Capítulo 70

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Vanessa Aguiar

Dia longo é uma descrição simples para o inferno que está sendo esse dia. As horas não passam, as notícias que chegam são as piores possíveis, mortos e feridos. E ainda não se sabe ao certo quem são essas pessoas, eu estou a ponto de tomar um remédio para esquecer tudo isso que está acontecendo.

— Acho que vou tomar um calmante também — Aviso pegando a cartela de remédios e tiro dois comprimidos de dentro.

— Tem certeza que vai tomar tudo isso? — A Manuela pergunta e eu olho para a Laura apagada no sofá.

— Tenho certeza — Respondo acenando.

— O que eu faço se alguma coisa acontecer? — Ela pergunta arqueando a sobrancelha.

— Joga água na gente — Respondo engolindo os comprimidos e deito no carpete mesmo.

— Que ideia horrível — Ela reclama e eu dou de ombros.

Fecho os olhos tentando esquecer a ansiedade que estou sentindo, eu não tenho ideia de que horas tudo isso acabará, mas eu só quero que acabe logo, é que acabe bem para o nosso lado.

Talvez seja um pouco egoísta mesmo o que estou fazendo, mas eu não aguento mais essa espera, notícias pela metade e nenhuma informação por alguém que a gente possa confiar.

Prefiro mesmo tentar dormir, porque pelo menos assim fica tudo esquecido e eu paro de me sentir tão mal e tão desesperada, que droga, que sentimento sufocante!

Sinto meus músculos relaxando e a sonolência aos poucos me atingindo, me sinto até menos mal por ter tomado a atitude de ingerir remédios para fugir da realidade. A realidade é uma droga de qualquer forma. Espero dormir e acordar só quando tiver acabado, quando o Elfo me ligar avisando que está tudo bem.

...

Sinto duas mãos nos meus ombros me sacudindo com força e acordo muito atordoada, a minha mente ainda está nublada e eu me sinto confusa, não sei o que está acontecendo e quase não lembro onde estou, preciso um segundo para colocar a minha mente no lugar.

Abro os olhos devagar e vejo a Manuela com uma expressão tensa e preocupada no rosto, e me lembro aos poucos onde estou, e porque estou aqui, e por um momento fico chateada por ter que acordar, mas talvez seja alguma informação útil.

— Você precisa acordar logo — A Manuela fala ainda me sacudindo — Eu disse para você não tomar essas porcarias de comprimidos.

— Calma! — Eu peço tentando afastar ela, essa afobação dela em cima de mim só está me deixando mais confusa — Só preciso de um minuto, só um minuto.

Ela se afasta com a expressão fechada e caminha até a Laura que ainda está dormindo e começa o mesmo processo de acordar a garota sacudindo, será que algo grave aconteceu?

Esse pensamento faz a minha mente soar um alerta em vermelho, com luzes piscantes e um grande aviso de perigo, o que pode ter acontecido? São tantas as possibilidades e eu não gosto de pensar em nenhuma delas.

— O que está acontecendo? — A Laura pergunta ao acordar assustada.

A Manuela para na nossa frente e estende um copo de água para cada uma e eu agradeço baixo, minha boca está realmente seca e eu realmente estava precisando disso, acabo bebendo toda a água de uma vez e deixando o copo sobre a mesa.

— Estou bem acordada agora — Eu falo enquanto alongo os braços. — O que aconteceu? Acabou a operação? Temos algum problema para resolver?

— A operação ainda não acabou, mas saiu uma notícia no grupo do morro que a troca de tiros está menos intensa e estão comentando que estão começando a limpeza do morro. — Ela explica e eu assinto, espero muito que eles estejam bem nesse momento — Mas está acontecendo uma coisa muito estranha aqui.

Anatomia do Caos - MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora