A Herdeira

Vinte e oito

Quando o grande dia finalmente chegou, Anahí sentia-se como se estivesse despertando de um pesadelo longo e angustiante. Por semanas, Alfonso lutara pela vida na UTI, e agora, com o aval dos médicos, ele finalmente poderia voltar para casa. Embora ainda fraco e vulnerável, seu progresso fora considerado impressionante, e o simples fato de estar vivo já era motivo de celebração. Anahí estava determinada a fazer daquele momento um marco de renascimento para a família.

A casa, que tantas vezes parecia vazia e sem vida sem Alfonso, agora pulsava com uma nova energia. Cada canto estava meticulosamente decorado com amor e carinho. Chloe, com sua animação contagiante, ajudara Anahí a enfeitar o ambiente com balões coloridos que flutuavam perto do teto, e fitas brilhantes pendiam pelas paredes. Na sala de estar, uma faixa improvisada em papel branco, rabiscada com letras coloridas e cheia de corações, dizia: "Bem-vindo de volta, papai!".

O cheiro reconfortante de bolo de chocolate recém-assado preenchia o ar. Era a receita favorita de Alfonso, e Anahí e Chloe tinham preparado tudo juntas, com uma atenção carinhosa em cada detalhe. Havia pequenas travessas com salgadinhos e docinhos, e sobre a mesa, uma toalha branca com flores bordadas, um toque que Anahí escolhera como símbolo da esperança que agora voltava a preencher seu coração.

Chloe mal podia conter a empolgação. Ela corria de um lado para o outro, seus cabelos balançando em tranças, certificando-se de que tudo estivesse perfeito. Seus olhos brilhavam, e seu sorriso irradiava uma felicidade que fazia Anahí sentir um nó na garganta, pois sabia o quanto sua pequena sofrera com a ausência do pai.

— Mamãe, você acha que o papai vai gostar da festa? — perguntou Chloe, com os olhos inocentes cheios de expectativa.

Anahí se abaixou, ficando da altura da filha, e ajeitou uma mecha de cabelo fora de lugar.

— Ele vai adorar, meu amor — respondeu, sorrindo suavemente. — Tudo o que fizemos aqui foi com muito amor. E o mais importante, ele vai estar de volta com a gente.

O som de uma ambulância se aproximando trouxe uma onda de emoção à tona. Chloe correu para a janela, observando o veículo parar em frente à casa. Anahí respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado, mas não pôde evitar que seus olhos marejassem. Depois de tudo o que passaram, depois de todo o medo e incerteza, Alfonso estava finalmente voltando para casa. Vivo.

Assim que a porta da ambulância se abriu, um dos paramédicos ajudou Alfonso a sair. Seus movimentos ainda eram lentos e cautelosos. Ele vestia uma camiseta simples e calças largas de hospital, e o cansaço estava evidente nas linhas de seu rosto. No entanto, mesmo cansado, seu olhar era de pura determinação. Cada passo que ele dava, por mais vacilante que fosse, era um triunfo.

Chloe foi a primeira a correr em sua direção, saltitando de alegria com seus pequenos braços estendidos. Alfonso, ao vê-la, sentiu um calor imenso se espalhar por seu peito. Ele sempre fora um homem forte, mas ali, naquele momento, com sua filha correndo para ele como se o mundo dependesse daquele abraço, ele sentiu as pernas quase fraquejarem, não pela fraqueza física, mas pela força das emoções.

— Papai! — Chloe gritou, lançando-se em seus braços.

Alfonso se abaixou, ignorando o leve protesto de seu corpo, e envolveu Chloe em um abraço apertado. Ele a segurou com força, como se aquele abraço fosse o único elo que o mantivera conectado à vida durante as semanas de luta. As lágrimas brotaram em seus olhos, mas ele as conteve, porque naquele momento ele queria que sua filha visse apenas a felicidade de seu retorno.

— Oi, minha princesa — ele murmurou, a voz ainda rouca, mas carregada de emoção. — Eu senti tanto a sua falta.

Chloe, com o rostinho colado ao dele, sorriu, as bochechas coradas de felicidade.