - Arqueou as sobrancelhas.

- Nos saímos tomar um ar e fomos comer algo num restaurante, acabamos demorando mais que o esperado e meu celular ficou sem bateria - dei de ombros.

- Você pode mentir pra outra pessoa, mas não pra mim! Eu e Mane procuramos vocês pela cidade toda! Você não estava em restaurante nenhum Anahí - rolei os olhos.

- Mai, da um tempo ok? Eu sai com Alfonso, fomos ver o por do sol no campo, satisfeita?

Ela urrou.

- Nós ficamos extremamente preocupados! Christopher quase teve um filho atrás de você!

Eu ri, sarcástica.

- Deve ser por isso que acabou transando com a Dulce ontem a noite. Se cansou de tanto me procurar!

Maite quase engasgou com o café que tomava.

- Como é que é?

- Os dois estão nus lá encima, e a não ser que brincaram de índios e acabaram pegando no sono, os dois transaram a noite toda - ironizei - Então, eu estou indo embora, não tenho mais nada a fazer aqui - apanhei a mala do chão - Aliás, por favor, se você puder avisar a Dulce que a quero fora da minha casa o mais rápido possível, eu irei te agradecer.

E assim sai, deixando Maite completamente estática.

- Mas como assim? - ela gritou - Como ela vai voltar pra casa?

- Ela vai se virar, Christopher sem duvidas a levará com muito prazer.

Já do lado de fora, Alfonso tirava o barro das rodas da caminhonete. Posei ao seu lado, e ele me olhou curioso.

- O que houve? - franziu o cenho.

- Vamos embora - suspirei - Dulce e Christopher estão nus lá encima, e tudo indica que transaram ontem a noite. Não quero estar aqui quando acordarem - expliquei a ele que parecia embasbacado com a situação - Você me leva pra casa?

Ele pausou, tentando raciocinar. Por incrível que parece ele parecia aliviado, eu pensei que ficaria furioso com a irmã.

- É claro, me de cinco minutos, só vou apanhar minhas coisas - eu concordei, sorrindo.

Fomos o caminho todo quase em silêncio. Até Alfonso quebrá-lo.

- Está tudo bem? - pediu carinhoso, acariciando meu joelho descoberto pelo vestido.

- Está - lhe sorri, fitando a janela - Só é estranho saber que talvez Christopher fosse capaz de fazer isso comigo em qualquer momento do nosso relacionamento. Ele uma hora ou outra ia acabar me traindo.

- Não pense nisso - balançou a cabeça - Veja, estamos aqui eu e você. Fizemos o mesmo que eles, estamos tão errados quanto eles. Digo, você errou tanto quanto Christopher, mas foi seu instinto do momento - disse terno - Está arrependida?

- De forma alguma - respondi rapidamente - Só é estranho pensar nisso, dessa maneira.

- Vamos mudar de assunto - concordei - Que tal tomarmos um bom café da manhã? Sei de um lugar simples mas com um bolo de chocolate fantástico. Acho que você vai gostar.

- Hmmmm - sorri - É um convite pra um encontro? - brinquei.

- Digamos que sim - piscou.

- Gostei - dei-lhe um selinho - Mas dessa vez, você paga.

Ele riu.

- Negócio fechado!

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora