BREAK DOWN

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- Liam? - as palavras escaparam de seus lábios com um fiapo de voz, seu coração apertou e parecia se quebrar a cada passo que dava ao se aproximar da cama. Liam não fez questão de se mexer, não fez questão de abrir os olhos ou destampar o rosto. - Vou puxar a coberta, okay? - murmurou, soltando o filhote dos braços e, mesmo sabendo que não teria respostas, esperou um tempo antes de segurar as cobertas, as mãos vacilando enquanto escorregava lentamente o tecido felpudo para longe de Dunbar.

Liam estava quebrado, o rosto abatido com um olhar vago para o nada, as mãos próximas ao rosto encharcadas de sangue e o corpo encolhido como se buscasse algum tipo de proteção. Theo suspirou, dolorido com a cena e deixou Cappuccino puxar a coberta para fora da cama enquanto ele ia para o banheiro, pegar faixas, uma pomada e um pano úmido.

A vulnerabilidade não era algo que Liam mostrava ter, algo que admitia o render tanto, o destruir tanto. Era algo tão desconhecido e parecia um sentimento tão longe de voltar, de retornar ao seu corpo e o dominar por completo. Ele estava se saindo tão bem, tinha tudo sob controle, tudo estava indo como haviam o ensinado a vida toda, finalmente os anos de prática haviam gerado resultados junto com a meia dúzia de remédios que tomava todos os dias.

Ele não conseguia pensar no olhar de sua mãe, não conseguia imaginar sua reação de temor quando soubesse que tudo foi por água abaixo. De novo. Após tanto e tanto lutar e pedir e insistir e buscar por novos profissionais todos os anos. Era exaustivo demais para ambos.

Ele odiava se sentir como uma bomba prestes a explodir, odiava ver a reação das pessoas, o medo em seus olhos. Odiava os estragos que viam depois da confusão, da catástrofe. Ele era como um furacão, destruía tudo e todos ao seu redor, deixava tudo em pedaços, tudo quebrado. Era odioso.

Theo se ajoelhou em sua frente, segurando uma de suas mãos com cautela antes de começar a limpar o ferimento que algum objeto o fez após o socar tanto. Liam não conseguia dizer o porquê fazia, não conseguia encarar Theo. Era vergonhoso demais e ele não queria arriscar um olhar e ver Theo com medo, isso acabaria com ele de um jeito inexplicável, seu corpo tremeu com a ideia.

Theo acariciou sua mão, seu toque era quente e suave, era seguro e confortável. No momento parecia ser a única coisa real, a única coisa inteira no meio de toda a bagunça dentro de si. Liam quase fechou os olhos e apertou a mão de Theo, quase deixando sua garganta soltar as súplicas para que não saísse do seu lado em momento algum. Seu toque era reconfortante demais, seguro demais. Lágrimas se formaram quando desceu os olhos e viu Theo enfaixando sua mão com calma, não querendo o machucar.

- Você poderia ter quebrado a mão. - a voz rouca de Theo o fez tremer novamente, sua mão estava inchada e ensanguentada, cheia de hematomas escondidas pelo tecido branco enrolado com ternura foi posta novamente ao seu lado, onde estava quase escondida. - Quer um copo da água? - indagou, as palavras escolhidas com cuidado e o tom equilibrado, sem medo ou agitação.

Liam arriscou um olhar, apenas um para acabar com suas dúvidas, acalmar seu maldito coração e lá estava Theo, apenas com o olhar de preocupação. Sem medo. Sem temor. Sem receio.

- Não. - murmurou, o tom quebrado e rouco escapou. - Odeio isso. - confessou, tão baixo quanto podia, seu segredo, sua dor.

- Eu sei. - Theo pegou sua outra mão, fazendo Liam mudar a posição em que estava na cama e fez o mesmo procedimento, limpando o sangue. - Mas já passou, okay? Já é passado e pode tentar de novo. Você consegue, sei que consegue. -

- Eu perdi tudo. - murmurou novamente, focando seus olhos em um canto qualquer do quarto. Cappuccino estava tentando derrubar o cesto de novo e Liam quase sorriu com a memória do cãozinho correndo com suas roupas enquanto Theo gargalhava de seu desespero.

- não perdeu tudo. Acontece. É um deslize e está tudo bem. Vai tentar de novo e vai conseguir e, caso aconteça outro deslize, estará tudo bem também. - Theo começou a enfaixar sua mão, parando apenas para respirar fundo e organizar seus pensamentos, acariciando a pele marcada e roxa do mais novo no processo. - Emoções não são receitas de bolo, não são fixas e inteiras, previsíveis e possíveis de domar sempre. - tentou explicar, não era todos que conseguiam se controlar, controlar como se sentiam. Controlar a raiva. - Quando criança sempre caímos, mas sempre levantamos também, aprendemos com tombos idiotas a controlar onde e como fazer as coisas. Vamos apenas bater a poeira e tentar de novo. - um pequeno sorriso se formou em seus lábios, tentando de algum modo dar conforto a Liam.

- Mas e se... - seus olhos se encontraram e Theo não o deixou terminar, sabendo exatamente o que diria.

- Vai estar tudo bem, amanhã é outro dia e sempre tem como tentar de novo. Talvez de um jeito diferente, mas tem como. - Theo queria tanto o proteger, o fazer entender que não tinha nada de errado, mesmo com as suas explosões e os destroços. Ele apenas queria Liam bem.  - Fica de olho no bebê? Vou dar um jeitinho lá em baixo e pedir uma pizza para comermos, okay? - Theo procurou Cappuccino pelo quarto, o vendo roer o cesto de roupas como se sua vida dependesse disto.

- Brócolis com bacon? - pediu, fazendo o sorriso de Theo aumentar e este bagunçar seus cabelos antes de se levantar. - Theo? - o chamou quando Reaken estava quase saindo do quarto. - obrigado. - murmurou, seus lábios se curvando em um pequeno sorriso enquanto se enterrava mais no travesseiro.

How to Raise a Puppy 101 - ThiamOnde histórias criam vida. Descubra agora