Capítulo 4 - Camiseta molhada por uma boa causa

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Na hora do jantar, Marília avisou que estava meio mal e subiu para o quarto. Espero que não seja por conta das minhas tentativas de cantada.

- Acho que vou lá ver se ela quer alguma coisa. – minha mãe fez menção de levantar da mesa, porém César a interrompeu.

- Não! A Maraisa pode ir. Ela é mais nova, tem que se exercitar.

- Mas eu... AI! – César chutou minha canela por baixo da mesa me fazendo gritar, logo meus pais me encararam.

- O que houve, Maraisa?

- Eu disse, oh Deus pai. Agradecendo pela refeição e tal. Já estou indo lá. – dei uma risada sem graça e saí da mesa que nem o Flash antes de levar outro chute.

Respirei fundo e bati na porta do quarto de Marília, logo a mesma disse para entrar e eu lentamente abri a porta.

- Lila... Marília? - me corrigi. Não éramos tão íntimas na vida real como na minha mente - Está tudo bem?

- Está sim, só estou um pouco enjoada. - ela forçou um sorriso. Marília estava sentada na cama, desenhando no seu caderno. Obviamente Marília estava para baixo por causa do enjoo, porém parecia que tinha algo a mais a incomodando. Ela sempre desenhava quando estava estressada.

- Minha mãe perguntou se você quer alguma coisa?

- Não, obrigada.

- Tá bom. - eu ia sair, mas parei no meio do caminho. Fechei a porta e caminhei até a cama, sentando na ponta. Não sei de onde tinha tirado coragem para fazer isso, mas vamos lá. - Está tudo bem mesmo?

- Claro Maraisa, porque não estaria? - ela continuou desenhando e nem me encarou. Era óbvio que tinha algo errado.

- Tudo bem se não quiser falar, mas saiba que eu estou aqui se precisar. - engoli a vergonha e finalmente disse algo útil. Logo Marília levantou a cabeça e olhou na minha direção, como se pensasse se deveria me contar.

- É só que eu... – ela suspirou e deixou o caderno de lado - Eu... - Marília encarou vários pontos do quarto até seu olhar parar em mim. De repente ela salta na minha direção e me dá um abraço apertado - Eu sou tão patética! – fungou e eu pude sentir que ela estava chorando, já que minha camiseta nova do Capitão América estava ficando encharcada, mas na hora eu nem liguei.

- Você não é patética. - disse tentando ignorar o misto de sensações que percorriam o meu corpo no momento e coloquei os meus braços ao redor dela.

- É claro que eu sou. Minha avó está doente, meus pais estão na Flórida cuidando dela e a única coisa com a qual eu me preocupo é se o Ricelly vai me notar. - ela continuou agarrada em mim – Eu sou uma pessoa horrível!

- Você não é uma pessoa horrível. Tudo bem ser egoísta de vez em quando. - ok, isso definitivamente não foi bom - Quero dizer, às vezes é involuntário pensar coisas do tipo. – como eu agora, - que estou aproveitando o abraço de Marília, por mais que a situação não seja das melhores.

- Mas eu não quero ser egoísta com isso. O que as pessoas fazem para não esquecerem de que não devem ser egoístas?

- Bem, elas têm outras pessoas que as lembram disso. Amigos e família, por exemplo. - Marília aparentemente tinha parado de chorar, porém continuava me abraçando.

- Você me acha horrível?

- O quê? Não! É claro que não. Você é a pessoa mais gentil e bondosa que eu conheço.

- Sério? - ela se afastou e me encarou, segurando os meus ombros.

-S-Sim. - deu um pequeno sorriso e sentou no mesmo lugar que estava antes.

- Obrigada Maraisa e desculpe por molhar a sua camiseta do Capitão América. - Marília secou as lágrimas e eu me levantei da cama meio sem graça.

- Não, imagina. Estou aqui para o que precisar. - sorrimos uma para a outra e eu saí do quarto. Assim que fechei a porta me escorei nela e respirei fundo, processando o que tinha acabado de acontecer.

Depois de alguns segundos, corri para o meu quarto e peguei meu celular.

Bruno! A Marília me abraçou! Tipo, ela estava triste e chorando. Mas me abraçou!
E também molhou a minha camiseta nova do Capitão América, mas o que importa é que ela me abraçou!

Bruno: Camiseta nova? Você podia ter me dito que ia comprar, eu queria uma também. Traidora da Aliança! Rebelde!
Espera... Ela te abraçou? Como assim?

Tipo assim, ela disse que estava sem fome. Aí eu fui lá perguntar se ela não queria algo, mas ela disse que não e que estava bem. Mas eu conheço a Marília, ela não estava bem. Então eu reuni a coragem q eu não sabia que existia e fui falar com ela. Ela me abraçou chorando e dizendo que era patética por se preocupar se o Ricelly ia notar ela ou não, quando devia estar preocupada com a família. Eu disse que ela era maravilhosa e tudo mais e depois ela me agradeceu e eu fui embora. E eu não traí a Aliança! Foi minha mãe que me deu a camiseta. Eu não ia negar.

Bruno: Nossa! Que textão, Acho que não entendi um pouco direito. Espera, ata, entendi, sim tive que reler o textão.
Bom progresso! Mas enfim, cadê a minha camiseta?

Você é inacreditável!

***

Eu e Marília chegamos mais cedo na escola de novo, pois como ela estava meio mal na noite anterior, minha mãe insistiu para nos levar novamente.

Nós duas sentamos na escada, como ontem, para esperar as nossas amigas.

- Maraisa! - ela me chamou e eu olhei na sua direção um pouco assustada. Marília tinha me pego de surpresa viajando nos meus pensamentos.

- Sim?

- Obrigada pela noite passada. Eu me senti muito melhor. - senti minhas bochechas esquentarem.

- De nada. Já disse que pode contar comigo. - falei com a cabeça baixa. Logo fui surpreendida pelos braços de Marília ao redor do meu corpo e gelei por exatamente cinco segundos antes de retribuir. Sim, eu contei.

- Obrigada novamente.

- De nad... - ouvimos alguém pigarreando e nos soltamos do abraço. Quando olho para cima, vejo alguém que não esperava que interrompesse de jeito nenhum.

- O-Oi Ricelly. - Marília levantou envergonhada e quase caiu. Já eu fiz careta sem que eles vissem e levantei também.

- Bom dia, Marília. – sorriu – Maraisa - fechou o sorriso e eu jurei que ele tinha me matado com o olhar. Porém Marília pareceu não perceber por conta da vergonha.

- Bom dia. - respondi com um sorrisinho.

- Eu queria saber se...

- A Bianca ainda não chegou. - cortei ele - Se é isso que quer saber.

- Na verdade, queria saber se a Marília pode me ajudar com com a tarefa de física? Sei que é pra hoje, mas eu não consegui fazer o exercício e...

- É claro que eu posso te ajudar! - ela falou animada - Podemos ir indo pra sala. - ele assentiu e os dois saíram, me deixando parada com cara de tonta.

O pior não foi Marília ter aceitado ir com ele, pois era óbvio que ela faria algo do tipo já que gosta muito de Ricelly, mas sim a parte de ele ter pedido ajuda na matéria cujas melhores notas da sala, são as dele.

JUST FRIEND - MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora