Capítulo 63

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Vanessa Aguiar

Meu celular começa a tocar e eu sinto um arrepio na minha espinha, a última ligação foi horrível e por isso que eu respiro fundo antes de olhar na tela do meu celular quem é, mas felizmente é só a Laura. Eu surtaria com outra ligação da minha mãe, principalmente se ela tivesse a intenção de me falar mais coisas como aquelas, mas talvez fosse bom que lá falasse, porque eu realmente preciso saber o que aconteceu da Carol, eu espero que a minha irmã esteja viva e bem, não quero pensar no pior, mas a Eliza sempre me faz pensar no pior, talvez seja porque é o que ela tem para oferecer.

— Oi, você já foi menos distraída — Ela fala no momento em que atendo — onde você está?

— Eu estou em um bar que parece uma lanchonete, mas não sei se explicar como chega aqui — Respondo — por que eu sou distraída e o que tá fazendo aqui?

— Te mandei várias mensagens e você não respondeu, e eu vim ver vocês, como se eu não fizesse isso todo dia — Ela responde como se fosse óbvio e eu rio, até posso imaginar ela revirando os olhos — O Gota disse que ia fazer uma faxina e depois a gente conversava, eu nem sabia que esse homem era ligado em limpeza, mas achei bom.

— Amiga, quando você chegar aqui eu te conto melhor sobre o que é essa limpeza — Eu comento rindo. Tenho certeza que pensaria o mesmo se eu não tivesse visto o Elfo daquele jeito — Vou passar para a Manoela te explicar melhor.

Eu entrego o celular para a Manu e ela começa a explicar, sei que ela vai saber chegar aqui fácil porque ela está completamente familiarizada com o morro, ela aprendeu várias coisas antes do que eu que estou morando aqui já fazem semanas. Acho que é porque no começo eu agi como uma idiota, mas tudo bem, sempre é tempo de repensar as ações e melhor como pessoa.

Não é uma regra que vale para todo mundo, tem gente que eu já desisti como pessoa, e agora enxergo apenas como ocupantes de espaço de terra que não fazem diferença. Como meus pais ou minha prima maluca.

— Ela disse que tá aqui perto e que está vindo — Ela diz me entregando o celular — mas a melhor parte é ela dizendo que pensou em vir com uma roupa levinha para ajudar o Gota na limpeza, mas que repensou melhor e percebeu que nunca pegou em um cabo de vassoura.

— Duas patricinhas metidas — Ela provoca e eu rio.

— Eu não sou mais uma patricinha, ok? — me defendo e ela ri arqueando a sobrancelha — Eu já aprendi a lavar vasilha, a lavar a minha própria roupa e já sei até cozinhar algumas coisas, estou completamente mudada.

— Parabéns por aprender a fazer o mínimo para viver — Ela fala rindo e eu dou de ombros.

— Toda evolução, é uma evolução — Eu falo balançando os ombros — E tem mais, saiba que você também é uma patricinha, viu?

A Laura chega no meio da nossa discussão sobre os critérios utilizados para ser uma patricinha, já que a Manuela não consegue enxergar que é uma sozinha. E se junta a mim, contra a Manu, porque ela adora nos chamar assim. A conversa é divertida e me distrai um pouco.

Mas só um pouco mesmo, no fundo da minha mente ainda ficam ressoando todos os problemas, os repetindo como se estivessem sendo tocados por um disco arranhado em um som com o replay ativado, e eu não posso gritar comigo mesmo sobre isso.

Eu sei que estou cheia de problemas, sei que tenho uma vida para resolver, mas eu não posso deixar de aproveitar os momentos divertidos com meus amigos por causa disso. Ou será que estou sendo um monstro porque estou rindo enquanto a minha irmã pode estar morta?

— Você parece muito distraída, o que aconteceu? — a Laura pergunta e eu dou de ombros.

— Ainda não sei ao certo, mas quando eu souber te conto — Respondo com um sorriso pequeno.

Anatomia do Caos - MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora