Capítulo 15 - Amor

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Por fora eu parecia plena, mas por dentro eu surtava demais.

Eu estava sentada em frente à Marília na mesa do café inspirado em Friends, no fim optamos por vir nesse, já que ela tinha gostado tanto, enquanto os olhos dela percorriam pela extensão do cardápio para escolher o que pedir.

Olhei para a rua pela janela, onde uma leve garoa banhava as ruas da cidade. Bruno estava certo, realmente choveu. Que irônico!

- O que você acha?

- Acho do quê? - me assustei com a sua fala repentina.

- Que eu devo pedir. Todos parecem tão saborosos. - ela riu e me encarou - O que foi? Você parece tão séria. Aconteceu algo? - acho que fui pega no pulo.

- N-Nada. Não aconteceu nada.- engoli em seco.

- Tem certeza?

- Tenho sim.

- Tudo bem, mas sabe que pode me contar qualquer coisa. Amigas são pra isso. - aquela única palavra no início da frase fez com que tudo que eu já tinha formulado na cabeça, desaparecesse. Então apenas assenti, enquanto ela voltava a olhar o cardápio.

- Eu acho que vou pedir um americano com chantilly duplo, porque sabe como eu...

- Esse é o problema! - a interrompi no que eu acho ser um surto de coragem.

- Porquê? O americano não tem graça se não tiver chan...

- Não, não é isso! Foi o que você disse antes.

- Sobre o seu problema?

- Você quer saber o que é? Eu vou contar então! - disse rápido, de uma maneira até meio rude, fazendo com que Marília me encarasse totalmente confusa. - Eu sou uma covarde, passei um bom tempo gostando de uma garota maravilhosa mas eu nunca contei pra ela, é esse o meu problema! - olhei para a janela, sem coragem de encará-la.

- Ah, Maraisa... Eu... Bem, acho que você deveria contar, então.

- Eu não consigo!

- Porquê não? Aposto que ela é a garota mais sortuda do mundo. - deixei meus ombros caírem em um longo suspiro e olhei para ela.

- Marília... Eu sou apaixonada por você. - um misto de choque e surpresa estava estampado no seu rosto.- Marília ficou paralisada e o cardápio escorregou de suas mãos até cair na mesa.

Ela ficou mais alguns segundos assim, até eu perceber que de todas as versões formuladas por mim, aquela tinha sido a pior das declarações.

- Eu sou apaixonada pelos seus olhos, verdes como o oceano. Eu amo quando você chega na escola com um sorriso, animando e contagiando todos. É sério, quem chega feliz na escola de manhã cedo? E você consegue isso! Eu amo seu jeito desastrado e a maneira como você se importa com as pessoas. Quando seus olhos brilham porque está falando sobre algo que ama, como moda. Seus desenhos são incríveis, aliás.- suspirei novamente - Você está destinada à grandeza, Marília. Merece o melhor. E eu não tenho certeza se sou isso. Bruno disse que eu seria uma vencedora por pelo menos confessar os meus sentimentos. Mas sabe... Não me importo com isso. Não me importo em ser uma perdedora se isso significa ter você. O que talvez não aconteça, mas tudo bem. Eu só não quero perder nossa amizade, podemos fingir que isso não aconteceu se você quiser. Mas eu precisava dizer o que me sufocou por tanto tempo e eu não quero que você diga alguma mentira só pra me agradar, eu te amo demais pra isso.

Encerrei o meu monólogo e fiquei encarando Marília, esperando por uma resposta. Não fazia ideia de como tinha conseguido dizer tudo aquilo.

A garota em minha frente permaneceu paralisada, e depois de uns dez segundos, ela piscou os olhos, parecendo estar voltando pra realidade.

- E-Eu... - sabia que não viria coisa boa depois disso, se fosse recíproco, ela provavelmente falaria logo - Quando eu gostava do Ricelly, você...

- Sim. Eu gostava de você.

- E quis me ajudar com ele? Porquê?

- Amigas são pra isso. - repeti a frase que ela havia usado mais cedo.

Ficamos nos encarando em silêncio e nesse momento a ficha caiu: EU TINHA CONFESSADO TUDO QUE EU SENTIA PARA MARÍLIA E ELA NÃO DISSE QUE TAMBÉM SENTIA, OU SEJA, SOCORRO!

Naquele momento eu senti que precisava sair dali o mais rápido possível.

- Olha, eu preciso mesmo ir... É... Nos vemos em casa. - pulei fora e fui em direção à porta.

- Maraisa! Espera! - não olhei para trás apenas saí e assim que passei do toldo que havia sobre a parte de fora porta, senti os pingos de chuva na minha cabeça.

Continuei caminhando com as mãos no bolso, mesmo com a chuva. Eu não voltaria pra cafeteria de jeito nenhum e quando chegasse em casa, iria me trancar no meu quarto e ficar lá até o dia seguinte quando Marília não estivesse mais lá.

Senti uma mão me puxar e virei assustada, me deparando com Marília também coberta por água da chuva.

- Porque não me disse tudo isso antes?

- O que teria mudado?

- E-Eu não sei. - ficamos nos encarando sem ligar para as gotas de chuva que caíam sobre nós. - Eu nunca imaginei que você gostava de mim.

- Sério? Porque todo mundo dizia que estava óbvio. - ri sem humor.

- Você sabe como eu sou lerda. Por exemplo, demorei pra perceber que eu e o Ricelly não daríamos em nada. E como você disse, eu não quero mentir pra agradar você. Nunca tinha pensando em você dessa maneira... Digo, algumas vezes. Mas não imaginei que um dia pudesse acontecer.

- Pudesse acontecer o quê?

- Alguém me amar desse jeito, dizer coisas tão lindas pra mim. Não pensei que merecia isso.

- Mas você merece! Nunca pense ao contrário! - ela sorriu e se aproximou.

- Eu... Eu sinceramente não acredito em tipos de amor. Eu acho que amor é amor e ponto. Agora o que cada pessoa é para você, depende do que você sente quando está com ela, fala dela ou conversa com ela.

- E o que você sente quando está comigo?

- Que não é o suficiente.

- Como assim?

- Talvez eu não tivesse percebido o quanto eu preciso de você. Que todos os dias que nós acordamos, vamos pra escola e voltamos pra casa juntas, não é o suficiente. Que quando eu voltar pra casa amanhã, eu vou sentir muito a sua falta. Eu percebi agora que preciso de mais.

- O q... - Marília interrompeu minha fala, se esticando, colocando a mão em minha nuca e selando nossos lábios.

Se mágica existia, aquele momento era a mais pura demonstração de magia. Porque beijar Marília era algo que eu nunca havia sequer pensado que aconteceria de fato. E lá estava eu, beijando a garota dos meus sonhos em baixo da chuva fraca. Parecia até cena de filme!

- Isa, eu amo você!

- Se eu estiver sonhando, por favor não me acorde. - Marília riu.

- Obrigada por ser a minha melhor amiga. E agora... Espero que mais do que isso.

ela me abraçou, deitando a cabeça em meu peito. E naturalmente fazendo meu coração bater mais rápido.

Ah! Como eu a amava!


FIM.

JUST FRIEND - MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora