Capítulo 17 - Encontro de escorpiões - Parte I

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"Monstros são reais e fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem." - Stephen King



No calor do momento, qualquer mero indício de fumaça toma as proporções de um terrível incêndio. Digerir uma má notícia, muitas vezes exige paciência e frieza. É como sorver gole por gole de uma bebida até chegar ao seu limite e não ter mais capacidade para ingerir. É por vezes, submeter-se a escutar trilhas amargas até por fim, chegar o momento daquela música que nos faz vibrar e consequentemente aumentar o som.

Lena caminhava pela imensa floresta de pensamentos na qual sua mente se encontrava naquele instante. Era um misto de sensações. Havia angustia, medo e muita raiva, especialmente ao constatar que ter um minuto de paz em sua vida era uma missão praticamente impossível. 

O sabor pungente da notícia desagradável ainda lhe embrulhava o estômago, e pela primeira vez em toda sua vida, ela se sentiu perdida. Perdida, porque diferentemente da ocasião em que seu relacionamento com Kara fora ameaçado pela omissão de um segredo, essa situação era completamente diferente. Era um lance totalmente novo, no qual a vida da pessoa mais importante de sua vida poderia estar por um triz.

Na espécie humana, mutações sempre deveriam ser observadas com muita cautela. Afinal, toda ação intracelular provocaria reações, que poderiam ser benéficas, como aquelas que favorecem o processo de evolução das espécies, neutras ou ainda prejudiciais, podendo levar ao desenvolvimento de anomalias e doenças graves e em alguns casos, a morte. Todavia, a grande questão era: Kara Danvers não era humana. Seu genoma e biologia não apresentavam padrões de comportamento como os que eram observados nos organismos da espécie Homo sapiens.

Nesse caso, havia uma realidade irrefutável: o corpo de Kara estava se transformando a uma velocidade alarmante. A cada segundo que passava, as novas células, batizadas por Alex de CTX19 consumiam uma a uma as células kryptonianas de seu genoma. 

Tais alterações explicavam toda a série de transformações e mudanças as quais Kara vinha sofrendo em seus poderes nos últimos meses, desde os episódios com a perda da visão, até o colapso de horas atrás. Era muita coisa para ser absorvida em tão pouco tempo. Era necessário agir depressa e sobretudo pensar de maneira analítica e abandonar conceitos e pressuposições antigas.

Já passava da alta madrugada, quando a lua se despedia da cidade. Naquele momento, Lena sentia-se demasiadamente cansada e ter que lidar com questões tão complexas em um espaço tão curto de tempo, não havia lhe feito nada bem. Uma dolorosa pontada na cabeça era o aviso de que uma longa enxaqueca estaria por vir. Para ela aquela dor aborrecida era sinal de que seu senso crítico estaria desnorteado pela angustia do momento.

Era uma dor intrigante, capaz de confundir os seus sentidos e naquele instante apenas um pensamento rodeava sua mente: Silêncio. Lena Luthor precisava do mais profundo silêncio para poder encontrar novos caminhos. Engana-se quem acha que ficar em silêncio refere-se apenas ao ato de ficar calado, de não pronunciar absolutamente nada. Ouvir o que o silêncio tem a dizer é para poucos, apenas para aqueles que conseguem enxergar de fato o que é essencial.

Certamente, se Lena pudesse fazer um pedido naquela ocasião, com toda certeza seria para que o mundo fosse desligado e ela pudesse adormecer profundamente, até despertar e constatar que tudo não havia passado de um sonho desagradável. No entanto, seu desejo intimo por uma fuga da realidade, teria que ficar para depois. 

Ela precisava encontrar soluções rápidas e se preciso fosse, estaria disposta até mesmo a engolir o orgulho e pedir ajuda a uma das pessoas que mais desprezava na vida, sua mãe, Lillian Luthor, que estava presa há alguns meses devido as operações criminosas com o projeto Cadmus.

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