Cinco

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Alguns dias haviam passado, e após receber um telefonema no mínimo curioso, resolvi dar uma chance a Alfonso. Faziam cinco dias desde que ele havia mudado para a capital e a dois dias estava trabalhando como meu guarda-costas pessoal. Ele era bastante profissional e atento, estava certa de que havia feito uma ótima escolha.

- Pode guardar essa - estendi uma pasta a Daniela - E mais essa. Pronto, finalizamos por hoje - sorri, soltando os cabelos que chicotearam com o vento vindo da janela.

- Parece que teremos uma tempestade - ela comentou, assim que vislumbrou o céu escuro que havia lá fora.

- Odeio dias assim - resmunguei, vestindo o blazer, antes sobre a cadeira - Não me trazem lembranças muito agradáveis.

- Posso imaginar - ela concordou, sem muito entusiasmo.

Já colocava a bolsa sobre o ombro prestes a sair quando resolvi fazer algo.

- Escuta Daniela - ela voltou, assim que ouviu minha voz.

- Pois não Senhorita Portilla, necessita de mais alguma coisa? - disse solicita, virando-se na minha direção, enquanto ainda carregava as pastas.

- Preciso sim - avancei retirando as pastas das mãos dela e as depositando novamente sobre a minha mesa - Preciso que você tire o dia de amanhã de folga - sorri.

- Mas Senhorita Porti - a interrompi.

- É uma ordem, sem recusas! - a fiz caminhar até a própria mesa e pegar suas coisas - Tem trabalhado demais, e esse descanso é mais do que merecido.

Ela abriu um sorriso singelo.

- Quero que saia com as suas amigas, seu namorado, que vá se divertir - justifiquei - Você sai daqui tarde todos os dias e ainda assim mantém o ritmo com a faculdade...Vá descansar! Tire esse dia pra você aproveitar.

- Eu nem sei como agradecer - grata - Essa folga será muito bem vinda.

- Então vamos lá - sinalizei a porta.

- Deixa apenas eu guardar as pastas que ficaram sobre a - a interrompi novamente.

- Eu posso me virar com elas amanhã - pisquei - Vamos lá, aposto que vai ter trabalho para planejar o que fazer com o seu dia de folga - brinquei, enquanto sumíamos pelo corredor.





- Ucker me chamou pra jantar mas eu não estou muito afim e - tirei os sapatos, deixando os pés livres enquanto conversava com Maite ao telefone. Alfonso olhou-me desconcertado - Ai desculpe - resmunguei sem graça, enquanto cobria o telefone com a mão para que Maite não ouvisse - Força do hábito - tentei descontrair.

- Está tudo bem - ele concordou com um meio sorriso, que não sei explicar mas me fez querer vê-lo sempre em seus lábios.

- Anahí? AN? ANAHÍ PORTILLA?

- Desculpe Mai, eu me distraí com com com....com uma freada que o Nicardo deu.

- Então, o que me diz?

- Em relação ao Mane?

- Não Anahí! Em relação a sua festa de aniversário! Em que planeta você está? Saturno, Marte, Júpter....

- Eu só tive um dia cheio, foi só isso - expliquei, suspirando - Você pode organizar como quiser, sabe que tem passe livre e que confio no seu bom gosto.

- Vamos escolher os convites no sábado?

- Eu te ligo amanhã e ai combinamos, pode ser?

- Se você esquecer eu juro que vou até o escritório e te arrasto comigo, independentemente do que você esteja fazendo...

- Ok Mai - ri - Eu não vou esquecer. Pink Promisse - lembrei da nossa velha brincadeira de infância e ela gargalhou do outro lado da linha.


Assim que chegamos, Alfonso foi direto para a dependência de empregados, enquanto eu subi as escadas com destino ao meu quarto. Rosana já havia preparado meu banho, e não demorei muito a me despir e emergir na água quente e aromatizada. Vesti uma camisola leve e um hobbie e desci para jantar na sala, sozinha como de praxe. Acabei derrubando suco na toalha de linho e Rosana saiu correndo, em busca de um pano limpo na área de serviço.

- Rosana, vai descansar, deixa que eu.....AI! - gritei, com o trovão que acabara de soar.

- Está tudo bem? - Alfonso entrou em disparada pela porta da cozinha.

- Está, foi só um - a luz apagou, deixando tudo em uma escuridão completa - Droga - resmunguei.

- Fique ai, vou ver se consigo encontrar uma lanterna - dizia enquanto eu ouvia sua voz distanciar.

- NÃO, espera - cai, gemendo de dor no tornozelo.

- O que houve? - ele se aproximou, tateando meu rosto com os dedos no escuro. A respiração foi sentida no meu rosto, nós estávamos completamente próximos. O suficiente para que meu corpo se arrepiasse por completo.

- Eu AI - tentei levantar, em vão - Eu torci o tornozelo.

- Se apoia em mim - levou uma das minhas mãos ao peito dele, enquanto os braços dele me envolviam, me suspendendo do chão - Pronto. Vou te levar para cima, e ai venho buscar um gelo para o tornozelo.

Eu assenti, enquanto meus braços seguravam firmemente o pescoço dele. Alfonso subiu as escadas como se já soubesse o caminho de cor, mesmo com toda a escuridão que fazia ali. O ajudei para que abrisse a porta do meu quarto e ele depositou me corpo com delicadeza sobre a cama de lençóis e travesseiros fofos. Ele estava prestes a sair do quarto em busca de gelo quando trovões tornaram a soar.

- POR FAVOR - gritei, depois diminuindo o tom de voz - Não vai, não me deixa aqui sozinha.

- Eu só vou buscar gelo na cozinha e - o interrompi.

- Não precisa - comecei um choro baixo, enquanto me encolhi na cama. Minha perna doía como nunca.

- Mas Senhorita, é necessário - disse se aproximando da cama, sentando posteriormente na ponta dela, próximo a mim.

- Eu não quero ficar sozinha, por favor Alfonso - levei uma das mãos no escuro até as dele que estavam depositadas sobre seu colo. Meus olhos já estavam banhados pelas lágrimas.

- Tudo bem - ele aproximou-se mais, depositando a mão sobre a lateral do meu rosto - Você precisa ficar calma, logo a luz volta e iremos dar um jeito nisso.

- Você deve estar me achando uma garotinha boba - sussurrei, baixo, assim que senti o polegar dele enxugar as pequenas lágrimas que saltavam dos meus olhos.

- Eu apenas estou achando que você é alguém que passou por muitos traumas, e que eu não sou ninguém para que possa julgá-la - massageou meus cabelos, os colocando atrás das orelhas.

A HerdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora