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will & ana
03h14 @ chamada de voz

"let me go under your skin
let me find the demons that drive those heavenly limbs."
🎧 beige, yoke lore

❝ ❝ ❝ ❝ ❝

Will: Ana?

Ana: Ei.

Will: São três da manhã.

Ana: São.

Will: É bom falar contigo.

Ana: Eu sinto o mesmo. De um jeito estranho, é como se eu estivesse sendo transportada para uma semana atrás, quando nada tinha acontecido e eu ainda estava bem. É bom saber que você ainda está aqui. Aí. Não sei. Você entendeu. É bom saber que eu ainda tenho isso, que nada te aconteceu.

Will: Eu estou bem. Estava preocupado era com você.

Ana: Quis te poupar da catástrofe. Não foi bonito.

Will: Você está bem, Ana? Precisa que eu vá te buscar?

Ana: Eu já estou de volta na cidade.

Will: Ah. Você não avisou.

Ana: Estava sem cabeça.

Will: Eu imagino. Eu sinto muito, Ana.

Ana: ...

Will: Que barulho é esse? (...) Acabei de checar, está chovendo. Na verdade, o mundo está caindo.

Ana: É só uma garoa.

Will: É um dilúvio.

Ana: Você não está mesmo falando sobre o clima comigo, está?

Will: O que for preciso para você não desligar o telefone.

Ana: Não vou desligar.

Will: Você está bem? Não me respondeu quando eu perguntei agora há pouco.

Ana: Não.

Will: Fala comigo.

Ana: Quer um conselho?

Will: ...

Ana: Não beba em velórios.

Will: ...

Ana: Está tudo bem. De verdade. Não comigo, né. Eu não estou muito bem não, mas vou ficar. Já vivi lutos antes, mais de uma vez. Eu sei como são os primeiros dias, terríveis e sufocantes e desesperadores e intermináveis. Mas sei que o tempo passa e a gente se adapta. Recomeça. Acostuma. Acho que nós, enquanto seres humanos, somos programados para nos ajustarmos a qualquer tipo de circunstância, e isso inclui a dor. Deu uma vontade mórbida de rir disso, até. Se tem uma pessoa que sabe sobre adaptação ao sofrimento, essa pessoa sou eu.

Will: Ana...

Ana: Mas o ponto é esse, sabe. Aprendi com mais esse luto uma lição valiosa, que foi essa que te contei. Não beber em velórios. Vou levar essa para a vida.

Will: Eu estou desesperado para te ver.

Ana: Teve outra coisa... é... o hospital...

Will: O que tem o hospital?

Ana: É o mesmo hospital em que eu fui internada quando tudo aconteceu.

Will: Ana, eu sinto muito mesmo.

Ana: E eu fui reconhecida lá. Poucos minutos antes de receber a notícia de que meu avô não tinha resistido.

Will: Não sei o que dizer. Você quer que eu vá até aí? Você não devia ficar sozinha.

Ana: Não estou sozinha. João e Ingrid estão aqui. De todo modo, não é por isso que eu te liguei.

Will: Ah, não?

Ana: Essa situação toda me fez refletir sobre algo de que eu já suspeitava, mas não tinha como ter certeza. Sempre me perguntei se, depois do que me aconteceu, eu conseguiria sofrer de novo. Ou se uma parte de mim estava tão endurecida, que eu tinha criado uma espécie de bloqueio não só aos bons sentimentos – como você mesmo me perguntou em um de nossos encontros, se eu era capaz de me apaixonar –, mas também à dor. Que forma terrível de descobrir que nem para isso aquilo me serviu. Eu fui tola em pensar que tinha sido vacinada contra a dor e nunca mais seria capaz de senti-la. Não é assim que funciona, sabe.

Will: ...

Ana: O que eu quero dizer com isso é que, bem... Will, eu... eu estou pronta para conversar sobre o que aconteceu comigo.

❞ ❞ ❞ ❞ ❞


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n/a: atrasei um pouquinho esse capítulo porque a vida está bem louca e a autora que vos fala mal está dando conta dela. mas prometo que não vou abandonar a história e estamos quase na reta final! tenho 10 capítulos planejados, e encerramos maia um livro 💞 obrigada por tudo, mais uma vez.
com amor, B

will & anaOnde histórias criam vida. Descubra agora