Capítulo 04

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Vanessa Aguiar

Meu coração está gelado, eu estou em completo pânico. As pessoas ao meu redor me deixaram completamente sozinha ali, eu acho que é fácil me entregar já que eu não sou daqui. Eu fico paralisada vendo um homem alto e forte vindo na minha direção com uma pistola apontada para a minha cara e eu não posso surtar, preciso de todo o meu autocontrole, preciso ter certeza ao falar, mas pensar isso é fácil, fazer é que é complicado, principalmente porque estou com medo que a minha voz nem saia pela garganta.

— Onde está o Elfo, vadia? — Ele grita encostando a arma na minha testa e eu começo a pensar em como vou escapar dessa situação, mas minha mente parece estar entrando em pani, tudo travando.

— Eu não sei, não sou daqui é a minha primeira vez nesse lugar — Respondo rápido e ele me olha de cima embaixo, ele parece desconfiado e eu fico ainda mais nervosa, como posso provar isso?

— Mas foi vista com o Elfo, é a puta dele? — O homem pergunta segurando o meu rosto, apertando de um jeito que está me machucando, eu vou ficar roxa e o meu pai vai ter um ataque.

— Não, eu não o conheço — Respondo do jeito que consigo, minha mente está buscando uma solução, mas nada funciona — Foi só uma coincidência, eu vim apenas porque queria conhecer o baile, foi aleatório.

— A gente pode ir embora? — O garoto que me entregou pergunta, atraindo a atenção do homem que está me segurando, nisso um dos dois que está com ele fala algo muito baixo que eu não consigo compreender, até porque parece que eles usam códigos para falar, espero que ele não esteja falando para matar todos.

Ele fica em silêncio um pouco e me empurra no chão, e dispara. Eu juro que vou morrer, mas o disparo passa muito perto de mim e nem mesmo me arranha, mas ainda assim me sinto completamente atordoada e assustada.

— Se mandem daqui, vocês tem quinze segundos para sumir da minha frente — Ele avisa e todos se colocam a correr e ele me olha com descaso — Se não correr, paty, o próximo disparo é em você.

E mesmo sentindo como se as minhas pernas fossem de gelatina, me levanto e corro, não sei onde estou e nem para onde estou indo e muito menos o que fazer. Tudo está trancado e eu posso ouvir o barulho dos tiros, a situação é mais do que ruim, é péssima e eu ainda tenho que me virar sozinha aqui.

Eu só quero um lugar para eu me esconder e ligar para a Laura para saber se ela está bem, só torço para que o Gota tenha realmente protegido ela e que ela esteja segura.

Eu vejo um espaço embaixo de uma escada e me escondo nele mesmo. Só preciso ficar invisível o suficiente para não ser notada, espero que ninguém passe por aqui. Tiro meu celular da bolsa e o coloco no silencioso e tiro o máximo de claridade possível e me preocupo ao não ver nenhuma mensagem da Laura, mas é só quando eu tento mandar uma mensagem que vejo que o meu celular está sem sinal.

Essa noite só piora.

Escuto passos e me encolho, é uma merda estar na rua dessa forma, mas o que mais eu poderia fazer? Será que se eu tivesse batido em alguma porta, eu teria conseguido abrigo? Eu realmente estou em uma péssima situação. Fico atenta aos passos, porque preciso saber o que fazer, felizmente nesse momento estou grata pelo meu pai ser delegado e ter me ensinado algumas coisas sobre autodefesa e como usar uma arma, mas não quero ter que usar nada, espero nunca mais ter que sair do meu conforto, nunca mais ter que sair do meu ciclo.

Escuto vozes alteradas, acho que está tendo uma briga corporal, e eu acho que eu já ouvi essas vozes hoje, um arrepio percorre o meu corpo e eu estremeço, que droga! Estou com uma sensação muito ruim.

Algumas emoções nos levam ao extremo e nos fazem agir sem pensar antes, é natural e pode acontecer com qualquer pessoa, principalmente quando estamos sob pressão. E estar no morro no meio de uma invasão, sem o mínimo de abrigo é com certeza uma dessas situações, mas tudo é elevado a um grau extremamente alto quando eu vejo o corpo do Elfo caindo muito perto de onde estou.

E tudo parece um borrão de sensações e eu sequer sei porque estou movendo meu corpo dessa forma, mas a arma cai ao meu pé, escuto uma risada e sei exatamente de onde a voz está vindo, obrigada pai por todo o treinamento, mas sinto que estou usando de maneira errada. Pego a arma e me jogo no chão, e apesar da baixa claridade consigo disparar, não acerto um ponto vital, mas o suficiente para que o outro derrube a arma.

Que merda estou fazendo me envolvendo dessa maneira? Estou completamente fudida.

— Sua vagabunda! Eu deveria ter te matado — O homem grita, mas eu não presto muita atenção, apenas corro para pegar a arma no chão.

— Ainda bem que não matou — Falo ao pegar a arma dele também, estou sendo movida pela pura adrenalina.

— Eu ainda acreditei quando disse que não tinha nada com ele — Ele diz e eu dou de ombros enquanto caminho para perto do Elfo, que está com o braço ferido também.

Mas eu realmente não tenho nada com o Elfo, não sei porque estou fazendo tudo isso, mas definitivamente não vou refletir demais sobre isso agora, vou deixar para depois, quando a adrenalina passar e a ficha do que eu estou fazendo cair.

— Me dá a minha arma — O Elfo pede e eu entrego. Eu sei que ele está com dor por causa da voz dele, mas está mantendo-se firme, nunca levei um tiro e quero continuar assim.

— Precisou da sua vadia para se defender, você é uma vergonha — O homem fala rindo com escárnio.

— Estou sem tempo para você, Drogo, e você vai morrer aqui — Elfo falou ficando de pé e eu fico um pouco atrás dele, meu batimento cardíaco está acelerado, e eu acho que enlouqueci.

— Ainda não — O tal do Drogo fala rindo e surgem alguns homens logo atrás dele, mas atrás do Elfo também.

Eu vou morrer aqui, vou, eu sei que vou! Tento manter a respiração calma, mas parece impossível para mim, eu deveria ter ficado quieta no meu lugar, mas fui bancar a heroína de bandido, eu to muito muito ferrada. Se eles começarem a trocar tiros... Eu vou... Calma, Vanessa, se controle mulher.

— É melhor vocês irem embora — Escuto a voz do Gota, ele ainda coloca a mão no meu ombro, me colocando mais para trás ainda. Eu nem tinha visto ele chegar aqui, onde será que a Laura está?

— Está com medo? — Drogo debocha e eu só torço para que essa pequena trégua aconteça para que não haja um novo tiroteio, e eu sei que isso está acontecendo porque todo mundo está na mira.

— Estou sendo paciente, sabe que está em desvantagem aqui — O Elfo fala com raiva — Não vai ter mais nenhuma chance, ou sai agora ou se prepara para morrer.

Eles se encaram em silêncio, eu estou tão tensa que só saio do transe quando sinto alguém segurando no meu braço e puxando dali. Eu me assusto, mas logo acompanho o homem alto e com braços mais grossos que o meu corpo, me afastando devagar, o homem que está me levando pega a arma da minha mão e entrega para uma garota que fica para trás. eu não sei o que está acontecendo, apenas vou seguindo o ritmo. E não consigo mais escutar as vozes, acho que a adrenalina está se diluindo junto com  a minha pressão. Acho que eu vou desmaiar.

— Ei, ei, caminha patricinha, você tem que caminhar — Escuto o homem que está me guiando falando.

— Eu não me sinto bem — Falo baixo, precisando parar um pouco — Acho que vou desmaiar.

— Não, o chefe mandou te tirar daqui, vamos embora nem que eu tenha que te carregar — Ele fala firme e eu aceno, mas ando muito devagar — Vai no colo mesmo.

Ele me pega no colo no momento em que tenho uma vertigem, até agradeço mentalmente ou eu teria caído bem ali. Estou no colo de um estranho que está me tirando do meio de um possível território de guerra. Pensando bem, acho que eu já posso morrer.

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Oie, espero que tenham gostado do capítulo ❤️

Meu insta: @ thainarro

Beijinhos, e até o próximo capítulo ❤️

Anatomia do Caos - MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora