Seis

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Diante das palavras gentis que ele me dissera, me permiti aproximar-se ainda mais dele, aproveitando o seu toque às minhas têmporas, não que o nosso contato não estivesse próximo o suficiente. Mas senti uma estranha necessidade de ficar mais perto ainda dele, e mais estranho ainda foi minha sensação de alívio ao respirar seu perfume.

- Obrigada por continuar aqui - agradeci após um agonizante silêncio que se instaurou entre nós.

- Não há de que - me puxou pra mais perto de si, eu afundei meu rosto no peito dele - Seu tornozelo...ainda está doendo?

- Um pouco, mas colocarei gelo, quando a luz voltar - enfatizei - E estará excelente amanhã.

Outro silêncio.

- Você está cansada não? - me perguntou com a voz doce.

- Um pouco - respondi dengosa, os trovões não paravam lá fora.

- Acho que vou deixar você descansar - fez menção de levantar, mas com um impulso o puxei pra mais perto de mim.

- Não precisa - pedi temerosa - Alfonso me desculpe - maneei a cabeça - Realmente gostaria que ficasse aqui comigo, eu tenho ficado tanto tempo sozinha, que hoje com esse tempo horrivel - olhei pela janela e suspirei calada, já havia falado demais.

- Tudo bem, eu fico com você - sentou-se recostado na cabeceira e me puxou cuidadosamente, eu me aproximei e sem pensar duas vezes, depositei minha cabeça em seus ombros, ele passeava uma das mãos sob minhas costas, num vai e vem com o dedo indicador, aquilo me causava arrepios e sem delongas, adormeci.

Alfonso:

Eu tinha plena consciência que não estava lá pra viver uma aventura amorosa com Anahi, muito menos sentir pena ou ternura por ela. Acontece que era impossível, obviamente era uma mulher atrante, mas vê-la frágil e tão "entregue" a mim, me despertou uma sensação que até então desconhecia. "Não posso gostar dela, devo odiá-la" como uma ordem ecoou em meus ouvidos, mas aí foram só meus olhos se concentrarem naqueles lábios convidativos que a luxúria tomou conta de mim. Fiquei na defensiva, "não vou beijá-la", as horas iam se passando e eu num conflito interno, quando o sol arriscava dar as caras, já estava tão possesso por esse sentimento que acabei cedendo a ele.




Anahí
Um calafrio percorreu minha espinha e senti meu corpo tremer, a respiração quente dele aproximou-se do meu queixo e sem motivo aparente, meu coração disparou, fiquei imóvel, ele encostou nossos lábios e a sensação era ainda melhor do que eu esperava, um selinho ingênuo e demorado me fez titubear. Alfonso se afastou lentamente, eu me ajeitei em seus braços e ele ficou paralisado. Alguns minutos depois ele me colocou sob o travesseiro e me deu às costas.

- Onde você vai? - perguntei com a voz rouca.

- A senhorita adormeceu - disse um tanto quanto assustado - Então pensei que deveria sair!

- Mas ainda está escuro - falei manhosa, enquanto alcançava as suas mãos o trazendo pra perto de mim novamente - Fica aqui!

- Senhorita acho qu - o interrompi.

- Apenas Anahi, Alfonso! - rolei os olhos e vi o verde oliva ser iluminado pela luz da lua que entrara pela janela - Relaxe - deitei de novo em seu peito sem pestanejar e ali adormecemos.


A luz do dia invadia meu quarto sem piedade, o dia estava nublado, outra lembrança terrivel do pior dia da minha vida. Alfonso não estava mais ali, me lembrei da noite e soltei um sorriso bobo, maneei a cabeça em negação e fui fazer minhas higienes.

- Bom dia ! - Tereza que limpava o corrimão me cumprimentava no fim da escada.

- Bom dia, a que horas a energia voltou?

- Faz umas duas horas, são 10:30, vai até a empresa hoje? - me perguntou enquanto nos dirigiamos até a cozinha.

- Não - me sentei a mesa - Viu Alfonso?

- Estou aqui - apareceu na porta que dava de encontro ao jardim - Bom dia, está melhor?

- Bom dia! Sim, mas não pretendo ir trabalhar por que ainda dói um pouco - fiz uma careta - E você? Como está?

- Bem, obrigado - me sorriu, que sorriso.

- Já tomou café? - arqueei a sobrancelha o libertando dos devaneios que estava.

- Sim...Bom, vou estar lá fora, qualquer coisa é so chamar - fez um sinal, levando a mão direita a cabeça.

Terminei meu café da manhã e subi para tirar o pijama e tomar um banho. Fiquei um tempo respondendo emails da empresa, e hora ou outra me pegava pensando em Alfonso, totalmente tola.

Passava de meio dia, então decidi almoçar no quarto mesmo. Tereza me trouxe o almoço na cama e sentou-se a beira dela, massegeando meu tornozelo.

- Tereza - a chamei ainda de boca cheia e ela riu - O que sabe sobre o Alfonso? - Ela me olhou com um ar desconfiado que eu ignorei e insisti - Me diga, o que sabe dele?

- Não sei nada que você não saiba Annie...

- Me fala da vida dele, da família, algo que eu não saiba.

- Sabe do pai? - assenti - E da irmã?

- Irmã? - franzi o cenho - Que irmã?

- Nao sei... uma vez ele comentou que só tinha "essa irmã" no mundo - deu de ombros.

- Hmm - murmurei - Obrigada!

- Com licença - ela se retirou e eu fiquei lá pensativa.

Liguei no celular de Alfonso e pedi que subisse até o meu quarto. Após duas batidas, ele entrou.

- Oi - sorri - Pode entrar!

- Queria falar comigo? - perguntou com um sorriso no canto dos lábios.

- Sim, eu estava jogando conversa fora com a Tereza - ele me olhou atento - e ela me disse que você tem uma irmã - fui direta e ele pareceu estranhar aquilo, após um breve silêncio, prossegui - Estou curiosa!

- Ah, sim, tenho uma irmã - disse exacerbado e ficou quieto.

Eu fiquei totalmente sem graça e outro silêncio pairou no ar, ele o quebrou me pedindo licença e eu apenas assenti com a cabeça, sem entender o que havia acontecido.

Passei o restante da tarde na sala assitindo filmes e lendo livros. Até que algo me chamou atenção, me levantei curiosa a fim de saber o que estava acontecendo.

- Oi - a garota ruiva e tímida sorriu com os dentes alinhados, enquanto Alfonso soltava o braço que antes lhe segurava.

- Olá - larguei o livro que eu lia no sofá da sala assim que vi a movimentação no gramado - Aconteceu alguma coisa? - pedi mordiscando uma maçã.

- Oh - Alfonso exclamou - Nada. Essa é Dulce, minha irmã da qual eu falei - explicou - Ela está com dificuldade para se localizar ainda e resolveu me procurar aqui.

- E porquê não me disse? Poderia trazê-la para morar aqui - sugeri - Sabes que tem um quarto vago ao lado do seu. Não seria incômodo algum...

- Não acho que seria uma boa ideia - ele disse seco.

- Mas claro que seria - ela sorriu - Seria uma ideia Adorável.

- Por que não seria uma boa ideia Alfonso? - franzi o cenho brincalhona.

- Não deveria misturar minha vida pessoal com o trabalho - disse sério.

- Mas não vejo problema, só até ela arranjar algo não é? Dulce?

- Sim, será só por um tempo, maninho - tocou o ombro de Alfonso sarcástica.

- Bom, com licença - ele pediu e saiu.

- Tereza, acomode Dulce no quarto ao lado de Alfonso, por favor! - lhe pedi enquando Dulce juntava-se a mim a caminho do sofá da sala.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora