Capítulo 77

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Vanessa Aguiar

Nos afastamos deles em silêncio, andando lado a lado, minha cabeça está cheia de perguntas, mas prefiro esperar para falar quando estivermos sozinhas, ou pelo menos longe deles. Odeio ela? Sim, Beatriz me fez passar um inferno por causa de fofoca? Também, mas ainda não quero que ela tenha problemas aqui.

— Eu preciso muito falar com você — Ela diz baixo e eu olho para ela completamente desconfiada.

— Estamos quase chegando, vamos conversar melhor quando estivermos lá — Respondo.

Agradeço ao universo quando a gente chega em frente a casa do Elfo, quanto mais rápido nós conversarmos, mas rápido ela vai embora e isso acaba. Está completamente desconfortável, é estranho.

Entramos em casa e eu respiro antes de olhar para ela, eu realmente preciso manter a calma. Tenho quase certeza que essa não vai ser uma conversa boa e nem amigável.

— O que você veio fazer aqui? — Pergunto impaciente, mesmo que eu tente muito não consigo supor nada — Veio até aqui para me tirar a paciência?

— Acha mesmo que eu me prestaria a esse papel? Subir o morro para brigar? Ninguém precisa debochar de você porque sua vida já está decadente — Ela fala um pouco irritada. — Vim fazer isso é como chutar cachorro morto.

— Você é completamente absurda, sabia?

— Qual é? Olha essa casa, esse lugar, nada se compara com a vida que você vivia... — Ela fala e faz uma pausa que me deixa intrigada — Pelo menos financeiramente.

— Está tudo bem aqui? — Escuto a voz da Manuela da porta. Ela tem uma expressão fechada, quase como se estivesse irritada.

— Tá sim — Respondo contrariada — Só uma visita familiar.

— A gente precisa conversar em particular — A Beatriz fala e eu olho para a Manu em um pedido silencioso.

— Eu vou para o meu quarto, mas qualquer coisa é só gritar — Ela diz e começa a subir as escadas. E a gente espera até que ela suma de vista para continuar a conversa.

— Vai direto ao ponto porque eu não tenho paciência para você — Declaro firme olhando para a Beatriz. Eu só quero que essa conversa aconteça logo para ela ir embora e sumir da minha frente, por mim, ela nem estaria aqui.

— Ok, mas você sabe que eu não menti sobre isso, nem sua pele e seu cabelo estão iguais — Ela fala e eu bufo impaciente. Ela fecha os olhos e respira fundo soltando o ar devagar para continuar falando — mas indo direto ao ponto, há uns dois dias teve um evento na casa dos seus pais, e eu fui lá, eu tava muito curiosa sobre seu sumiço. Tipo, por que você trocaria aquela vida por isso aqui? Essa pobreza toda daqui me causa calafrios.

— Foco, Beatriz, foco — Eu peço, sentindo uma enorme vontade de revirar os olhos e ela assente.

— A questão é que eu também tentei entrar no quarto da Carol — Ela confessa e eu sinto um misto de apreensão e medo — A porta tava trancada, mas eu escutei, eu juro que escutei, alguém lá dentro pedindo socorro. A minha mãe acha que eu enlouqueci e que eu não deveria falar disso com ninguém, mas eu sei que tinha alguém lá e eu acho que era a Carol, faz muito tempo que ela foi embora, mas eu ainda tenho uma lembrança dela.

— Você tem certeza? — Pergunto nervosa sentindo meu coração acelerar, eu tenho certeza que a situação dela é péssima, mas pelo menos está viva. — Conseguiu falar alguma coisa com ela? Qualquer coisa.

— Eu não sei se era ela mesmo, eu tô aparadora, sequer quero voltar naquela casa — Ela diz respirando fundo — Eu sabia que eles eram rígidos e que às vezes castigava vocês, mas... mas o tom de voz da Carol me fez lembrar de filme de terror, e se não for a Carol presa lá, tudo parece ainda pior. Se bem que, o que seria pior do que fazer algo assim com a própria filha?

Anatomia do Caos - MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora