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{alerta de gatilho: nesse capítulo, a protagonista descreverá um episódio de violência doméstica com algum nível de detalhe. se você não se sentir confortável para ler o relato, você pode pular esse capítulo sem que isso prejudique o seu entendimento da história.}

will & ana
07h13 @ mirante da reserva florestal

"i don't wanna see you with anyone but me
nobody gets me like you."
🎧 nobody gets me, SZA

❝ ❝ ❝ ❝ ❝

Ana: Esse é o lugar mais bonito que eu já vi na minha vida.

Will: Valeu a pena subir até aqui com essas botas?

Ana: Foi uma prova de resistência, e eu resisti.

Will: Você se saiu muito bem.

Ana: Eu tenho a impressão de que dá para ver a cidade toda daqui. Faz meus problemas parecerem tão pequenos, olhando de cima para uma das maiores cidades do mundo e percebendo que ela é só isso. Enorme, mas apenas uma das grandes.

Will: É por isso que eu te trouxe aqui. Imaginei que seria mais... apropriado.

Ana: Essa é uma conversa difícil de ter sóbria.

Will: É por isso que essa garrafa térmica tem vinho, não café.

Ana: Tá brincando?

Will: Nunca brincaria com uma coisa dessas.

Ana: ...

Will: ...

Will: Quando quiser.

Ana: Eu tinha um namorado. Essa parte você sabe. O conheci na faculdade. Todo mundo acha que se você se muda da sua cidade para estudar, é o melhor período para se estar solteiro. Conhecer gente, acumular experiências. Eu me sentia da maneira exatamente oposta. Solitária. Sempre fui o tipo de pessoa de relações interpessoais próximas, nunca fui de andar em grandes grupos. No segundo ano, eu o conheci. Ele já estava quase se formando. Era de outro curso, por isso ainda não tínhamos cruzado caminhos. Era a pessoa mais intrigante que eu já havia conhecido.

Will: Em que sentido?

Ana: Um cavalheiro, mas sem ser pedante. Inteligente, articulado, cheio de amigos. Eu fui imersa naquele mundo, e toda a experiência que eu estava lutando para tornar tolerável, ficou mais fácil. Eu sempre tinha companhia. Planos, amizades, convite para festas mais intimistas. Uma galera, se é que me entende.

Will: Quando isso mudou?

Ana: Não sei ao certo. As pessoas começaram a se afastar um pouco de nós depois de uma festa de formatura em que rolou uma briga. Ele tinha bebido bastante e estragado a noite de todo mundo arrumando confusão. Os poucos amigos que tinham ficado ao lado dele começaram a se retrair na ocasião seguinte, uma festa de aniversário. Ele tinha passado da conta.

Will: Era comum que ele bebesse muito?

Ana: Ele bebia todos os dias. Eu não achava estranho, sabe. Todo mundo na faculdade bebia muito, não era como se alguém pudesse julgar. Só comecei a notar que alguma coisa podia estar errada depois de um aniversário em que ele ganhou várias garrafas de uísque de presente. As garrafas não duraram muito.

Will: Alcóolatra?

Ana: Sim. Ele está internado, hoje. Foi a saída que ele arrumou para não ter que ir preso.

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