Capítulo 12 - Maraisa a balde

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Se nesse momento eu fosse uma música, com toda certeza seria The Sound Of Silence - aquela com o famigerado trecho "Hello darkness my old friend". Já que se encaixa perfeitamente na minha situação atual.

E se o que eu sentia agora fosse filme, seria o do Lanterna Verde com o Reynolds - por mais que eu idolatre o ator, não consigo aturar o filme -, que todos fingem que não existe para não precisar sofrer lembrando do quão ruim foi.

Eu poderia citar inúmeras outras referências sobre a minha situação. Mas isso renderia um grande momento de uma pausa reflexiva. E eu estava desanimada demais para isso.

- Pelo menos eles não brigaram, né? - Bruno forçou uma risada e eu suspirei olhando para baixo.

- Diz logo o "Eu te avisei". - falei mal-humorada.

- Sinceramente, eu gostaria muito de dizer, mas não acho que você precise disso agora. - meu amigo colocou a mão no meu ombro.

- Acho que na minha vida passada eu fui um balde, porque não é possível eu ir e voltar do fundo do poço tantas vezes. - ele riu.

- Fica calma, eles podem estar apenas se divertindo. Como as pessoas geralmente fazem em um fliperama.

- Não, cansei disso. Já perdi as esperanças e aprendi a lição. De agora em diante vou seguir todos os seus conselhos.

- Você não pode fazer isso.

- Como assim? - Bruno suspirou e me puxou para sentar em um banco que tinha ali perto.

- Olha, eu sou seu amigo e tudo, mas eu não entendo o que sente pela Marília.

- Mas eu já te disse que eu...

- Saber é diferente de entender.- fiz uma careta de confusão - O que eu quero dizer é que eu posso dizer inúmeras coisas sobre como você deve agir, o que deve fazer e mais, no entanto, eu não entendo como você se sente ao ver a Marília sorrir, ou quando ela fala com você. Então eu não tenho como dizer como você deve agir, porque só você pode fazer isso. Não existe roteiro.

- Eu entendi o que você quis dizer, mas tudo que eu tenho feito até agora deu errado. Eu faço tudo errado! - admiti derrotada, dando um suspiro profundo.

- Seres humanos e sua mania de complicar tudo! - Bruno disse, arrancando uma risada de mim.

- Sempre soube que você era um alienígena! - nós dois rimos.

- Voltando ao assunto, eu vou te dar um conselho.

- Ué, mas você não disse que eu não podia seguir seus conselhos?

- Em relação ao que você sente pela Marília, esse não é sobre isso. Quer me acompanhar aqui? – ele gesticulou e eu ri novamente.

- Tá, fala logo! – revirei os olhos.

- Lembra que eu falei sobre equilibrar as coisas? - assenti.- Pois bem, não adianta você fazer inúmeros esforços para agradar alguém, mas não fazer nada por você. As pessoas dizem que egoísmo é algo ruim, mas às vezes você precisa se ajudar primeiro antes de ajudar alguém.

- O que você quer dizer exatamente?

- Que nesses últimos dias você fez tanta coisa para agradar as pessoas à sua volta, mas já parou para fazer algo para si mesma? Tipo sair com alguém sem ter a necessidade de agradá-lo?- suspirei derrotada. Era verdade. - Olha em volta, você tá deprimida em um fliperama! Isso é surreal!- dei uma risada.

- O que eu faço então?

- Esquece eles! Vamos jogar alguma coisa e se vierem te procurar, vocês conversam, se não, poupe a si mesma e se dê uma folga dessa rotina exaustiva!

Levantamos do banco e eu estufei meu peito, me sentindo mais determinada após aquele discurso motivacional.

-Bruno, você é o melhor amigo que alguém poderia ter. Se tiver algo que eu possa fazer para retribuir...

-Maraisa, melhores amigos não cobram favores. Mas eu não ia negar aquela camiseta do Capitão América. Acha que eu esqueci?- ri novamente, me sentindo mais revigorada e tendo a certeza que por mais que Bruno me cobrasse camisetas, ele era o melhor amigo que eu poderia ter.

E novamente eu fui ao fundo do poço e voltei, como um balde.

***

Acabou que Marília e Ricelly nos encontraram na hora de ir embora. Então nós quatro nos despedimos e fomos para casa eu e Marília juntas, já que ela estava hospedada na minha casa.

-Então, você se divertiu hoje?-perguntei puxando assunto.

- Sim. O Ricelly foi bem legal. Acontece que ele não é tão babaca assim. - nós rimos. E pela primeira vez, eu estava tranquila quanto ao assunto.

- Que bom que vocês se deram bem. Ele é uma pessoa legal, só agia meio estranho porque não tinha muitos amigos, então acabava não sabendo direito como lidar.

- Entendi. Bem, o pai dele não ajuda muito o proibindo de sair quase sempre.

- Tem razão. - concordei e voltei a ficar calada, o que era um evento raro.

- Mas então, pensei que quando chegarmos na sua casa, você poderia me contar sobre o filme. Eu gostei bastante, mas não entendi muito bem.

- Você não viu o um? - ela negou com a cabeça e eu ri. - Acho que eu devia ter perguntado isso antes. - admiti. De fato eu estava tão focada em fazer o plano dar certo e meio insegura pensando no que poderia dar certo, que nem sequer me preocupei em Marília aproveitar o filme.

- Pelo menos foi um bom filme.- disse ela, dando um sorriso reconfortante.

- Podemos fazer melhor. Que tal a gente assistir o primeiro e depois você faz as perguntas que quiser?

- Pode ser, mas como vamos assistir?

- Eu tenho.

-Eba! - Marília comemorou e eu não pude deixar de deixar escapar um risinho. - Faremos isso então. - E assim fomos conversando durante o caminho.

Me sentia muito mais leve comigo mesma. A conversa que tive com Bruno foi bem esclarecedora, e ao contrário das outras vezes que eu escutava tudo o que ele dizia e fazia as coisas ao contrário, dessa vez as palavras dele finalmente entraram na minha mente.

A verdade é que eu não fazia ideia de que um dia eu consiga ter algo com Marília. Mas chega de forçar isso. Porque se um dia acontecer, vai acontecer normalmente e eu não precisarei pagar vários micos como tenho pago.

E sobre Ricelly, ele foi legal comigo e eu com ele. Então não preciso ficar me preocupando em conduzir a nossa amizade. Assim como o que pretendo ter com Marília, vai acontecer

normalmente.

Era tudo questão de tempo.

Ou não.

JUST FRIEND - MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora